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Saber ou não saber?

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Ultimamente tenho me questionado sobre a quantidade de informações que tenho lido nas notícias e nas minhas redes sociais. Há um excesso de informações, de opiniões, de novos especialistas sem uma verdadeira formação. Nunca foi tão fácil buscar conhecimentos ou mostrar ao mundo o que se pensa. A questão sobre a qualidade e fidedignidade das informações e das opiniões deixo para comentar em um outro momento. Hoje quero focar não na qualidade, mas na quantidade. Se temos acesso a tanto saber, estamos conseguindo absorvê-lo devidamente? Há tempo para elaborá-lo?

Há momentos em que busco conhecer melhor o que está acontecendo, leio o que as pessoas postam e comentam… afinal, trabalho com sujeitos e me interessa muito saber o que pensam. Contudo, às vezes me sinto cansado, e prefiro me afastar um pouco desse turbilhão. Penso nos jornalistas, profissão cada vez mais importante, que não têm a opção de se afastar. Enquanto eu trabalho diretamente com seres humanos, eles trabalham com fatos, com eventos, e precisam transformá-los em palavras, em um material que todos possam entender. Estão expostos a um excesso de informações o tempo todo.

Creio que muitos já ouviram falar de Édipo, uma tragédia escrita pelo grego Sófocles. Na história, Édipo é objeto central de uma profecia. Ele, ao tomar conhecimento disto, busca a todo custo saber o que ela dizia. Usa dos poderes que tem como rei para investigar. Finalmente consegue descobrir, mas, ao saber de seu conteúdo, fica traumatizado, arrepende-se, e fura seus próprios olhos, tornando-se cego.

Não defendo aqui que nos afastemos de todas as informações. Muito pelo contrário, é importante saber o que acontece ao nosso redor, para que não estejamos alienados. Contudo, como as informações não param de chegar, é importante que encontremos um limite para que não cheguemos ao ponto de Édipo, que não suportou saber tanto e cegou a si mesmo. Não gosto muito da expressão “meio termo”, prefiro dizer de um ponto de equilíbrio, que vacila, às vezes para mais, às vezes para menos.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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