Vacinação clandestina é feita em garagem da Saritur, em BH; veja o vídeo

Polícia Federal e Ministério Público de Minas Gerais abriram um inquérito para investigar a denúncia feita a empresários e políticos que tomaram a vacina contra a Covid-19 às escondidas

Vacinação clandestina é feita em garagem da Saritur, em BH; veja o vídeo
Foto: Reprodução / Internet
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Nesta quinta-feira (25), a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a denúncia feita a empresários e políticos que tomaram a vacina contra a Covid-19 às escondidas, em Minas Gerais. Eles teriam recebido a primeira dose da vacina da Pfizer contra o coronavírus, nessa terça-feira (23). O caso veio à tona após reportagem publicada pela revista “piauí”.

De acordo com a reportagem, o grupo teria comprado a vacina por conta própria, sem declará-la ao Ministério da Saúde e sem repassá-la ao Sistema Único de Saúde (SUS). A revista “piauí” também frisou que a aplicação da segunda dose estava prevista para acontecer em 30 dias. Cerca de 50 pessoas estariam envolvidas no esquema e o custo da operação teria sido de R$ 600 por indivíduo.

Flagrante

A denúncia só foi possível porque uma servidora municipal da Saúde de Belo Horizonte conseguiu registrar em vídeo as pessoas que estariam sendo vacinadas. O flagrante da servidora foi feito em uma garagem da empresa de transportes Saritur, no bairro Alto dos Caiçaras, na capital mineira.

As imagens mostram os instantes em que, supostamente, empresários e políticos recebem doses do imunizante contra Covid-19. As pessoas envolvidas se tornaram alvo da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF-MG). A assessoria da viação Saritur nega que a garagem pertença à empresa.

“As imagens foram registradas no fundo da casa de uma amiga, por volta das 20h30, dessa terça-feira (23). Ela me chamou me perguntando se estava havendo vacinação à noite, para jovens e crianças e eu disse que não. Ela disse para eu então correr lá porque estava acontecendo alguma coisa estranha. Fomos ver as imagens, gravamos, e realmente era a configuração de uma vacinação”, disse a servidora ao jornal O Tempo.

Ela chegou a acionar a Polícia Militar na mesma noite e registou um boletim de ocorrência. Os policiais militares chegaram ao local por volta de 22h e foram recebidos por pessoas identificadas como seguranças que disseram que os diretores da empresa haviam se reunido no local mais cedo e já partido. Após essa conversa, a própria denunciante teria se aproximado dos militares e relatado os detalhes do caso.

Ela contou que foi possível ver cerca de 25 veículos, com seus respectivos condutores e passageiros sendo vacinados por uma mulher trajando um jaleco branco. Entre os imunizados estão crianças e adolescentes. Ainda assim, membros da Guarda Municipal, da fiscalização de Atividade Urbana e Controle Ambiental e da Vigilância Sanitária compareceram ao local e não constaram nenhuma anormalidade.

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) recebeu o relato da trabalhadora da Saúde e diz ter encaminhado a denúncia ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e ao Conselho Municipal de Saúde.

Saritur

A revista “piauí” cita os irmãos Robson e Rômulo Lessa, donos da Saritur, como organizadores da vacinação clandestina com o imunizante da Pfizer. Em nota oficial, o grupo empresarial afirmou que os nomes citados na reportagem da revista não fazem parte de seu corpo societário. “O assunto tratado na matéria é de total desconhecimento da Diretoria da empresa”, diz o comunicado.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante uma reunião com a Comissão Temporária da Covid-19, na manhã de hoje (25), chegou a citar o caso. “Nossos empresários têm capacidade de ir lá fora e comprar sobras de vacinas. Dizem até que um grupo de empresários em Minas conseguiu, e já se vacinaram também. Quer dizer, por enquanto isso é ilegal; agora, se a gente permitir que isso seja feito de forma legal e que eles façam doações, aí sim você pode dar uma isenção para as doações que eles fizerem”, disse.

Confisco e punições

O deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) pediu ao Ministério Público de Minas Gerais que confisque as vacinas contra a Covid-19 adquiridas por esse suposto grupo de políticos e empresários mineiros sem que fossem repassadas doses ao SUS.

“Inadmissível tamanha irresponsabilidade sanitária, ainda mais no momento em que o Brasil completa 300 mil mortes. Advirta-se que a recente Lei 14.125/2021 admite que pessoas jurídicas privadas adquiram vacinas, mas impõe limites e regras para a sua utilização”, declarou.

O Ministério Público de Minas Gerais esclareceu que todos os envolvidos  podem responder criminalmente, mesmo após a aprovação da lei federal que permite a compra de imunizantes pela iniciativa privada. O processo correrá sob sigilo, sem divulgação de mais detalhes, por ora.

Se a importação tiver sido feita antes da aprovação da vacina da Pfizer pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os responsáveis podem ser multados e presos pelo período de dez a 15 anos, que é a pena prevista para quem comercializa produtos sem o registro necessário.

De acordo com o órgão, todos os que se vacinaram também podem responder por crime de receptação, que prevê multa e reclusão de pelo menos um ano.