O sorriso cativante. O falar firme e forte. A sinceridade revela a face mais dura da vida, sem subterfúgios. Um inegável carisma é contraponto à aridez pragmática. A série de adjetivos é insuficiente para definir Yara Bombom: a garota de programa exemplar.
Os caminhos dessa carioca de 32 anos foram pavimentados por uma difícil realidade. E existe um complicador social a mais nessa história toda. Bombom é tríplice minoria na multicultural sociedade brasileira: mulher, negra e prostituta. A prostituição, enfim, foi a única solução para a manutenção de um lar em frangalhos. A fome desesperadora da filha ilustra uma dramática passagem de vida. O diálogo entre mãe e filha revela toda a crueldade dessa tragédia humana.
– Mãe, estou com fome! Aqui, em casa, tem Danone?
– Não, minha filha. Não tem
– Nem Nescau, mãe?
–Minha filha, nem isso temos hoje. Não temos nada para comer, minha filha.
– Tá bom, mãe. Não fique triste, eu bebo água mesmo.
Bombom já tem 11 anos de profissão. Ela esteve no Sala de Visitas da DeFato, onde concedeu comovente entrevista. Falou do primeiro programa. Um acontecimento constrangedor. E qual a descrição do cliente número um? “Era um homem bastante velho e muito malcuidado, com as orelhas cheia de cabelos. Até parecia que não tomava banho há vários dias. Os dentes estavam estragados. Naquele momento, não me contive e comecei a chorar”, relembra Yara, que recentemente quase perdeu a vida no confronto com uma colega. Levou facada por conta de um desentendimento por dinheiro.
A profissional do sexo – apesar de todas as adversidades – construiu um patrimônio fundamental, no Rio de Janeiro (a casa própria). E até já pensa em aposentadoria. Hoje, ela – que é frequentadora assídua de academia – faz um curso de licenciatura em Educação Física a distância. Confira, no vídeo abaixo, o depoimento completo. Aproveite para percorrer os caminhos e os descaminhos de uma garota de programa.