A comunidade do Barreiro teve uma manhã efervescente do ponto de vista cultural nesta manhã (4). Como parte da programação do II Flitabira, o ator Thiago Lacerda e o rapper itabirano Thiago SKP debateram, recitaram, cantaram e levaram muita arte para os estudantes da Escola Municipal Antônio Camilo Alvim.
Além da mesa redonda protagonizada pelos dois artistas, ainda houve tempo para uma apresentação musical e a declamação de poemas drummondianos por parte de alunos da escola. A programação do Flitabira nesta sexta-feira se estende até as 22h e você pode conferi-la completa clicando aqui.
Coisas separadas? Nada disso!
Natural de Itabira, o músico Thiago SKP celebrou a integração entre a cultura local e a nacional, além de reforçar que rap e poesia andam lado a lado. “Antes de fazer música, sou rapper. A sigla RAP é ‘rhythm and poetry’, que significa ritmo e poesia. Então qualquer poesia que a gente coloque ritmo, ou qualquer ritmo que a gente vai cadenciando, vira ritmo e poesia”, explica.
Acostumado às rimas, Thiago SKP relembra o impacto de Carlos Drummond de Andrade, homenageado nesta edição do Flitabira, em sua trajetória musical. O artista ainda destaca como a visita ao Barreiro ajuda a disseminar a arte junto àqueles que a veem como algo distante.
“Desde novo, no beco do calvário, eu ficava rimando os versos dos caminhos drummondianos. Então acho que a poesia faz parte da nossa vida, e uma das minhas funções é encurtar esse caminho, tirar essa distância. Porque quando se fala em poesia para um jovem de periferia, ele imagina algo distante, porque muitas coisas que chegam até ele não são as que ele acha mais interessante. Então quando mostramos algumas poesias e ideias das ruas e da vivência deles, eles ficam mais próximos da poesia e da arte”.
Cultura itabirana
Questionado sobre a importância de disseminar a cultura para além dos grandes polos culturais, Thiago Lacerda afirma considerar Itabira um grande centro artístico. Segundo o ator, falta apenas um incentivo para despertar o talento intrínseco ao itabirano.
“Eu acho que Itabira é um grandíssimo centro artístico e cultural, por razões óbvias, drummondianas, mas não só por isso. Existe um imenso potencial artístico, literário, poético e musical em Itabira, tenho certeza disso. A questão é só criar oportunidade. E o fato de estarmos aqui é, de certa maneira, para fomentar essas oportunidades. Poder estar em um evento de literatura e poesia em Itabira, falando de Drummond, vindo nas escolas, trazendo jovens para a percepção da importância da cultura, é uma forma de criar um ambiente propício para que esses talentos e potencialidades venham à tona. Eu tenho certeza que existem muitos poetas e jovens talentosos em Itabira”, opina.
“Quando você diz grandes centros, entendo o que você quer dizer, porque a gente vive uma situação muito difícil nessa coisa de privilégios das grandes e principais cidades econômicas do país. Mas a gente tem potência em todos os lugares. O que falta, talvez, seja a gente criar mais condições como essa, falar mais, fazer mais festivais, para que essas potencialidades venham e a gente transforme essa ideia do que seria um grande centro”.
Thiago Lacerda mencionou, ainda, um possível novo projeto para disseminação da cultura. “O novo presidente eleito tem um projeto muito interessante sobre o fomento das potencialidades regionais. Já há muito tempo se discute a necessidade da gente sair desse eixo econômico na produção cultural e amplificar essa capilaridade. Existe um movimento que vai acontecer nos próximos anos, e acho ótimo, de criação de núcleos de desenvolvimento e oportunidades regionais. Isso talvez seja uma nova perspectiva dessas manifestações pelo país e eu torço para que funcione e caminhe num bom sentido”.
Por fim, o ator falou sobre Carlos Drummond de Andrade. De acordo com Thiago, sua relação com a obra do poeta começou de maneira um pouco “pragmática”, mas virou um caso de amor com o passar dos anos.
“Importância total (Influência de Drummond em sua trajetória). Conheci Drummond na escola, mas o conheci verdadeiramente mais velho, quando comecei a me interessar pela literatura quase como uma necessidade do meu ofício. E imediatamente eu me encontrei com Drummond e ganhei uma ideia da imensidão da obra dele. Depois fiz um trabalho em Belo Horizonte, uma minissérie para a tv, que me levou a voltar para minha origem, reencontrar essa raiz mineira que tenho. Em Belo Horizonte, com Roberto Drummond, que virou meu amigo, através dos nossos papos a obra de Drummond veio de outra forma também. Então o Drummond me acompanha já há muito tempo e a cada movimento de retorno a sua obra eu fico mais impressionado com a possibilidade que é a poesia dele. Está tudo ali. Quem nós somos está ali e é sempre muito emocionante”, conclui.