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“São discussões fundamentais para qualquer transformação social”, dizem idealizadores do PULSA

PULSA

Foto: Rodrigo Oliveira/A Voz de Itabira

Ciente da conhecida dificuldade do Brasil em tratar temas como identidade de gênero, racismo e feminismo, o “!PULSA! Movimento Arte Insurgente” inicia, nesta sexta-feira (8), uma série de atividades sobre essas e outras discussões em Itabira. Na manhã de hoje, durante uma coletiva na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), os idealizadores do projeto falaram sobre o desafio e a importância desses debates em um país com características tão conservadoras, algo que costuma se acentuar ainda mais em cidades interioranas, como a própria Itabira.

Curadora e diretora artística, Andreia Duarte enfatiza que tal cenário reforça a necessidade do PULSA em levar suas ações, principalmente, para o interior brasileiro.

“Essas discussões sobre raça, gênero, feminismo e ecologia são realmente fundamentais para que a gente possa fazer qualquer transformação social e política no Brasil e no mundo. Não há ar sem natureza, não há exploração sem racismo. A gente vai lidar com resistências contra essas discussões em todos os lugares que a gente for. E, talvez, como no interior ainda tem bastante conservadorismo, aí que é muito importante essas discussões estarem nas cidades do interior do Brasil e nas periferias”, diz.

Natural de Peçanha, no Vale do Rio Doce, o produtor Guilherme Marques cita como exemplo sua própria vivência para reforçar o posicionamento de Andreia. Para ele, não é possível nos omitirmos desses debates.

“Venho de uma cidade até menor, que é Peçanha, com 19 mil habitantes, e que é uma sociedade muito mais conservadora. Mas eu acho que é isso que a Andrea falou, são debates que estão à luz do dia e são muito importantes, porque é a nossa vida. É a forma de estarmos no mundo, então não podemos omitir isso, muito pelo contrário. Aí que é muito importante estabelecer essa ponte de diálogo que acho vital e necessária”, completa.

Foto: Rodrigo Oliveira/A voz de Itabira

Meio Ambiente

Outro tema trabalhado no PULSA é a relação da sociedade com o meio ambiente, pensando, especialmente, nas consequências negativas da atividade humana em nosso território.

Neste sentido, Itabira possui seu próprio dilema, já que a atividade mineradora, a mais lucrativa do município, é criticada por setores da sociedade pelos seus inúmeros prejuízos ambientais. Sobre isso, Andreia pontua que esta não é uma discussão local, e sim “planetária”.

“Tenho absoluta certeza que no encontro com uma diversidade com líderes indígenas, artistas indígenas e pensadores que estão pensando essa justiça ecológica, podemos rever nossa forma de entender o que é território. De dar valor pra vida e não à mercadoria, de dar mais valor para a arte enquanto experiência e não apenas para a gente ficar uma vida inteira transformando a nossa vida em um trabalho para criar produto. De ter cuidado com todas as existências planetárias, com os animais, com o ambiente que a gente habita. Trazemos, dentro do Pulsa, discussões de pensadores e artistas indígenas, mas não somente, de artistas num conjunto geral que estão pensando no lugar que a gente habita. Então eu acho de uma importância enorme, porque não estamos fazendo uma discussão local, de contexto político, estamos fazendo uma discussão planetária, de transformação da vida, de respirar melhor”.

Foto: Rodrigo Oliveira/A voz de Itabira

Guilherme Marques, por outro lado, ressalta o apoio irrestrito da Vale ao PULSA, mesmo diante de temas supostamente “espinhosos” para ela. “Quando apresentamos o programa para a Vale, eles o adoraram, acharam muito interessante debater todos esses temas. A questão ambiental, de gênero, racismo. Acho muito bacana ter uma empresa que patrocina um projeto como este, que dialoga também com todos esses temas. Não teve, por exemplo, nenhuma censura por parte de nenhum apoiador, pelo contrário, inclusive nessas discussões (ambientais). Acho que a sociedade brasileira e mundial precisa repensar nosso lugar de estar no mundo, porque senão vai ficar insustentável”.

Ponte com artistas locais

Uma das medidas realizadas pelos idealizadores do PULSA é o constante diálogo com a classe artística local desde a chegada a Itabira. Perguntada pela reportagem sobre o que pôde sentir dessas conversas, Andreia elogiou o potencial itabirano e destacou o trabalho de curadoria feito pelo programa para selecionar os participantes locais.

“Tem muitos artistas em Itabira, tem muita gente bacana. Tem musicistas, gente do teatro, intelectuais, gente de todas as linguagens. Ontem mesmo estava conversando com pessoas que estudam a relação ecológica-política na cidade, gente que trabalha com os grupos quilombolas e indígenas. Acho que temos que valorizar mesmo, a arte está em todos os lugares, não estamos afim de falar que a arte está só em São Paulo. Ali é um mercado enorme, porque estamos falando do maior centro econômico do Brasil. Mas isso não é maior nem menor no sentido da competência e qualidade dos artistas de Itabira que a gente encontrou, conversou, ouviu e assistiu. Para convidar os artistas ou as pessoas que estão em torno da gente ou dentro do Pulsa, fizemos uma curadoria também. A gente fez uma planilha, uma pesquisa desses artistas, descobrimos quem são os artesãos, os músicos e dentro do conceito do projeto fizemos um recorte, obviamente. E espero que cada vez mais esses artistas tenham apoio para mostrar sua arte não só na cidade, mas expandir no Brasil e no mundo”.

Programação

De hoje (8) até o dia 17 de setembro, o !PULSA! Movimento Arte Insurgente chega em Itabira, trazendo uma grande programação artística, cultural e de trocas pedagógicas. A cidade irá receber apresentações de teatro, música e dança; além da realização de workshops, intervenções urbanas, residência artística, rodas de conversa, seminários e da Feira !PULSA!.

As atividades são gratuitas e irão acontecer na Casa de Drummond, Casa do Brás, Escola Livre de Artes, Praça Dr. Nelson Lima Guimarães (Praça do Pará), Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), Auditório da Secretaria do Meio Ambiente, Bar da Neide e Rua Israel Pinheiro.

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