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Romeu Zema faz uma aposta de alto risco

Zema comemora vitória de Milei na Argentina: "consertar o que a esquerda fez"

Foto: Gustavo Linhares/DeFato

Dois pontos básicos necessitam observação crítica num processo eleitoral: o imponderável e o limite do erro. O imponderável mora na casa do inusitado. É aquele acontecimento súbito e imprevisível, uma ocorrência independente da vontade dos atores da competição. Trata-se de um flash. Às vezes, imperceptível até para mentores intelectuais de uma campanha (os tais marqueteiros). Enfim, é a visita do inesperado.

 

 A facada de Adélio Bispo em Jair Bolsonaro é um exemplo clássico desse fenômeno. O evento trágico praticamente definiu a eleição de 2018. As circunstâncias anteriores ao atentado comprovam essa conclusão. Bolsonaro teve um desempenho pífio nos poucos debates em que compareceu. Levou uma icônica enquadrada de Marina Silva, no encontro da Rede TV. 

Depois do atentado, o capitão não apareceu em nenhuma outra atração televisiva. Os adversários evitaram atacá-lo ostensivamente. Até mesmo para que a vítima não se transformasse em mártir – um milagre extremamente fácil para um Messias. E tem outro aspecto relevante: o programa eleitoral do “Mito” tinha míseros segundos. Ele mal conseguia balbuciar suas propostas de Governo. 

Depois do ataque do Bispo, o sacerdote do baixo clero virou figurinha fácil em todos os canais. Jair aparecia diuturnamente nas telinhas país afora. O morador do condomínio “Vivendas da Barra” teve intensa e espontânea exposição nas mais diversas mídias. A imagem dramática varreu os quatro cantos do bananal: o homem, pálido e descabelado, prostrado numa cama do Albert Einstein, em São Paulo. O “ilustre” paciente fez um excelente marketing dentro do hospital. E, como se nota, o imponderável ganhou intricada eleição. 

E, agora, entra nessa conversa uma das principais causas de grandes derrotas: o erro estratégico. Nesse aspecto, o fracasso é fruto da imprevidência (ou incompetência) humana. Abrem-se, aqui, as cortinas do atual processo. Ajuste bem o foco para Minas Gerais. 

A polarização ideológica tupiniquim reflete nas montanhas daqui. As mais recentes pesquisas apresentam uma vantagem média de 20% para o atual frequentador da “Cidade Administrativa”. Uma diferença bastante confortável. Alexandre Kalil continua na segunda posição.  

Zema apoiou incondicionalmente o Governo Federal, nos últimos três anos. Imaginava-se, então, o óbvio ululante: o chefe do Executivo mineiro faria dobradinha com o chefe do Executivo nacional. Mesmo porque, Kalil compôs com Lula da Silva. Mas o improvável deu as caras na paisagem: o governador esnobou Jair e optou por fazer carreira solo. Essa escolha é muito arriscada. A atitude do mandarim mineiro provocou uma consequência imediata: sem alternativa, o “Mito” aliou-se ao senador Carlos Viana, o único palanque que restou para o presidente, em Minas.  

Uma situação prática parece muito nítida: abraçado a Bolsonaro, Viana tem uma tendência de crescimento nas próximas sondagens de opinião. E vem aqui a pergunta que, de tão natural, insiste não calar: de onde migrarão os votos para o ex- jornalista da rádio Itatiaia? Da dupla Kalil/Lula é pouco provável. O mais crível é uma avaria no curral de Romeu. Com isso, a terceira via caipira tem alguma chance de prosperar.  

Esse novo cenário praticamente impediria a vitória do atual governador no primeiro turno. Uma percepção histórica escancara o risco da estratégia de Zema. O eleitorado mineiro é implacável com os favoritos que não liquidam a fatura no “tempo inicial” dos pleitos. Em 1994, Hélio Costa deixou de derrotar Eduardo Azeredo por uma diferença mínima de 2,5% dos votos, no primeiro turno. E, pior. Costa não suportou o tranco e naufragou na etapa derradeira.  Uma zebra monumental.  

Antonio Anastasia e Fernando Pimentel foram vítimas dessa maldição há quatro anos. Um dos dois tinha tudo para acabar com a partida em turno único, mas ambos vacilaram. E Zema foi o grande beneficiário dessa derrapada de tucanos e petistas. Na terra dos inconfidentes é assim: ou o favorito resolve o confronto no primeiro turno, ou termina com a corda de Tiradentes no pescoço. A conferir daqui a 50 dias.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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