Itabira possui uma relação única com a literatura: é a cidade natal de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores escritores da língua portuguesa. A partir dessa ligação, o Município tem procurado estabelecer ações de incentivo ao hábito de ler — mas sem muito sucesso. Agora, um projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores busca ser mais um instrumento de estímulo à leitura.
De acordo com o projeto de lei 05/2022, de autoria de Júlio César de Araújo “Contador” (PTB), o programa “Leitura nos Espaços Públicos” é “destinado a incentivar a utilização dos espaços públicos para a prática da leitura, com o objetivo de despertar nos frequentadores o hábito e demonstrar que a leitura pode ser realizada em todos os locais”.
Ainda segundo a proposta, a Prefeitura de Itabira “poderá reservar espaço especialmente destinado à leitura, publicar textos de orientação e incentivo ao estudo e à leitura, assim como realizar outras atividades de motivação, tais como: palestras, simpósios, shows, concursos, gincanas, atividades lúdicas e outras correlatas”.
O texto também autoriza o Executivo Municipal a “celebrar convênios com entidades governamentais e não governamentais, estabelecer parcerias com instituições públicas e privadas de ensino em todos os níveis, devidamente reconhecidas, e demais órgãos da sociedade civil, e buscar apoio para promover e divulgar o programa”.
O projeto de lei 05/2022 foi aprovado por unanimidade nos dois turnos de votação – sendo o último realizado na terça-feira (15). O texto segue para sanção ou não do prefeito Marco Antônio Lage (PSB).
Literatura em Itabira
Nas últimas décadas, a Prefeitura de Itabira tem desenvolvido iniciativas voltadas para o setor cultural na cidade. Nesse contexto, algumas ações são inspiradas na literatura. Porém, devido a falta de planejamento e de uma gestão de projetos eficientes, assim como a limitação de investimentos, o Município não tem colhido os resultados esperados.
Os Caminhos Drummondianos, que traduzem poemas de Carlos Drummond de Andrade na paisagem urbana de Itabira, é um dos poucos museus de território em todo o mundo. Apesar do potencial turístico e cultural, os locais que integram o roteiro convivem com a falta de cuidado e a ausência de uma política efetiva de preservação e divulgação do patrimônio histórico e artístico do Município, o que leva ao sucateamento dos Caminhos Drummondianos.
Realizada desde 1998 pela Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), a Semana Drummondiana é pensada para ser um festival literária. Porém, o evento, que acontece na última semana de outubro, quando se celebrar o aniversário de Drummond e o Dia Nacional da Poesia, vem esbarrando na falta de investimentos para avance e consiga se equiparar aos grandes eventos literários do país — a exemplo do Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
O Festival de Inverno de Itabira, também promovido pela FCCDA, e que em 2022 chega à sua 48ª edição, também não tem tido êxito como um mecanismo de incentivo à leitura.
Como resultado disso, um das duas livrarias da cidade esteve perto de fechar as portas em 2021 — um reflexo do baixo índice de leitores na cidade e do impacto da pandemia de Covid-19. As atividades dessa livraria só não foram encerradas porque a FCCDA cedeu um espaço para que ela pudesse seguir atuando no Município.
Além disso, em 2021, por iniciativa do projeto Sempre um Papo, mais uma festa cultural foi instituída na cidade. O Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) surge como uma opção para desenvolvimento artístico, principalmente no âmbito da literatura. Em sua primeira edição, o evento teve boa resposta de público e a expectativa é de que nos próximos anos a cultura também passe a ser vista como uma das alternativas para a diversificação econômica da cidade — o que passa, necessariamente, por uma nova estruturação dos aparelhos e políticas culturais do Município.