Uma jornada de quase duas décadas de pesquisa nos laboratórios da mineradora Vale, em Minas Gerais, ganhou um novo capítulo no dia 12 de dezembro, quando o presidente da empresa, Eduardo Bartolomeo, acionou simbolicamente o funcionamento da primeira planta de briquete de minério de ferro do mundo, na Unidade Tubarão, em Vitória, no Espírito Santo.
O produto desenvolvido pela Vale tem o potencial de revolucionar a siderurgia, reduzindo em até 10% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no alto-forno ou possibilitando, no futuro, a produção de aço de zero emissão, quando o hidrogênio verde estiver disponível. “Estamos oferecendo um produto que apoiará nossos clientes, os fabricantes de aço, a se adequarem às metas de redução de emissões que estão sendo adotadas por governos em todo o mundo, contribuindo para o combate à mudança climática”, explica Eduardo Bartolomeo.
“Além disso, estamos induzindo a neoindustrialização do Brasil, que será baseada na indústria de baixo carbono, e cumprindo mais uma vez a vocação da Vale de âncora do desenvolvimento regional”, completa Bartolomeo.
Os testes com carga na primeira planta tiveram início em agosto deste ano e apresentaram bons resultados, possibilitando o início da operação da primeira planta ainda em 2023. Uma segunda planta em Tubarão tem inauguração prevista para o início do próximo ano. Juntas, terão capacidade de produzir 6 milhões de toneladas por ano — resultado de um investimento de R$ 1,2 bilhão e que gerou 2.300 empregos no pico das obras.
Mais de 30 empresas já demonstraram interesse em receber carregamentos de briquete em 2024. Por se tratar de um produto inovador, a produção dos dois primeiros anos será destinada a testes nas instalações desses clientes. A maioria dos interessados é da Europa e do Oriente Médio, mas houve pedidos de clientes de todo o mundo, inclusive do Brasil, garantindo a demanda por mais de um ano.
Em 2024, as duas plantas de Tubarão irão produzir cerca de 2,5 milhões de toneladas. A produção crescerá gradativamente até atingir os 6 milhões de toneladas por ano. “O interesse demonstrado pelos clientes nos deixa confiantes de que o briquete veio para revolucionar a produção de aço”, explica o vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli.
“A descarbonização da siderurgia se dará em etapas. Na primeira, nossos clientes estão buscando formas de aumentar a eficiência operacional na rota de alto-forno, reduzindo o gasto de energia e, consequentemente, diminuindo emissões de CO2. Nesse estágio, o briquete já faz diferença. E na etapa final, quando o hidrogênio verde estiver disponível, o briquete contribuirá para a produção de aço de zero emissão, o que será feito por meio da rota de redução direta, considerada mais ‘limpa’ que a do alto-forno”, continua Spinelli.
Briquete de minério de ferro, uma inovação brasileira
O briquete é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final. Anunciado pela Vale em 2021, o produto emite menos particulados e gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX) quando comparado aos processos tradicionais de aglomeração, além de dispensar o uso da água em sua fabricação.
O desenvolvimento do briquete teve início no Centro de Tecnologia de Ferrosos (CTF) da Vale, em Nova Lima, Minas Gerais, há cerca de 20 anos. A ideia de aglomerar minério de ferro por meio da briquetagem não era nova, mas os pesquisadores tinham dificuldade de garantir que o produto mantivesse a integridade no alto-forno. A Vale desenvolveu uma solução de aglomerantes que resolveu esse problema.
Foram realizados testes em laboratório, depois em fornos de pequena escala e, finalmente, os testes industriais no alto-forno, que comprovaram a performance e valor do produto.
No momento, a Vale está desenvolvendo a versão do briquete para a rota de redução direta. Testes experimentais foram realizados com sucesso e a empresa já iniciou o primeiro teste industrial, em um reator na América do Norte.
O briquete e o caminho para o aço verde
A produção de aço mundial se dá, principalmente, por duas rotas: de alto-forno e de redução direta. O processo via alto-forno é amplamente utilizado pelas siderúrgicas ao redor do mundo, porém altamente intensivo em emissões devido à utilização de coque (produzido a partir do carvão mineral) como principal insumo. Nessa rota, o uso do briquete pode substituir a sinterização, etapa onde ocorre a aglomeração do minério de ferro, permitindo potencial redução das emissões de GEE dos clientes em até 10%.
Já para a produção de aço via rota de redução direta é utilizado o gás natural como alternativa ao coque. Nesse processo, briquetes e também pelotas são utilizados para produção de HBI (hot-briquetted iron ou ferro-esponja) — produto intermediário entre o minério de ferro e o aço —, que por sua vez é colocado em um forno elétrico para produção de aço com menor emissão do que a rota tradicional via alto-forno.
Fornos de redução direta são utilizados em regiões com abundância de gás natural a preços competitivos, como é o caso do Oriente Médio. No ano passado, a Vale fechou acordos com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã para a criação de Mega Hubs, complexos industriais destinados à produção de HBI, inicialmente tendo o gás natural como fonte de energia. No futuro, com a utilização de hidrogênio verde no lugar do gás, o HBI pode viabilizar a produção de aço verde, com zero emissão de GEE.
Além disso, assinamos duas parcerias para estudos de viabilidade de Mega Hubs no Brasil e nos Estados Unidos.
Metas de redução de emissões
O briquete está incluído na estratégia da Vale de reduzir em 15% as emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até 2035. A empresa já assinou acordos para oferecer soluções de descarbonização com mais de 50 clientes, responsáveis por 35% dessas emissões.
Entre as soluções propostas, está a construção de plantas de briquete localizadas nas instalações de alguns clientes. A Vale também busca reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030, como primeiro passo para zerar suas emissões líquidas até 2050.