O empresário e bacharel em direito Reinaldo Lacerda (49 anos) ocupa o cargo de vereador pelo segundo mandato consecutivo. Atualmente, é filiado ao PSDB. Lacerda faz questão de autodefinir-se independente, apesar de participar do G10 – grupo de vereadores que normalmente adotam uma postura oposicionista. “Aquilo que for bom para a população, eu votarei favorável. E, aquilo que não for benéfico para a população, eu votarei contrário”, justifica o político.
O tucano é um defensor enfático do governo de coalizão, o aparente fator da discórdia no relacionamento entre o governo municipal e o Legislativo: “a política da coalizão é importante porque permite que o vereador faça um trabalho em conjunto (com Executivo) em benefício da cidade”, esclarece. O secretário de Governo Márcio Magno Passos – atualmente afastado para tratamento de saúde – afirmou, em entrevista à DeFato, que “tem vereador aí que mais parece um saco sem fundo”. Confrontado com essa crítica, Reinaldo Lacerda foi enfático: “essa carapuça não serviu para mim”. Confira a entrevista completa.
DeFato: O governo Marco Antônio Lage completou oito meses. Em tão pouco tempo, o relacionamento entre a Prefeitura e a Câmara é de tensão permanente. A que o senhor atribui esse cenário precoce de acirramento entre as instituições?
Reinaldo Soares Lacerda: Hoje, nós temos a interação entre os três poderes: Legislativo, Executivo e o Judiciário. E a harmonia entre esses poderes é importante para o fortalecimento da democracia. Eu, Reinaldo Lacerda, vejo nesse G10, um voto muito independente. E, no governo de Marco Antônio Lage, por exemplo, nós já aprovamos mais de vinte projetos favoráveis ao governo. Algumas decisões legislativas não agradaram ao Executivo, mas isso é o parlamento, é a democracia. E todo projeto que for encaminhado para essa casa, independente de G10, G11, ou sei lá, eu votarei de acordo com a minha consciência. Aquilo que for bom para a população, eu votarei favorável. E aquilo que não for benéfico para a população, eu votarei contrário.
DeFato: Na verdade, o senhor se define mais como independente do que praticamente oposicionista?
Reinado Lacerda: Corretamente, sou mais independente do que oposicionista. Eu me defino mais como independente do que oposicionista. É claro que algumas ações (implementadas na cidade), que forem na contramão daquilo em que acredito, que forem na contramão da população, eu vou me posicionar contrário, pode ter certeza disso.
DeFato: No início dos trabalhos do Legislativo, os vereadores concordaram em implantar o Orçamento Impositivo, num primeiro momento. Depois, em curto espaço de tempo, mudaram de ideia e abriram mão da proposta. Por que essa alteração de posicionamento? Qual foi o argumento da Prefeitura para que os senhores desistissem do Orçamento Impositivo?
Reinaldo Lacerda: Eu sempre fui favorável ao Orçamento Impositivo. Tanto que, na gestão passada (2017/2020), no mandato do outro prefeito (Ronaldo Magalhães), eu votei favorável à emenda impositiva. Na época, apenas eu e Vetão (Weverton Andrade- atual presidente da Câmara), que era oposição, votamos favorável (ao Orçamento Impositivo). E eu era situacionista. No atual mandato, um vereador propôs a volta da discussão sobre a emenda impositiva, colheu assinaturas, mas isso (assinar o requerimento) não significa que eu votaria favorável ou não. Mas, no dia da votação, todo mundo votou contra. E eu, para não ser incoerente, me abstive. Mas se tivessem votos suficientes para a aprovação, eu teria votado favoravelmente (à implantação do Orçamento Impositivo).
DeFato: Mas, essa mudança de posicionamento dos vereadores foi por conta de alguma conversa, algum acordo com o Executivo?
Reinaldo Lacerda: Eu acredito que se houver um bom relacionamento entre os poderes Executivo e Legislativo, isso resultará em mais benefícios para a população do que uma emenda de 400 mil reais. Veja bem. Se o vereador tem uma tratativa boa com o Executivo e ele (o vereador) quer fazer uma LOA ou comprar uma ambulância, mas a prioridade do prefeito é um notebook, por exemplo, é só conversar com o vereador (para se chegar a um consenso). Ninguém está aqui para atrapalhar o governo. Eu acredito que deva existir uma boa tratativa, um respeito entre o poder Executivo e o Legislativo, indiferente de uma emenda impositiva. Então, eu acho que se deve prevalecer a harmonia (entre os poderes), que é o mais importante.
DeFato: Em entrevista à DeFato – logo depois da rejeição da autorização para o empréstimo de 70 milhões, junto à Caixa Econômica Federal – o secretário de Governo – Márcio Magno Passos – afirmou que tem vereador, aqui na Câmara de Itabira, que é um verdadeiro saco sem fundo. Como o senhor recebeu essa crítica?
Reinaldo Lacerda: Na realidade, eu digo que Márcio Passos foi infeliz na sua fala. Até porque, a harmonia entre os dois poderes é muito importante. O poder Executivo não pode desrespeitar o poder Legislativo e nem o Legislativo pode desrespeitar o Executivo. A política de coalizão (constante negociação entre os dois poderes) é importante, pois ela permite a autonomia para o vereador fazer um trabalho em conjunto (com o Executivo), em benefício da cidade. A Prefeitura precisa atender às demandas da nossa região. Vou dar um exemplo: nas eleições de 2016, eu não apoiei o candidato Ronaldo Magalhães, mas nem por isso fiz oposição ao governo dele. Mas, lá atrás, eu fiz um pedido para que ele (Ronaldo Magalhães) construísse a Avenida Integração. Eu disse na época: Ronaldo, se você não tem a intenção de fazer a Avenida Integração, você segue sua vida e eu sigo a minha (vida). Mas o ex-prefeito sempre cumpriu o que me prometeu. A avenida liga dois grandes bairros de Itabira. E assim funciona a coalizão, com o Executivo atendendo às demandas da cidade. Quem está na ponta é o vereador. Nós somos a voz da população. E a população bate na minha porta. Eu tenho um gabinete, na minha casa, onde recebo, quase todos os dias, de seis a oito pessoas. E faço isso com muita satisfação, pois eu me propus ser um vereador da população.
DeFato: E o que senhor entende por saco sem fundo?
Reinaldo Lacerda: Boa pergunta. Ele (Márcio Passos) falou isso e ele deveria explicar o que é isso. Eu sempre fui um vereador muito independente. Graças a Deus, não dependo da política (para sobreviver), mas faço a política com muito prazer. Eu falo que a política é uma ferramenta de transformação. A política é uma ferramenta do diálogo, da busca pelo entendimento e da procura do melhor para a cidade. Então, não sei o que é um saco sem fundo. A carapuça não serviu para mim. Sempre conduzi os meus mandatos com muita transparência, muita ética e seriedade. E vamos continuar cobrando e fiscalizando. Fui da base do governo anterior e nem sempre fui voto favorável a Ronaldo Magalhães. Mas nem por isso eu briguei com o prefeito, e ele jamais me desrespeitou. Isso é democracia.
DeFato: Mas, ao que parece, o atual governo tem uma proposta de acabar com o sistema de coalizão, em Itabira. Isso significaria um ponto final no tradicional toma-lá-dá-cá, um genuíno produto da política brasileira. Diante disso, eu lhe pergunto: esse G10 tem alguma consistência ideológica ou o grupo seria dissolvido com a retomada do governo de coalizão?
Reinaldo Lacerda: Eu sempre fui um vereador coerente nas minhas votações e sensato nas minhas posturas. Eu acredito que todos os vereadores votam com consciência. Quanto ao G10, que eu chamo de grupo da governabilidade, aumentar ou diminuir (o seu tamanho) é normal. Chegou a essa Casa o pedido para a autorização do empréstimo (junto à Caixa Econômica) e a maioria entendeu que não era hora para aprovar o projeto. Isso é normal, gente! Lá na frente, pode ser que esse entendimento tenha uma mudança. Agora, independente de G10, eu sempre voto de acordo com a minha consciência. Se for algo de interesse da cidade, eu sempre votarei favoravelmente. Agora, quanto ao governo de coalização, eu não estaria pedindo nada para mim, mas para a população, de quem sou porta-voz. Eu sou a ponte entre o poder Executivo e a população.
DeFato: Especula-se muito, há vários dias, que o G10 estaria na iminência de se transformar em G11. Um insatisfeito vereador da base governista estaria preparando o seu desembarque na oposição. Essa especulação tem algum fundamento?
Reinaldo Lacerda: Não, não tenho conhecimento dessa situação. Essa Câmara, muito participativa, é composta por vereadores de muito boa formação. E é claro que o vereador sempre vai se posicionar. Eu acho que se o governo entender que precisa do poder Legislativo, dessa harmonia entre os poderes, tudo pode dar certo. Então, se não tiver essa harmonia, aí fica difícil e outros poderão vir (para o G10). Então, para mim, tudo isso depende da harmonia.