Rebeca Andrade deu a mais longa de suas entrevistas em Paris nesta quarta-feira (7). Na Casa Brasil, a atleta olímpica brasileira mais condecorada da história falou mais uma vez sobre a rivalidade com Simone Biles, o gigantismo que ela alcançou, a jornada memorável na capital francesa, a referência que se tornou, principalmente para as jovens ginastas, e o orgulho que sente por ser uma esportista negra de destaque mundial: “É uma honra ser mulher preta e hoje estar no topo”.
O “all-black podium”, com três atletas negras no topo da prova do solo da ginástica artística e a reverência de Simone Biles e Jordan Chiles, que se abaixaram e se curvaram a Rebeca para dar protagonismo à brasileira no momento em que ela comemorava o ouro foi novamente assunto.
“Ela [Biles] viu que era um momento importante pra mim e ela estava ali para fazer aquilo acontecer, para eu receber também o que eu merecia. A gente lutou muito para estar naquele pódio. Foi uma briga saudável”, afirmou Rebeca, segundo a qual se tornou amiga da superestrela americana: “Pelo tanto que conversamos nas competições, acho que somos melhores amigas”.
Para pôr em seu pescoço seis medalhas em Olimpíadas, quatro delas conquistadas em Paris, e se colocar no topo do esporte olímpico do Brasil, Rebeca penou. Desde quando começou na ginástica, aos 5 anos, foram muitos os desafios, incluindo a necessidade de ter de caminhar dois quilômetros para treinar em Guarulhos, já que não tinha dinheiro para o ônibus. Ela lembrou das dificuldades no início, citou a mãe, Rosa Santos, que criou oito filhos sozinha com a renda de doméstica, e contou, sem citar nomes, que muitos tentaram desencorajar a seguir no esporte depois das três graves lesões de ligamento no joelho.
“Ninguém tem o direito de falar não para o seu sonho. Eu lutei muito pra que as coisas acontecessem. Se eu tivesse escutado comentários de pessoas na internet depois das lesões que eu tive talvez eu teria desistido. Eu estaria chorando agora, sem saber o que eu seria. Eu teria desistido não por mim, pelos comentários das pessoas”, enfatizou a ginasta.
Estudante de Psicologia, ela faz acompanhamento psicológico regularmente há bastante tempo. Foi a terapia um dos trabalhos fundamentais para que a brasileira continuassem na ginástica e alcançasse o topo. “Ter uma rede de apoio é muito importante. Por mais que você esteja num momento difícil, quando você tem uma luz que seja, você continua lutando e aquela luz vai ficando cada vez mais clara”, disse.
Ela se alegra e se orgulha de ter aumentado a procura de mães matriculando suas filhas em clubes e centros de ginástica no Brasil, incluindo no Iniciação Esportiva, projeto social de Guarulhos mantido pela prefeitura no qual a guarulhense deu seus primeiros saltos. “O esporte mudou a minha vida”, destacou. “E é isso que quero para as crianças e adolescentes. O Brasil tem muito talentos. Quanto mais apoiarmos e incentivarmos, melhor para o País”, completou.
Antes da entrevista coletiva, Rebeca subiu ao palco para anunciar a doação de um collant amarelo que vestiu em uma das finais da ginástica em Paris ao Museu do Esporte do Comitê Olímpico Internacional (COI), que fica em Lausanne, na Suíça. A brasileira doou a peça a pedido do COI.
No final, exibiu suas quatro medalhas que ganhou em Paris: um bronze por equipes, duas prata no salto e individual geral e a mais especial delas, o ouro no solo, desbancando Biles: “Estava lutando muito por esse ouro. Queria muito fazer o hino do Brasil tocar de novo”.