Acostumada às salas de aula, a professora Giselle de Paula Queiroz deu puxões de orelha na tarde desta terça-feira (26). Mas não nos seus alunos, e sim em vereadores itabiranos que bateram boca após a também pró-reitora da Unifei fazer o uso da tribuna. As discussões foram protagonizadas pelos vereadores Heraldo Noronha Rodrigues (PTB), Sebastião Ferreira Leite “Tãozinho” (Patriota) e Luciano Gonçalves dos Reis “Sobrinho” (MDB).
Durante o uso da tribuna, Giselle Queiroz falou aos vereadores sobre o aniversário do campus itabirano da Unifei, a sua importância para o município e seus atuais projetos. Concluído o discurso da professora, Heraldo Noronha criticou a Vale por um suposto baixo apoio financeiro dado a Itabira e, consequentemente, à universidade.
“Acho que a Vale ainda dá muito pouco para Itabira. Isso que ela fez com a Unifei, de dar R$ 100 milhões, é muito pouco. Porque imagina o tanto que a Vale já lucrou em Itabira. A Vale nasceu em Itabira, tudo que ela é hoje é através de Itabira. Muitas vezes falam da situação em Brumadinho, só que já tivemos situação pior em Itabira. Se for olhar o tempo que a Vale vem retirando minério, fazendo esse buraco imenso em Itabira, degradando o meio ambiente, ela tem feito muito mais mal em Itabira do que fez em Brumadinho”, iniciou.
Logo após, Luciano Sobrinho disse concordar que a mineradora poderia investir mais recursos nas obras da universidade, mas opinou que a Prefeitura não soube o que fazer com a verba de R$ 100 milhões repassada pela empresa.
“Com todo respeito a sua autoridade, o senhor fica falando que o atual prefeito é o prefeito do povo. Que prefeito do povo? O senhor está falando que a Vale está contribuindo pouco, e de fato também acho que é pouco, mas o pouco que contribui o município deixa passar e não faz nada, presidente”, disse.
A partir daí, ambos iniciaram um bate-boca, no qual Heraldo acusou Luciano Sobrinho de defender a Vale, enquanto o emedebista dizia concordar com as críticas à mineradora, mas sem deixar de criticar a Prefeitura.
Quando os ânimos pareciam apaziguados, Tãozinho Leite criticou a ausência do presidente da Câmara durante a fala de Giselle. “Ouvi atentamente o discurso de vossa excelência, mas não posso deixar de manifestar também que se vossa excelência estivesse muito interessado na fala da Giselle, estaria aqui na hora do discurso”.
Bastante irritado, Heraldo disse ter escutado o discurso da pró-reitora em sua sala, chegando a chamar o colega de “bobo” e o exigindo respeito.
“Eu acompanhei toda a fala dela lá dentro, você me respeita. Eu sei tudo o que ela falou aqui, você tem que ter respeito, rapaz. Você está dando uma de bobo, sabe que na minha sala dá pra ouvir tudo que acontece aqui dentro”.
Puxão de orelha
Após acompanhar atentamente o bate-boca, Giselle chamou a atenção dos parlamentares e ressaltou que, desta forma, não será possível avançar no tema. “Respeitando todos vocês e a opinião de cada um, eu gostaria de dizer que se continuarmos assim não vamos a lugar nenhum. Porque se temos um propósito para a Unifei, precisamos de uma agenda sistemática técnica. A gente precisa estar realmente motivado, não da boca para fora, e que cada gestão se comprometa em continuar aquele projeto magnífico. Que muitos de vocês, assim como eu, acreditam que Itabira merece”, iniciou.
Em tom forte, a professora e coordenadora geral do projeto CITInova se disse incapaz de contribuir com o sonho iniciado pelos fundadores da Unifei, diante das atuais discussões.
“A Unifei foi criada a partir do sonho de muitas pessoas, e hoje eu me sinto incapaz, diante do que a gente vê no dia a dia, de contribuir. Por que? Porque simplesmente as discussões são mais vazias do que realmente levam a gente a fazer um planejamento estratégico adequado, um plano de ação efetivo, que ultrapasse as pessoas. A todo momento, a gente bate, julga e ofende as pessoas. E eu estou falando isso porque para eu estar nesse cargo, não dependo de ninguém. Eu sou uma concursada da universidade, aceitei o desafio e no momento que essa gestão entender que não posso fazer meu papel técnico, eu não estou à disposição. Então gostaria que a Câmara, assim como a Prefeitura de Itabira, Vale e todas as instituições, realmente tivessem uma agenda técnica. Para que nós, da Unifei, pudéssemos efetivamente estar participando ativamente e trazendo, do nosso ponto de vista, até onde realmente podemos concretizar esse sonho e podemos fazer na prática”.
Por fim, Giselle Queiroz ressalta já ter evoluído do nível de brigas que, para ela, não levam a nada. Segundo a professora, são necessárias ações mais efetivas para que Itabira não ande mais em círculos.
“Já cansei e descansei muitas vezes ao longo desses 13, indo para 14 anos (de Unifei). E eu não vou embora de Itabira, acredito muito, assim como outras pessoas da Unifei. Mas acredito, ainda mais, que quando a gente realmente tiver uma discussão técnica, alinhada com planejamento estratégico e um plano de ação, iremos evoluir. Enquanto isso, serão apenas conversas na mídia que desgastam e ofendem as pessoas. Eu não gosto de participar disso, aos meus 42 anos já evoluí desse nível e acho que a gente precisa realmente ter uma ação mais efetiva para que Itabira evolua e não ande mais em círculos”, finalizou.