Sergio Moro não é de Maringá. É de araque. Sergio Fernando (sic) Moro, o “herói nacional”. Esse é o nome completo do novo Macunaíma. A Cristiano Machado – umas das principais avenidas de Belo Horizonte – é autêntico monumento à trairagem. A história comprova essa constatação.
Em 1950, ocorreu uma das mais importantes eleições da história do Brasil. O processo serviu para legitimar o retorno de Getúlio Vargas ao poder, depois de cinco anos afastado. O popular “pai dos pobres” foi defenestrado, em 1945. Quanta ironia. Na oportunidade, um golpe de estado derrubou golpista de carteirinha.
O caudilho dos pampas, dessa feita, passaria pelo crivo das urnas. No passado, ele governou com mãos de ferro e mente de chumbo (no período de 1930 a 1945). O mandatário tupiniquim foi uma grande estrela da proliferação de ditadores populistas na América Latina – um fenômeno típico do século XX. Getúlio, porém, era um líder carismático.
O gaúcho entrou na corrida presidencial pelo PTB. Era praticamente imbatível. Tinha forte apoio de massa. Pretenciosas – como sempre – velhas “raposas” mineiras do PSD resolveram encarar o homem das bombachas e chimarrão. Fizeram enorme alarido e lançaram a candidatura de Cristiano Monteiro Machado, ex-prefeito de Belo Horizonte. O brigadeiro Eduardo Gomes era o concorrente da UDN, outro antro de conspiradores.
A turma do PSD não tinha dúvidas: o Machado degolaria Vargas com facilidade. Ledo engano. Não foi isso que aconteceu. A campanha do ex-ditador começou avassaladora. Em pouco tempo, enorme onda getulista varreu o território nacional. Os caciques mineiros perceberam o cheiro de acachapante derrota, bem antes das montanhas de Minas. Consequência: traíram sem medo de ser felizes. A maioria pulou afoitamente no colo de Vargas.
Cristiano Machado terminou a campanha melancolicamente sozinho. O antigo prefeito de BH sofreu revés humilhante. Acabou em terceiro lugar. Recebeu uma mixaria de votos. Levou um passeio do “cara” do Rio Grande do Sul. E pior. Conseguiu ter menos voto que o oficial da Aeronáutica (Eduardo Gomes estava mais para galã de Hollywood).
A partir de então, a debandada de apoiadores, diante de iminente fracasso de qualquer candidato, passou a ser singelamente chamada de cristianização. A recente história política do Brasil é rica em exemplos de cristianização.
Sergio Mouro sempre foi um magistrado de araque. O homem tem sérios problemas para manejar dois livros fundamentais: a gramática e a Constituição. Surra ambos impiedosamente.
O “rei de Curitiba” não apresenta nenhuma semelhança com Cristiano Ronaldo. O craque é de Portugal. O ex-juiz é de araque. Ronaldo é um dos mais talentosos futebolistas de todos os tempos. Moro tem menos carisma que um pinguim de geladeira. O atleta lusitano chama a atenção pela elegância. O dono da “Lava jato” exibe o mesmo charme de um desengonçado marreco. O português trata a bola com rara desenvoltura. O meritíssimo de araque sempre deu caneladas a granel nas regras do jogo do estado democrático de direito. Moro nada tem a ver com Cristiano, o Ronaldo, mas tem tudo a ver com Cristiano, o Machado.
O lançamento da candidatura do “astro” de araque foi uma festa de arromba. A grande imprensa deu imenso destaque à patuscada toda. O ex-juiz até virou escritor (?). Com muita fanfarra, lançou um precoce livro de memórias. A Rede Globo – que anda louca para ter um presidente para chamar de seu – aposta todas as fichas no “mito” (ou mico) de Maringá. A gloriosa afinada de Luciano Huck deixou a emissora da família Marinho desnorteada.
Mesmo com todo aparato midiático, Moro empacou. Dificilmente baterá os 15% de intenção de votos. Esse percentual é o limite de competividade a ser alcançado até abril. É a projeção de tolerância dos marqueteiros do paranaense. As perspectivas, porém, não são nada animadoras para o fajuto “herói nacional”.
Na realidade, o juiz parcial tem tudo para sofrer uma cristianização. O pula-fora dos oportunistas até já tem data para começar. No final das contas, nem Álvaro Dias – o Alberto Roberto do Paraná – remará no mesmo barco do meritíssimo de araque.
PS: A briga de Moro com a gramática começa na origem, pois todo Sérgio é obrigatoriamente acentuado, menos ele. E a proparoxítona que se dane.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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