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“Se não cuidam das sirenes, vão cuidar das barragens?”, questiona moradora que saiu de casa em noite de pânico em Itabira

moradoras ainda estavam na rua após susto no bairro Bela Vista - Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Moradores de Itabira em bairros próximos à barragens da Vale viveram uma noite de pânico na noite desta quarta-feira, 27. Sirenes foram acionadas por engano, de acordo com a mineradora, e fizeram muita gente sair pelas ruas em desespero. Os relatos são um misto de pânico, indignação e incredulidade.

“Se não conseguem cuidar para acionar uma sirene corretamente, como podem cuidar da segurança das barragens”, questionou a dona de casa Edinéia Cláudio, moradora da rua Antônio Germano Barbosa, no bairro Bela Vista. Próximo à casa dela, toda vizinhança saiu para a rua. Houve confusão e muita correria.

“As pessoas ficaram apavoradas, é assustador. A gente não tem mais sossego. Crianças, idosos, muita gente correndo pela rua”, relata a moradora, em entrevista a DeFato Online. “Felizmente foi um engano, mas é um engano que assusta. A gente já pensa no pior. Até saber que é alarme falso, quanto tempo demora? E agora, quem vai dormir? Ninguém!”, completa.

Vizinha de Edinéia, a cabeleireira Marta Maria conta que tem um irmão acamado, impossibilitado de andar, e outro com dificuldades de locomoção. No momento em que escutou as sirenes, se preocupou em como faria para retirar os parentes de dentro de casa. Passado o susto, diz ter notado que muita gente do bairro não se deu conta do que estava acontecendo, o que, para ela, coloca em xeque as conversas de porta em porta que a Vale fez na comunidade.

“Assim que eu ouvi, eu mandei no grupo de WhatsApp da rua. O pessoal começou a sair, mas a maioria não estava acreditando. Viemos para a rua e o barulho continuou. Só que depois do alvoroço, muita gente perguntou se é verdade. Graças a Deus foi um alarme falso, mas se fosse uma coisa verdadeira iria pegar muita gente despercebida”, relatou a moradora, enquanto ainda conversava com vizinhos por mensagens no celular.

As duas moradoras relataram ainda que grande parte dos vizinhos não seguiu para os locais marcados como pontos de encontro pela mineradora. Muitos deles, por exemplo, se aglomeraram em um ponto de ônibus esperando que o coletivo passasse para que os levassem para outros bairros.

“Muita gente ainda está desinformada. Por mais que eles tenham passado alertando, mostrando o barulho da sirene, nem todo mundo consegue gravar. Eu mesmo, na hora, pensei que era barulho por causa do jogo que estava passando. Foi meu filho que me falou que realmente era a sirene. Aí meu coração disparou”, relembra a cabeleireira Marta Maria.

Críticas nas redes sociais

Instantes depois de as sirenes terem sido acionadas em diversos bairros, as redes sociais se inundaram de críticas à Vale. Moradores afetados também relataram o desespero e postaram fotos de ruas cheias de pessoas e vídeos do alerta sendo tocado.

“Inadmissível! Ninguém tem noção de como estamos todos. Meus filhos aos prantos, meu esposo e eu correndo, juntando o que era necessário para sair. Os vizinhos saindo de suas casas, gritos nas ruas vizinhas. Não podemos ficar de braços parados esperando os erros incontáveis da Vale”, desabafou Vânia Magalhães de Oliveira, que ainda reclamou que as sirenes foram tocadas em um volume muito baixo. Ela diz que não suporta mais morar próximo à barragem do Pontal e exige que a Vale indenize os moradores para que possam procurar outros locais para viver.

“Como podemos ficar tranquilos com essa falta de respeito que a Vale está fazendo com os mineiros. Parece que a Vale está é debochando da gente, se divertindo com isso. Isso não pode continuar acontecendo”, escreveu Alessandra Silva.

“Erro técnico até quando? Quando acontecer ninguém irá acreditar! Não tem profissionalismo, manda embora! Isso não deve acontecer,até porque a credibilidade não existe mais”, exclamou Nilza Assunção Zanon. “Eis a questão: e quando a situação for verdade? A população irá ter que ficar procurando saber a veracidade da notícia e com isso o tempo passa e estarão sujeitos a morrer. O tempo que os rejeitos percorreria é muito pequeno para ficar aguardando resposta”, concordou Katiane Ariane.

“Desacerto técnico”

O termo “desacerto técnico” foi usado pela Vale para descrever o que aconteceu em Itabira. As sirenes foram ativadas quando a mineradora, por determinação da Agência Nacional de Mineração (ANM) executou o mesmo procedimento no distrito de Macacos, em Nova Lima. Tanto lá quanto em Ouro Preto, as barragens atingiram o nível 3 após auditorias independentes se recusarem a assinar laudos de estabilidade. Em Itabira, segundo a empresa e a Defesa Civil, não há variação de nível de risco nas estruturas.

Moradores de diversos bairros relataram que as sirenes tocaram uma segunda vez, mesmo depois de a Vale já ter se posicionado sobre o engano. A empresa sustentou que se tratou de algo que não era para ter acontecido.

Não foi a primeira vez que a situação aconteceu na região. Na sexta-feira da semana passada, 22, quando a Vale acionou as sirenes em Barão de Cocais, os dispositivos também tocaram em São Gonçalo do Rio Abaixo, provocando temor na população, a exemplo do que ocorreu em Itabira.

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