Sem grandes eventos, por causa da pandemia de Covid-19, São Paulo chega aos 468 anos de fundação com expectativa por outras celebrações. Duas delas são as comemorações de marcos nacionais em território paulistano: o bicentenário da Independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna.
A maior cidade do Brasil chega aos 468 anos com ainda mais história, feita e contada por toda nossa gente! Somos 12 milhões, somos diversos, somos trabalhadores, somos inovadores, movimentamos o mundo inteiro e nada pode nos parar! Sempre em frente!! Parabéns – e obrigado – SP!❤️ pic.twitter.com/Mkg5VaMLN8
— Cidade de São Paulo (@prefsp) January 25, 2022
Antes de São Paulo ser a grande metrópole do país, esses episódios reforçaram a imagem da cidade como “berço da nação” e precursora do Brasil moderno. Em 1822, ela era menos populosa do que outras capitais e se resumia a um território bem menor (o que se chama hoje de centro expandido). No século 19, a economia cafeeira alavancaria a região como potência econômica.
Já a Semana de 1922 ocorreu em um contexto de início da industrialização, aumento populacional e maior urbanização, terreno mais propício para disputa de poder com o Rio de Janeiro, capital federal naquela época. Professor de História da Universidade de São Paulo (USP), João Paulo Pimenta pontua que a Independência foi um momento inicial da construção de uma identidade nacional (e, mais adiante, paulista). “Antes, não existia uma nacionalidade brasileira, só a portuguesa. A Independência começou a criar a nacionalidade brasileira, com símbolos, heróis, memórias”.
Luiz Armando Bagolin, professor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, diz que ambos os eventos históricos também foram absorvidos e valorizados como parte da tradição paulistana. Por outro lado, tanto a Independência quanto a Semana de 22 têm sido revisitadas nas últimas décadas por pesquisadores, que também identificam uma visão “paulistocêntrica” dos episódios. Segundo estudos, a maioria dos eventos que envolvem a Independência ocorreu no Rio e o 7 de Setembro foi valorizado por meio de esforços de São Paulo. Além disso, é questionada a versão de que a Semana de Arte Moderna seja o marco inaugural do movimento, sem dar visibilidade a iniciativas anteriores, como no Rio e em Recife.
?Hoje, a cidade de São Paulo completa 468 anos de existência. Com lugares encantadores e uma cultura diversificada, marcou e ainda marca a história de muitas pessoas, sendo sede de momentos especiais para todos que passam e moram por aqui.
Parabéns, São Paulo! pic.twitter.com/nXyAhWKQoI
— Governo de S. Paulo (@governosp) January 25, 2022
Poder emergente
Em 1822, a cidade não tinha a mesma importância e desenvolvimento de Salvador e do Rio. Mas já exercia influência regional, tanto que foi visitada pelo então príncipe regente naquele ano para apaziguar animosidades políticas. “São Paulo não era das cidades mais importantes, mas vinha crescendo desde o fim do século 18”, diz Pimenta, autor de Independência do Brasil (Editora Contexto).
Novo movimento
Enquanto São Paulo se preparava para celebrar o centenário da Independência, um evento com menos repercussão à época viria a se tornar outro episódio de projeção da capital paulista ao longo das décadas. De 13 a 18 de fevereiro, modernistas fizeram a Semana de 22 no Theatro Municipal, reunindo artistas e intelectuais reconhecidos e jovens nomes das artes.
Com os anos, a imagem modernista se centralizou em São Paulo, embora tivesse também precursores no Rio e em Recife. Bagolin destaca que algumas iniciativas paulistas foram, de fato, inovadoras, como as primeiras exposições da pintora Anita Malfatti. “Nada era parecido com aquilo e, por isso, não foi entendido (pela maioria)”.