O presidente ucraniano Volodmir Zelensky acusou a Rússia de usar a energia como arma após o país de Vladimir Putin cortar o fornecimento de gás para a Polônia e para a Bulgária na quarta-feira (27). Em um discurso feito na noite de ontem, Zelensky chamou a medida de “chantagem energética” para instigar uma crise internacional nos preços do gás e punir os países pelo apoio dado à Ucrânia durante a guerra.
“A Rússia está tentando provocar uma crise global de preços. Para começar o caos em todos os mercados básicos e especialmente no mercado de alimentos”, disse Zelensky. Ele acrescentou que Moscou estaria esperando para usar “uma ou outra área comercial” contra os europeus para reforçar sua máquina militar.
Segundo Zelensky, a medida serviu para destacar que “ninguém na Europa pode esperar manter qualquer cooperação econômica normal com a Rússia”, enviando um recado para os países do bloco que são dependentes da energia russa, como a Alemanha — que tem a maior economia do continente.
Desde que o corte no fornecimento de gás foi anunciado, líderes europeus criticam a medida. “O anúncio da Gazprom de que está interrompendo unilateralmente a entrega de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa da Rússia de usar o gás como instrumento de chantagem”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado. “Isso é injustificável e inaceitável.”
O corte de combustível da Rússia ocorreu um dia depois de os Estados Unidos e de pelo menos 40 países se comprometerem a armar a Ucrânia “em longo prazo”. A mudança mais significativa foi da Alemanha, que disse que enviaria dezenas de veículos antiaéreos blindados. Até então, o país evitava enviar armas pesadas de guerra para as tropas ucranianas.
Em um discurso após a medida, o presidente russo, Vladimir Putin, alertou outras nações contra a interferência na guerra e ameaçou contra-ataques “rápidos como um relâmpago”.
ONU
Em viagem à Kiev, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, afirmou que “a guerra é má”. Ele viajou para a Ucrânia para conversar com Zelensky, dias depois de se encontrar com Putin no Kremlin.
Guterres prometeu continuar tentando intermediar uma retirada de civis de uma usina siderúrgica na cidade de Mariupol, depois da ONU afirmar que Putin concordou “em princípio” em permitir a saída destes, e disse que eles pagam o preço mais caro da guerra.
“Eles (os civis) estão pagando o preço mais alto por uma guerra para a qual não eles não têm nada a ver. Isso é algo que todos deveriam se lembrar, em qualquer lugar do mundo. Onde quer que haja uma guerra, o preço mais alto é pago pelos civis”, declarou.
Guterres visitou uma igreja ortodoxa em Bucha, onde fotos que revelaram valas comuns e corpos caídos nas ruas após a saída das forças russas provocaram pedidos de investigação sobre crimes de guerra. Ele disse que a visita o fez “sentir o quão importante é (ter) uma investigação completa e responsabilidade” do Tribunal Penal Internacional (TPI).
“Estou feliz que o Tribunal Penal Internacional esteja a par da situação e que a Promotoria já esteja aqui”, disse Guterres. “Apelo à Federação Russa para que aceite cooperar com o Tribunal Penal Internacional. Mas quando falamos de crimes de guerra, não podemos esquecer que o pior dos crimes é a própria guerra”.