Vivemos buscando alcançar um estado de felicidade. E como não há um só meio de ser feliz, o que entendemos por felicidade pode variar muito. Pode ser que queiramos um bom trabalho, constituir uma família, comprar uma casa ou viajar para um país distante. É necessário termos estes planos em nossa vida. No entanto, depois de muito trabalho, de muito esforço, quando conseguimos o que queríamos, não nos sentimos completos, e estranhamos essa sensação. Por que isso acontece?
Parece que a felicidade é algo fixo, um só objetivo: só vou me sentir feliz quando finalmente fazer as pazes com meu passado, ou quando conseguir mudar de cidade. Mas nosso desejo não se contenta em ser somente uma coisa. Quando alcançamos um objetivo, aparecerá algo distinto que queremos. E assim vamos passando pela vida, sempre querendo uma outra coisa.
Pode soar cansativo, mas não deve ser assim. Esse é um movimento que pode abrir possibilidades para que se tente algo novo, para que se aperfeiçoe e construa o que já se tem. Querer algo diferente também não significa desvalorizar o que já temos e que conseguimos com muita dedicação. Além disso, querer outra coisa não pode se transformar em uma ganância desenfreada, em um cenário em que nunca estamos satisfeitos com o que possuímos. É um ponto de equilíbrio entre buscar sempre crescer e apreciar o que já temos e conquistamos.
Imagine se aos 40 anos você conseguisse absolutamente tudo o que desejasse. Como seriam seus próximos anos? Parece-me que seria um pouco chato, monótono, pois a vida não teria um objetivo. Sem nada faltando, não há porque desejar. É por faltar algo que estamos sempre nos movimentando. Se nos levantamos de manhã é porque queremos algo, é para dar significado a nossa vida. Saber que nunca estaremos completos não pode nos assustar ou nos paralisar, é justamente o que nos motiva a caminhar. Não faz sentido viver uma vida sem ter nada para desejar.
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos.
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