O futebol mudou muito. Talvez você já tenha lido isso neste espaço em outras oportunidades, mas preciso ser repetitivo. E não me refiro nem ao futebol de 30, 40 anos atrás. O futebol jogado em 2010 já não é mais o mesmo. E dentro desta constante transformação, algumas posições cruciais tem se reinventado ao longo do tempo. Aos goleiros, é exigido um jogo de alto nível com os pés. Aquele meia cerebral, que se dedica apenas à armação do time, está cada vez mais extinto. E o camisa 9 não fica para trás.
Se há algumas décadas a exigência era apenas pela presença de área e o faro de gol, hoje, com toda a sofisticação do esporte, estes atletas estão assumindo novas funções em campo. Uma, em especial, tem chamado a atenção: os atacantes armadores. Com ampla liberdade em campo, vários camisas 9 espalhados pelo planeta tomaram o lugar do antigo “camisa 10”, a lendária figura que encantava torcedores e imprensa com passes incríveis e uma visão de jogo diferenciada.
O primeiro esboço desta mudança talvez tenha sido há 11 anos, no Barcelona de Pep Guardiola. No dia 2 de maio de 2009, os catalães visitavam seu grande rival nacional, o Real Madrid, e conquistavam uma goleada histórica: 6 a 2, em pleno Santiago Bernabéu. Como não poderia ser diferente, o nome do jogo foi Lionel Messi, mas uma ideia de Guardiola mudou os rumos daquela partida. Antes escalado na ponta direita, onde combinava várias jogadas com o brasileiro Daniel Alves, Messi foi escalado como a referência do ataque.
O resultado? A defesa do Real Madrid, perdida com a movimentação do argentino, não sabia como marcá-lo. Permiti-lo sair da área e perder a referência na marcação? Ou acompanhá-lo até o fim e abrir buracos na defesa? A escolha foi pela segunda opção, o que, obviamente, criou vários espaços no miolo de zaga merengue, que foram muito bem aproveitados pelo Barcelona.
No geral, esta é a aposta dos times que optam por este centroavante cerebral. Firmino, no Liverpool, exerce função parecida. Apesar de ser o homem mais ofensivo na equipe de Jurgen Klopp, o brasileiro sai da área o tempo todo e abastece bastante seus companheiros de ataque. Atraindo os zagueiros adversários, Firmino cria vários espaços, que são atacados pelos rápidos pontas do atual campeão inglês, Mohamed Salah e Sadio Mané.
Benzema faz um trabalho muito parecido no Real Madrid atualmente. Um dos protagonistas da maior potência do futebol europeu, o francês se destaca menos pelos gols marcados e mais por seu senso coletivo. O próprio Cristiano Ronaldo, hoje na Juventus, se aproveitou bastante da mobilidade de seu ex-colega de time enquanto esteve no Real Madrid.
Aqui no Brasil também temos alguns exemplos. Na categórica vitória do Palmeiras sobre o Atlético-MG por 3 a 0, Luiz Adriano se consagrou com seus passes precisos para os pontas da equipe palmeirense. Jogando com uma linha alta, como gosta Sampaoli, o Galo sofreu para achar o centroavante do Verdão. O próprio Atlético-MG aposta neste método, especialmente com Eduardo Sasha, ex-Santos.
Isto significa o fim do camisa 9 “romântico”? Claro que não, o futebol e todas as suas variações ainda permite jogadores com diferentes características. Mas é bom observarmos este movimento dentro do que consideramos como o futebol de alto nível. Senão, só começaremos a nos adaptar quando a posição estiver se reinventando novamente. E acredite: isso vai acontecer.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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