Acredita-se que fazer terapia seja somente falar sobre o passado, descobrir como ele sempre nos influenciou. É muito comum dizer dos traumas de infância, como se eles fossem monstros que ditam completamente como somos hoje. É claro que o que nos aconteceu diz de como agimos atualmente, mas será que um atendimento psicológico se resume a isso? Apenas “descobrir” o passado? É isso que ocorre dentro de uma sessão de psicologia, seja ela presencial ou online?
Pensar no tempo como somente passado, presente e futuro – sempre nessa ordem – é muito limitante. Nessa perspectiva, o passado está lá, influenciando o presente, que por sua vez vai operar sobre o futuro. Contudo, sabemos que não é tão simples assim. O que nos aconteceu se apresenta hoje com uma nova roupagem, e nossa expectativa sobre o futuro também muda a forma em que agimos no presente.
Podemos dizer: sou assim porque nunca tive pai ou mãe, porque sempre fui excluído na escola, porque sempre me disseram que era agressivo ou porque nunca tive dinheiro para comprar nada que quis. Creio que em um processo terapêutico não é tanto como o passado tem força em nós, e sim em como nós hoje ressignificamos esse passado, em como estabelecemos novos pontos sobre ele e o reconstruímos. Ser atendido por um psicólogo não se resume a falar sobre o que ocorreu, envolve também um processo ativo do que podemos fazer sobre isso no presente.
A verdadeira importância está no presente, e não no passado. Dar esse poder tão grande ao que nos aconteceu, sejam esses eventos bons ou ruins, dá a impressão de que tudo isso é imutável, fixo, sendo que na verdade, ao repensarmos essas lembranças ou traumas percebemos como sempre podemos avançar, não deixar que o que houve não nos machuque tanto ou que tenha tanto efeito sobre nós. Ninguém vive totalmente desapegado dos eventos que nos marcaram, mas não podemos consentir com eles e agir como se fôssemos meros reflexos do passado. Ainda que sob os efeitos do passado e as expectativas do futuro, a vida ocorre agora.