Eram exatamente 21h51 da última segunda-feira, 30 de abril, quando o engenheiro civil itabirano Maurício Silveira, 25 anos, mandava uma mensagem para a namorada informando que estava na porta da casa dela, na rua Armindo Costa Lage, no Caminho Novo, como combinaram. Assim que desligou o motor de seu carro, um Volkswagen UP, foi abordado por um grupo de adolescentes – um deles armado – que anunciou o assalto. Eles entraram no carro e colocaram o rapaz no banco de trás. Começava ali uma sequência de acontecimentos que durou cerca de quatro horas. Momentos de terror que fizeram a vítima temer pela vida.
“Eu tinha a certeza de que isso (que os assaltantes o matariam) iria acontecer, porque eles não tinham planejado nada e não sabiam o que fazer. Imaginei que me deixariam em qualquer lugar e teriam que matar para que eu não os reconhecesse”, contou Maurício a DeFato Online em entrevista nesta quarta-feira, 2 de maio, ainda se recuperando do susto que viveu na madrugada anterior.
Quando saiu de casa e não viu o carro de Maurício, a namorada tentou ligar várias vezes e mandou muitas mensagens. Sem respostas, logo percebeu que havia algo de errado. Ela avisou aos familiares do engenheiro e uma mobilização teve início imediatamente nas redes sociais.
Às 21h57, os assaltantes obrigaram Maurício a desligar o celular. Segundo a vítima, os criminosos fizeram com que ele desabilitasse a senha do aparelho e o sistema de impressão digital. Também ordenaram que ele saísse do iCloud, sistema da Apple que permite o rastreamento do aparelho. Nessa altura, Maurício já estava com o rosto tampado com uma camisa, ainda no banco do passageiro do carro.
“Eles perguntaram absolutamente tudo sobre minha vida, sempre com a arma em minha cabeça para que eu não mentisse. Não menti em momento algum e mantive a calma durante todo tempo. Eles disseram que tinham roubado o carro pois era o primeiro que tinham visto ‘boiando’ na frente e que usariam para fazer assaltos em BH e depois eu encontraria o carro intacto abandonado em algum lugar”, relembra.
Da calma ao terror
Maurício conta que enquanto estava no banco de trás procurou se manter calmo para tentar assimilar o trajeto que era feito pelos assaltantes. Também conseguia escutar o que era dito pelos criminosos e assim percebeu que eles seguiam sentido ao trevo de Itabira. Mas a relativa tranquilidade foi embora quando os autores, receosos de que o engenheiro fosse reconhecido em algum lugar, decidiram amarrá-lo e colocá-lo no porta-malas.
“Amarraram meus dois braços separadamente, amarraram o pescoço e pegaram outra blusa para juntar os dois braços e cabeça. Eu mal cabia no porta malas. Desde os primeiros minutos já sentia muita dor no joelho, no braço esquerdo (que ficou dormente muito rápido) e no pescoço, que ficava dobrado”, descreve o jovem. Sem conseguir enxergar nada, Maurício acredita que estava pouco após o trevo, já na BR-381, quando foi colocado no compartimento de malas.
Segundo a vítima, de início pensava que eram três os criminosos, mas depois percebeu que eram cinco. Ele disse que dois dos assaltantes estavam muito tranquilos e até conversaram com ele: “Falaram que Deus iria abençoar meu namoro e falaram também que eu teria um grande futuro pela frente, olhando minha carteirinha do Crea (Conselho Regional de Engenharia)”.
Mas havia um mais nervoso, que começou a discutir com os demais a possibilidade de matar o engenheiro. Na rodovia, a vítima percebeu que o clima começou a ficar mais tento. Apertado no porta-malas, Maurício começou a ficar sem ar. Seu alívio veio quando um dos assaltantes acendeu um cigarro de maconha e passou a abrir os vidros do carro constantemente para soltar a fumaça.
“Eles não achavam um lugar seguro para me abandonar e o passageiro (o que estava mais nervoso) começou a falar que eles teriam que me matar, pois não havia o que fazer comigo. E eles brigavam várias vezes entre eles, pois os de trás falavam que eu era ‘pela ordi’ e não reagi. Eles falavam sobre as leis e quanto seria pior se me matassem. O passageiro falava que eles poderiam me queimar e sumir com o carro e o celular”, relembra.
Medo na estrada
Maurício conta que nunca esteve em um carro em tão alta velocidade como naquela noite. O adolescente que assumiu o volante corria muito na rodovia e, de acordo com o engenheiro, os demais assaltantes se dividiam em um misto de medo pelo risco de acidente e euforia pelo que estava acontecendo. Brigavam, ao mesmo tempo em que colocavam música alta e cantavam em coro.
Depois de cerca de uma hora e meia após o sequestro, os criminosos pararam para pedir referência a um pedestre. Eles queriam saber como chegar a Belo Horizonte, mas ouviram que já tinham passado da capital e estavam na estrada sentido Brasília. Resolveram retornar e pararam para abastecer no posto Beija-Flor, às margens da BR-381. Lá, uma pessoa que havia tido notícia do ocorrido pelas redes sociais identificou o veículo e acionou a polícia.
Essa mesma pessoa, que não quis se identificar, seguiu o UP roubado e foi ajudando os militares com a identificação. Ao perceberem a presença de viaturas na rodovia, a quadrilha parou o carro em um acostamento e dispensou a arma e as drogas. Pouco depois, foram cercados. Teve início uma perseguição em alta velocidade.
“Temia, acima do tudo, um acidente na BR. O menor mal sabia dirigir e diversas vezes ele recebia xingo dos comparsas por ultrapassagens perigosas. As carretas buzinavam toda hora. Temia também morrer asfixiado”, contou Maurício. “Temia muito um capotamento pois nunca tinha ficado dentro de um carro em tal velocidade. Eles já não perguntavam mais nada e nem abriam o vidro para soltar fumaça. Eu mal respirava. Suava muito e estava começando a perder a consciência”, completa.
Final feliz
Mesmo quase desacordado, o engenheiro conseguiu reconhecer a voz da policial militar Nambíria ordenando que os assaltantes parassem o carro. Ela é amiga da vítima. Outro PM conhecido de Maurício, Nicolas Borel, mesmo de folga, também participou da operação de resgate.
Os criminosos conseguiram escapar do cerco da PM próximo ao trevo de Itabira. Em alta velocidade, o carro bateu duas vezes antes de cair em uma canaleta e parar. Os autores foram apreendidos e Maurício tirado do porta-malas. “Depois disso só lembro do Borel abrindo o porta-malas e da Nambíria me dando água e me segurando até que eu a reconhecesse”, relata.
Em recuperação depois de tudo que aconteceu, Maurício diz ter sido contemplado com “vários livramentos”. Ele agradece a todos que compartilharam as mensagens nas redes sociais e que torceram para que tudo acabasse bem. “A ação dos policiais foi sensacional. Tive vários livramentos: eles não me mataram, o carro não capotou, me resgataram antes que perdesse a consciência, deu tudo certo. Tenho a agradecer infinitamente a todo corpo policial e a todos que se mobilizaram, fizeram orações e compartilharam. Sem todos eu não estaria aqui hoje”, disse.
Outro agradecimento foi especial à pessoa que acionou a polícia no posto de combustível. “Tenho que agradecer imensamente a essa pessoa. Ela viu o carro, seguiu o carro, foi informando à polícia. A pessoa não quis se identificar, mas eu devo muito a ela”, finalizou.