O futebol brasileiro tem como uma das suas marcas alguns modismos que ditam o rumo durante certos períodos. Por exemplo, se um time se sobressai apostando em um técnico oriundo das categorias de base, outros passam a fazer o mesmo. Se um técnico estrangeiro chega ao país e supera os demais, outros certamente desembarcarão no país, e assim por diante…
Em 2009, uma formação tática foi predominante do norte ao sul do país: o 4-3-1-2. Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Internacional foram algumas das equipes que utilizaram esse sistema de jogo durante a longínqua temporada. Enquanto Corinthians e Flamengo levaram, respectivamente, a Copa do Brasil e o Brasileirão daquele ano, Cruzeiro e Inter se classificaram à Libertadores seguinte.
E no Atlético-MG não foi diferente. Naquele ano, o Galo começou atuando em um 3-5-2, mas logo recorreu ao 4-3-1-2, com um tripé de volantes dando segurança a Ricardinho, camisa 10 daquele time e hoje comentarista, e Tardelli e Eder Luís (ou Rentería) formando a dupla de ataque.
Mas com o passar dos anos, tal formatação tática foi se dizimando. É difícil achar uma explicação concreta para isso, mas o congestionamento no meio campo característico do futebol atual pode ser uma das explicações. Para fugir deste cerco, é necessário abrir o jogo, utilizar as pontas, e o 4-3-1-2 pouco lhe oferece esta oportunidade.
Porém, na vitória de ontem contra o São Paulo pelo Brasileirão, o Atlético recorreu a este sistema de jogo. A ausência de Savarino e a pouca confiança oferecida por seus potenciais substitutos certamente foram fatores para que Cuca montasse um quarteto no meio campo e apostasse em Keno e Hulk como dupla de ataque.
Na prática, Allan era o homem mais fixado frente à defesa, com Jair atuando pela direita, Nacho pela esquerda e Hyoran à frente dos três. Mas para bater um forte rival como o São Paulo, o Galo teria que fazer suas peças se movimentarem, e assim o fez. No gol, por exemplo, Hulk sai da referência, arranca desde o meio campo, serve Hyoran – caindo pela direita – que cruza para Jair, o homem a explorar o espaço deixado por Hulk. Movimentação e criatividade para abrir a defesa adversária.
Após o gol, Cuca baixou o ritmo ofensivo da sua equipe e deu a bola ao São Paulo, cenário em que o Atlético-MG se sai melhor. Os comandados de Hernán Crespo até tiveram a posse durante boa parte do tempo, mas pouco ameaçaram a meta de Everson. O segundo tempo foi mais arrastado do que jogado.
Mas para o Atlético, pouco importa. A partida de ontem era o principal teste da temporada até aqui, e o Galo o superou com relativa autoridade. Goste-se ou não dos métodos de trabalho de Cuca, ele nunca poderá ser criticado por não tentar o diferente. E na tarde deste domingo, isso ficou comprovado. Para vencer seu principal desafio de 2021, o treinador atleticano não se constrangeu em voltar doze anos no tempo.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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