Na quarta passada, às 3 da tarde, o mercado financeiro precificou a expectativa de crescimento global, a partir da divulgação da ata da última reunião do FOMC (Comitê de Política Monetária do Banco Central Americano). A maioria dos membros já admite a retirada de estímulos monetários a partir de novembro deste ano.
Logo após a divulgação da ata, as bolsas caíram, o dólar subiu em relação às principais moedas e nos países emergentes, como o Brasil, a alta da moeda americana foi ainda mais forte e os juros futuros negociados na B3, superaram 10% a.a., algo que não acontecia desde 2018, ano de eleição e de muitas incertezas.
O índice Ibovespa chegou a perder os 115.000 pontos voltando aos níveis de abril, depois de ter atingido mais de 130.000 pontos em junho. O dólar voltou a superar a marca de R$5,40 depois de ter sido negociado abaixo de R$4,90, em junho.
E o que aconteceu depois de junho? A mini reforma tributária não foi votada, uma dívida de R$89 bilhões, em precatórios, para ser paga à vista, caiu no colo do governo, os ruídos da votação e da derrota do governo, que ganhou mas não levou, o voto auditável e a mudança de tom no relacionamento entre o executivo e o judiciário abalaram a confiança do investidor no futuro da atividade econômica do País.
Além da ata do FOMC e dos nossos próprios problemas (políticos e fiscais) na Ásia, a China vem apertando o cerco regulatório em vários setores e a variante Delta do Covid incomoda e assusta o mundo, de novo…
O interessante é que se olharmos para os números da economia, constatamos que terminada a temporada de balanços, do segundo trimestre, as empresas lucraram muito mais, a arrecadação da Receita Federal bate recordes históricos, a balança comercial também bate recordes, a criação de empregos formais já ultrapassa 1,5 milhão nos primeiros seis meses do ano e o PIB deve crescer mais de 5%, em 2021.
Parece que os ruídos políticos estão se sobrepondo ao bom desempenho da economia e impedindo uma precificação mais justa do mercado brasileiro. Estamos sendo precificados como se estivéssemos vivendo uma crise institucional com as instituições funcionando. Crise, como dizem os chineses, é sinônimo de oportunidades.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.