Eventualmente, todos nós precisaremos passar algum tempo sozinhos, não importa se esse período for dias, semanas, meses ou anos. Durante o momento de isolamento social, praticamente todas as pessoas deixaram de ver amigos, família, e passaram a ficar mais tempo sem ter contato mais próximo com outros. E isso pode ter importantes efeitos não somente nas relações interpessoais, mas também consigo mesmo.
Nós somos seres sociais. Não nascemos para viver isolados de nossos semelhantes. No entanto, esse desejo de estar em meio a amigos, família, cônjuges ou colegas de trabalho não é igual para todos, ele varia bastante. Há pessoas que preferem estar em companhia de alguém por maior quantidade de tempo do que outras. Mesmo assim, não importa quem seja, essa pessoa precisará ficar sozinha em algum momento. E como esse tempo pode ser vivenciado?
Conhecemos muito bem a palavra solidão, mas não temos tanto contato com a palavra solitude. A solidão é estar sozinho atrelado ao sofrimento, quando parece que falta algo. Ficamos doidos para sair dessa situação, para conversar, para fazer alguma coisa com alguém. A solitude também é estar sozinho, mas sem sofrimento, é encontrar prazer em sua companhia, é poder ter contato consigo mesmo sem ter que se preocupar com a aprovação de ninguém.
Todos conhecemos alguém (ou somos esse alguém) que morre de medo de ficar sozinho. Essas pessoas não conseguem nem imaginar ficar um fim de semana sozinhas, ou morar só. Elas podem engatar relacionamentos, sair de um namoro e na próxima semana já estar em outro. Mas com isso acabam não enxergando a importância que é desenvolver um relacionamento consigo mesmo. Outras pessoas querem tanto não sentir a solidão que acabam ficando presas nela, sem conseguir estabelecer amizades, namoros, etc. Passam por longos períodos querendo fugir desse sentimento, mas sem recursos para isto. Para fugir da solidão, acabam fazendo dela sua companheira.
Às vezes tentamos calar essa solidão com algo externo, com muito trabalho, com a companhia de alguém… mas isso é temporário, assim que ficarmos sozinhos novamente essa sensação voltará. Como comentei no início deste texto, a gente pode até tentar, mas não tem como escapar: teremos que passar um tempo somente com nossa companhia. Se isso te assusta, vale a pena se perguntar: Por que eu tenho medo de ficar sozinho? É possível descobrir que estar consigo mesmo não quer dizer sentir solidão, se sentir mal. Amores podem passar, nossos familiares e amigos não estarão conosco o tempo todo, então por que não buscar construir uma boa relação com nós mesmos?
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos
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