O último fim de semana foi uma ode ao bom futebol na Europa. Claro que o Velho Continente já é referência de futebol bem jogado há muito tempo, mas até por lá equipes não tão prontas, vez ou outra, fazem sucesso. Não parece ser o caso da temporada 2022/23.
Entre sexta-feira (13) e domingo (15), Napoli, Arsenal e Barcelona encantaram os torcedores. O líder da Serie A despachou a poderosa Juventus, vice-colocada, com um sonoro 5 a 1 no Estádio San Paolo.
Comandado por Luciano Spalletti, o time napolitano possui um leque enorme de jogadas. Criativo com a bola, não se intimida quando é necessário propor o jogo. Sem a bola, também é eficiente e possui uma transição muito rápida. Destaque para o georgiano Khvicha Kvaratskhelia, de desconhecido a um dos melhores jogadores da temporada europeia. Atuando pela esquerda, o jovem jogador de 21 anos é rápido, habilidoso e possui ótimo poder de finalização. Difícil imaginá-lo no Napoli no ano que vem caso o nível seja mantido.
O clube do sul da Itália nem possui o elenco mais forte do país. A Juventus, mesmo com um grupo mais “fraco” do que em anos anteriores, ainda está acima. Também podemos citar a Inter, cujo ataque traz nomes como Lautaro Martinez, Lukaku e Dzeko. Mas, coletivamente, ninguém chega perto do Napoli atualmente.
Força coletiva que também é marca do atual líder do Campeonato Inglês. Neste domingo, o Arsenal foi ao Tottenham Hotspur Stadium, onde ainda não havia vencido, e passou por cima do seu rival londrino. O 2 a 0 traduz pouco o que foi o jogo, especialmente no primeiro tempo, quando o time comandado por Mikel Arteta não deixou seu adversário respirar.
Com o elenco mais jovem da Premier League, os Gunners possuem no setor ofensivo o principal pilar da equipe. Ødegaard, Saka, Martinelli e Nketiah (substituto de Gabriel Jesus, lesionado) se procuram o tempo todo, trocando posições e passes rápidos. Em Odegaard, Arteta enxerga seu jogador mais cerebral. Martinelli possui o um contra um e a finalização, enquanto Nketiah é o mais próximo do “matador” da equipe. Já Saka reúne cada uma dessas características e desponta como um dos mais talentosos jogadores do mundo na atualidade. O meia direita canhoto, de apenas 21 anos, joga como um veterano.
No meio campo, Partey e Xhaka dão segurança e fluidez ao jogo. Ben White, zagueiro no Brighton, se adaptou à lateral direita como se jogasse por lá há anos, enquanto Zinchenko mantém o mesmo nível do período de Manchester City na esquerda, longe das lesões que tanto o atrapalharam.
Gabriel Magalhães e Saliba formam uma dupla de zaga de grande potencial, sendo os dois primeiros “construtores” da equipe no momento ofensivo. Por fim, Ramsdale deu a segurança que o gol do Arsenal necessitava há anos.
Longe de ter o elenco badalado do Manchester City, a força do conjunto do Liverpool ou o poderio financeiro de Manchester United e Chelsea, o Arsenal sonha com o título inglês que não vem há 19 anos. E tem jogado bola para isso.
Também neste domingo, Xavi Hernández conquistou seu primeiro título como técnico do Barcelona, um prêmio a um dos trabalhos mais promissores do continente. Após várias temporadas conturbadas, com a saída de craques e graves problemas financeiros, os catalães encontraram em seu ídolo o responsável por juntar os cacos e voltar a ser competitivo.
Não estamos falando do Barcelona de Busquets, Iniesta, Messi, Fabregas, Alexis Sanchéz e o próprio Xavi. Tampouco o do trio MSN. É o Barça dos jovens Ronald Araújo, Koundé, Baldé, Gabi, Pedri e De Jong, ancorados pelos experientes Christensen, Ter Stegen, Busquets e Lewandowski. Xavi soube reciclar seus veteranos e potencializar os garotos, principalmente Gavi e Pedri.
O resultado? Um amasso na final da Supercopa da Espanha contra o poderoso Real Madrid. O atual campeão da Champions não viu a cor da bola e correu atrás do rival, cujo desempenho lembrou os melhores momentos do chamado Tiki-Taka (expressão odiada por Pep Guardiola).
Não se sabe o que acontecerá ao fim da temporada. O futebol é sempre um convite ao imponderável. Mas é fato que os três times citados atropelaram rivais que possuem grupos bem mais fortes. O recado está dado: há cada vez menos espaço para o aleatório no futebol.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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