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Uma breve reflexão sobre o movimento “Vidas negras importam”

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Estão ocorrendo em nível mundial movimentos antirracistas que promovem uma mensagem bastante difundida: “Vidas negras importam”. Essas articulações sociais eclodiram a partir do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. Vale pontuar que, apesar de isto ter acontecido em outro país, há casos extremamente relevantes no Brasil que também justificariam o movimento que denuncia o racismo.

Contudo, não é difícil de encontrar, após um comentário de que “vidas negras importam”, uma réplica: “todas vidas importam”. Estas pessoas entendem erroneamente a afirmação. Para elas, colocar em pauta o racismo, dar destaque às vidas negras, significaria que a sua vida não fosse importante. Algumas destas pessoas podem até defender que o racismo não existe, que ele está na cabeça das pessoas.

Dizer que vidas negras são importantes não quer dizer que as outras não o são. Buscamos mostrar que as questões raciais têm influência em nossas relações e isto não pode ser ignorado. Podemos pensar em uma metáfora, que está circulando pela internet: se uma casa está pegando fogo, e dizemos que temos ir lá ajudar a apagar este fogo, por que pensaríamos que isto deixa as outras casas de lado? Não faz nenhum sentido, não é mesmo? Então por que dar destaque às vidas negras e ao racismo faria a vida de quem não é negro menos importante?

Achar que isto não é uma questão relevante é mais um ponto que demonstra como o racismo está naturalizado em nossa sociedade. Se não parece uma questão importante para você, é porque provavelmente você não passa por isso, o que não quer dizer que isso aconteça a todos. Dizem que estamos todos no mesmo barco, mas não é verdade. Podemos pensar que estamos todos no mesmo mar, mas em lugares distintos: alguns em barcos, outros em botes, outros nadando à deriva… reconhecendo que somos diferentes é o caminho para buscar contornar a situação.

Para quem acha que esta discussão é desnecessária, deixo a questão que Jane Elliot fez a um grupo de pessoas que não são negras em um experimento social. Ela mostra como apesar de discordar, todos sabem que o racismo existe. Ela as indaga: “Se algum de vocês ficaria feliz em ser tratado como os negros são em nossa sociedade, por favor se levante”. Desnecessário dizer que ninguém se moveu. E você, se levantaria?

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

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