Nunca utilizei tanto a palavra “esperança” para descrever uma ação cultural. Entretanto, os desafios do setor fazem com que eu a enalteça trazendo a emoção ao calor na maior festa popular brasileira.
E não houve carnaval. Ruas tristes, pessoas caladas, silêncio sem o apito da bateria da escola de samba. O samba-enredo não foi convidado para dar o tom da festividade.
Ao caminhar pelas ruas tradicionais dos carnavais, um pintassilgo itabirano, em sua maestria, me deixou enternecido. Seu cantar rufava os tambores dizendo-me que é tempo sim de carnaval.
As memórias da Praça do Pará onde o Bloco dos Sujos se reunia; os clubes; a Rua Tiradentes; a pracinha do Campestre. Itabira e o seu carnaval. Lembro, ainda criança, dos desfiles das escolas de samba na Carlos Drummond de Andrade. E as cores vivas presentes no suor de mãos de pessoas que só queriam, naquele momento, esquecer as dores do mundo grande.
A Covid-19 estava em destaque, e virou mestre-sala do carnaval. Frases de efeito publicitário começaram a circular nas redes: “Use a máscara da saúde”; “Xó, Covid-19! Eu uso máscara”.
E uma publicação de um lugarzinho longe me chamava atenção: “90% do meu corpo quer carnaval, mas os outros 10% querem lutar pela vida neste carnaval”.
Pensando nisso, nasceu a ideia do Carnaval do Entrudo. A entusiasta Solange Alvarenga, ao me contar sobre o carnaval de Drummond, fez-me pensar em como seria o carnaval de Itabira em outros momentos.
É tempo de Carnaval! E nosso inimigo não tinha saído de cena. Tristemente anunciei que não teríamos a tão desejada festa em nossa região. Por cautela e responsabilidade de agente público.
Lembrei-me do pintassilgo solitário que me encantou por horas. O carnaval não poderia ser esquecido. Mesmo que de forma simples, com recortes de papéis e cores, com poesias de Drummond e pessoas para contar o que é o carnaval.
De forma on-line, o carnaval de Itabira foi de ações de resgate, oficinas, declamações, documentário e apoio de pessoas. A artista Rosa Márcia e a Banda Flor Morena deram o tom do pintassilgo para os itabiranos, vencendo assim obstáculos e barreiras culturais.
Mataram a saudade dos 90 % do meu corpo que queriam carnaval também.