Conceição do Mato Dentro vive uma nova realidade financeira depois que a Anglo American retomou por completo a produção do Sistema Minas-Rio. O município registra arrecadações recordes com a Compensação Financeira por Exploração de Recursos Minerais (Cfem) e já recebeu, em quatro meses de 2019, mais do que todo o montante de royalties movimentado no ano passado.
As atividades da Anglo American foram suspensas após dois vazamentos no mineroduto registrados em março de 2018, no município mineiro de Santo Antônio do Grama. Em abril, a empresa anunciou que paralisaria a produção do Minas-Rio até que todo o sistema de transporte de minério fosse revisado e considerado seguro. A decisão afetou diretamente a economia de Conceição do Mato Dentro, sede da Mina do Sapo, onde a multinacional extrai o minério de ferro que é levado até o Porto de Açu, no estado do Rio de Janeiro.
Sem a produção mineral, os royalties pagos a Conceição do Mato Dentro começaram a cair até serem completamente zerados em julho do ano passado. Nos sete meses, as operações da Anglo American geraram R$ 32,4 milhões de Cfem, uma média de R$ 4,6 milhões por mês.
As atividades da mineradora só foram retomadas ao fim de dezembro. Como o cálculo da Cfem só é feito dois meses após o período verificado, a compensação voltou a engordar os cofres da prefeitura conceicionense em março. Desde então, já são R$ 60,25 milhões gerados de royalties. Desse total, 60% ficam para o município, algo em torno de R$ 36,15 milhões. Os valores são destinados às cidades no mês posterior à confirmação da arrecadação total.
“A paralisação da Anglo resultou em um impacto muito grande na economia do município e na vida da cidade. A retomada das atividades, no fim do ano passado, trouxe de volta a normalidade às rotinas do município”, avalia o prefeito José Fernando Aparecido de Oliveira.
Em alta
Desde que Conceição do Mato Dentro passou a receber Cfem por causa da extração de minério de ferro, 2019 é o ano em que o dinheiro é mais polpudo no município de 18 mil habitantes. A média é de R$ 15 milhões por mês gerados na produção da Mina do Sapo.
Antes, o ano em que a cidade mais arrecadou com os royalties da mineração foi em 2017, quando foram gerados R$ 64,6 milhões de janeiro a dezembro. O aumento da capacidade produtiva da Anglo American e a nova base de cálculo da Cfem, que passou de 2% do faturamento bruto para 3,5% do faturamento líquido das empresas, fizeram as cifras ganharem novas projeções.
Diversificação
A tendência nos próximos anos é que Conceição do Mato Dentro receba ainda mais dinheiro da Cfem. A Anglo American prepara a terceira fase do Minas-Rio e planeja chegar à capacidade produtiva plena de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro ainda em 2020. Além disso, a Vale dá continuidade aos estudos para exploração na Serra da Serpentina, projeto grandioso, tido como um dos maiores da empresa em Minas Gerais.
Apesar das cifras que se avizinham, o prefeito José Fernando diz que sua missão é justamente tornar o município independente da mineração. “É um processo extremamente necessário, uma vez que nós sabemos que a mineração é finita. Nós temos que pensar em todo ciclo da mineração, não só no fim. Já no início é preciso começar a discutir e a implantar políticas de diversificação econômica”, comentou o chefe do Executivo.
O prefeito avalia que Conceição do Mato Dentro irá conviver com a mineração por mais 50 ou 70 anos, tempo suficiente para que o dinheiro proveniente da atividade fortaleça os demais setores do município.
“O turismo é o grande instrumento de sustentação da economia de Conceição. Foi no passado e estamos trabalhando para que seja no presente e no futuro. Sem falar nos investimentos em educação. Nossa meta é fazer de Conceição do Mato Dentro um polo regional em educação, a exemplo do que Itabira está fazendo com a Unifei. Nós estamos trazendo a Universidade Federal de Viçosa. Temos que trabalhar a diversificação econômica em todos os seus aspectos, para gerar emprego e renda e distribuir as atividades. Hoje nós nos sentimos muito mínerodependentes”, conclui José Fernando.