A saída de Luís Castro do Botafogo parece iminente. No empate por 1 a 1 de ontem (29), contra o Magallanes, pela Sul-Americana, o clima já era de despedida. Mas não das mais saudáveis. Boa parte da torcida mandou o treinador plantar caju em alto e bom som. Raiva que ganhou força, principalmente, após o GE publicar que o português topou assumir o Al-Nassr, da Arábia Saudita, e comunicaria a diretoria em breve.
Nem mesmo o fato de deixar o clube na liderança do Brasileirão, classificado na Sul-Americana e em um momento protagonista como há muito não vivia ajudou Luís Castro a escapar da ira botafoguense. Porque assim funciona nosso futebol.
Essa coluna já abordou, algumas vezes, como a principal atividade esportiva do país é movida pela raiva. O último texto, aliás, é exatamente sobre isso. Entendo a insatisfação da torcida do Botafogo, mas há realmente a necessidade de tratar dessa forma alguém que foi tão importante para o clube nos últimos meses?
É válido lembrar que até ganhar os louros do bom trabalho, Luís Castro resistiu a uma pressão absurda, inclusive da própria torcida do Botafogo. John Textor – esse, sim, com bons argumentos para estar chateado – bancou o técnico e agora estamos vendo o resultado. O torcedor que hoje lamenta a iminente saída de Castro é o mesmo que já teria o chutado há alguns meses.
E vamos lá. Se o botafoguense se sente à vontade para ofendê-lo dessa forma, mesmo com o time vindo de uma vitória enorme contra o Palmeiras pelo Brasileirão, o que nos faz acreditar que ele não agiria da mesma maneira, ou até pior, se o time emplacasse uma sequência ruim no futuro?
O professor português poderia virar vítima do próprio sucesso. Ou alguém apostava em um Botafogo líder e soberano no Brasileirão? Diante de tantos absurdos que vemos no futebol brasileiro, não seria nada surpreendente ver a idolatria de outrora se transformando em ameaças e cobranças.
Hoje, infelizmente, a verdade é uma só: o ambiente do nosso futebol não é atraente. É preciso muita convicção – e até uma certa dose de loucura – para recusar um centro trilionário e agora cheio de estrelas para permanecer nesse lugar insano. E quando nossos principais nomes nos abandonam, nos voltamos contra eles. Mas o que temos feito para tentar convencê-los do contrário?
A torcida do Botafogo respondeu a essa pergunta nesta quinta-feira. Diante da possível perda de alguém que ela, até então, adorava, o amor virou ódio. Algo com o qual estamos cada vez mais acostumados.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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