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Vladimir Putin e a perigosa percepção do fiasco bélico

Putin adverte sobre "efeitos catastróficos" em um embate entre o Irã e Israel para a região

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Há oito meses, o autocrata Vladimir Putin tomou uma decisão tresloucada: invadiu a Ucrânia, depois de dissimulações e desmentidos. A atitude- de tão ousada e inesperada- remete à psicopatia. Mas havia cálculo nessa história. Afinal – como em Hamlet de Shakespeare- teve metódica loucura nessa trama toda.

 

Em determinadas circunstâncias, ações burlescas de ocasionais ditadores são meros transtornos mentais. E tem um complicador a mais nessa teoria: esses carniceiros exibem fictícia coragem e falso patriotismo. São simples canastrões. Os altos muros palacianos (e, aqui, leia-se Kremlin) escondem seus medos, taras, recalques e frustações. Esses sujeitos jamais aparecem em campo de batalha.

Não passam de falastrões de gabinetes ou covardes a granel. Milhares de jovens – que nada têm a ver com esses caricatos personagens – perdem a vida em sangrentas batalhas. Matam e morrem sem mínima causa.  Putin é raro exemplar de animal disfuncional. Infelizmente, não é um espécime em extinção. 

Uma constatação. A Guerra da Ucrânia é irmã univitelina do conflito do Vietnã, ocorrido na já longínqua década de 1960. Os Estados Unidos entraram de gaiato na pancadaria do Sudeste Asiático. Meteram-se inadvertidamente num conflito típico da Guerra Fria: a eterna luta do bem contra o mal. De um lado da trincheira, os comunistas do Vietnã do Norte. Na outra ponta, os capitalistas moradores do Vietnã do Sul. Uma briga, portanto, entre filiais dos EUA e URSS. 

Os norte-americanos inventaram uma justificativa para se envolverem com a cara e a coragem no quebra-quebra: o falso incidente do Golfo de Tonquim. Os estrategistas de Washington imaginaram que a confusão seria resolvida com uma rápida incursão no teatro de guerra. O inimigo socialista (Vietnã do Norte) seria eliminado num piscar de olhos. Mas, não. O rápido movimento de cílios durou 12 anos (1959 a 1971).

No final das contas, a maior potência mundial saiu de cena com o respectivo rabo entre as pernas. Os filhos de Tio Sam sofreram derrota humilhante. Cerca de 3 milhões de pessoas morreram na bagunça armada. Os americanos cometeram inomináveis atrocidades contra a população civil. Foi um dos maiores vexames da história da humanidade. 

Essa lorota serve para introduzir outro ponto de vista: o atual mandarim da Rússia, assim como Adolf Hitler, foi péssimo estudante de história. Se conhecesse minimamente a matéria, jamais repetiria o desatino dos estadunidenses. O ex-agente da KGB projetou a invasão da Ucrânia como simples viagem de turismo. Seria uma “operação militar especial”, não agressão a uma nação estrangeira – conforme o ditador exigiu que a imprensa russa informasse para a população local.   

Não há como comparar o poderio bélico dos dois países.  Mas a coisa não funcionou como os generais de Moscou previram. A resistência ucraniana ultrapassou os limites do previsível. E pior: os “guerreiros” invasores começaram a ser rechaçados impiedosamente. Vladimir- com sua ambição desmedida – produz monumental fiasco na arte do combate. Consequência: o neocsar se sente humilhado e acuado. Diante de tão clamoroso fracasso, resolveu amedrontar o mundo. O “todo poderoso” ameaça botar a aventura militar em outro perigoso patamar. 

A ideia, agora, é criar um dantesco inferno planetário. Primeiro passo para esse fim (ou o fim): Putin convocou 300 mil reservistas (ou condenou cidadãos com até 65 anos à morte) e anunciou a anexação de territórios do Leste ucraniano (Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizha). E o mais grave: avisou que poderá usar armas nucleares nesse jogo mortal pré-fabricado. Mas, e daí? O aumento no tom da retórica do presidente russo deve ser levado em conta? Convém colocar as barbas de molho. Com psicopatas não se brinca.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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