Durante a reunião da Câmara Municipal de Itabira, realizada na noite de terça-feira (21), a vereadora Rosilene Félix Guimarães (MDB) apresentou uma grave denúncia: uma série de pichações racistas espalhadas pela cidade. As frases preconceituosas, que trazem os dizeres “fora negros” podem ser encontradas em ao menos três locais do município: nos bairros Juca Batista e Madre Maria de Jesus, além do muro do Conselho Municipal do Bem-Estar do Menor (Combem).
“Tem uma coisa grave acontecendo em nossa cidade, justamente hoje [terça-feira], em que estávamos prestes a votar projetos de inclusão e igualdade racial, tem pessoas praticando atos que também vou chamar de vandalismo, espalhando frases e pichações com os dizeres ‘fora negros'”, explicou Rose Félix. “Por iniciativa de um rapaz, que está divulgando nas redes sociais, ele modificou a frase, colocando ‘vidas negras importam’. Por coincidência, fiz uma menção em minhas redes sociais de uma moção de aplauso para o movimento antirracista da nossa cidade. [A questão do racismo] Não é uma pauta politiqueira, mas algo que precisamos discutir e isso [as pichações] é uma demonstração de que o racismo e o preconceito ainda existem em nossa cidade”, denunciou Rose Félix.
A vereadora, ainda, convocou a população a denunciar esses atos de preconceito racial, além de incentivar o debate sobre o tema e contribuir para a construção de uma cidade igualitária. “Quero, neste momento, dizer para aqueles que estão nos vendo, para os movimentos antirracistas da cidade e para as pessoas antirracistas ajudarem a conscientizar sobre a importância de tratarmos desse tema”, afirmou.
Resposta
Ao identificar as pichações de cunho racista — em que trazem os dizeres “fora negros” — o músico e produtor cultural Shall Mc resolveu contra-atacar. Com um spray vermelho, riscou a palavra “fora” e adaptou a frase para “vidas negras importam”, um lema que tem marcado a luta e os movimentos antirracistas por todo o globo, e que ganhou destaque na onda de protestos motivados pela morte do norte-americano George Floyd, em maio de 2020, após ser asfixiado pelo então policial Derek Chauvin.
Em entrevista ao portal DeFato, Shall Mc destacou que utiliza as suas canções para se posicionar contra qualquer tipo de preconceito, mas que sentiu necessidade de manifestar contra pichação por considera-la como um incentivo a atos racistas e por acreditar que esse tipo de comportamento não pode ser normalizado.
“Eu venho a oito anos, por meio do rap, lutando contra todo tipo de preconceito. Eu vivo aquilo que canto. Então resolvi por em prática nas ruas também me impondo contra qualquer ato racista. É importante não deixar passar batido [a pichação preconceituosa], várias pessoas passam por essa frase todos os dias e ela se tornou algo comum ali. Uma frase dessa não pode ser vista como algo natural, não pode fazer parte do nosso cotidiano, pois é um incentivo para o racismo”, afirmou Shall Mc.
De acordo com o rapper, Itabira é uma cidade antirracista, porém, a luta por igualdade racial ainda precisa de mais apoio da população, da mídia local e das lideranças políticas da cidade. “Ser antirracista é bater de frente contra qualquer ato racista, é se manifestar e se impor diante do preconceito, não deixar impune e mostrar para os racistas que temos mais força que eles”, defendeu.
Itabira contra o racismo
Em maio, a vereadora Rose Félix entregou uma moção de aplausos para o movimento Itabira Antirracista, que vem atuando por uma cidade mais igualitária e combatendo atos de desigualdade racial e social. Na terça-feira, antes da reunião semanal do Legislativo, a vereadora publicou em suas redes sociais uma foto do momento em é feito o reconhecimento ao trabalho do grupo.
À época em que foi concedido a moção de aplauso, representantes do movimento Itabira Antirracista utilizou o seu perfil no Instagram para agradecer esse reconhecimento e destacou a importância do desenvolvimento histórico para o crescimento humano. “Somos feitos de nossas construções passadas, presente e, até mesmo, dos nossos sonhos do futuro”, destacou.