Na semana passada, os principais Bancos Centrais do mundo realizaram suas reuniões de política monetária e sinalizaram que em 2022 o dinheiro será mais escasso e mais caro, em nível global.
As taxas inflacionárias de novembro acenderam a luz vermelha nos comitês de política monetária e fizeram com que seus integrantes passassem a admitir uma dose mais forte de políticas restritivas para conter a resiliência inflacionária. A inflação ao consumidor nos EUA atingiu 6,8% a.a., a maior em quase 40 anos, a inflação ao produtor, 9,6%a.a., a maior da história, e, na Europa, a inflação ao consumidor bateu na trave dos 5% e ficou em 4,9%a.a.
Na última reunião do ano as taxas não foram alteradas, mas, nos comunicados e nas entrevistas, os membros do Federal Reserve já enxergam os juros entre 0,75%a.a. e 1,00%a.a. no ano que vem. No discurso proferido após o comunicado da decisão, Jerome Powell, presidente do Banco Central americano deixou claro que a prioridade, neste momento, é o combate à inflação e não mais o pleno emprego.
Os investidores captaram e precificaram a mensagem: as bolsas caíram , o dólar se fortaleceu e os juros futuros subiram. Nos EUA as ações de empresas de tecnologia foram as que mais sofreram pela perspectiva de um dinheiro mais raro e mais caro em 2022.
A retirada de estímulos monetários foi acelerada de 15 para 30 bilhões/mês. Até o final de outubro eram injetados 120 bilhões /mês que foram reduzidos para 105 e agora para 75 bilhões/mês.
O Banco Central da Inglaterra, na prática, mostrou que hoje o combate à inflação é mais importante do que a retomada da economia e elevou os juros de 0,1% para 0,25%a.a. ignorando o aumento de casos de Covid-19 provocado pela variante Ômicron que já afeta a economia britânica. O Banco Central Europeu assim como o americano não mexeu nos juros, mas anunciou a retirada dos estímulos monetários da economia.
Aqui no Brasil, foram divulgados a ata da última reunião do COPOM (que subiu os juros para 9,25%a.a.) e o RTI, Relatório Trimestral de Inflação, documento elaborado a cada trimestre pelo Banco Central para análise e projeção do comportamento inflacionário e suas consequências sobre os principais indicadores da economia.
Segundo o Banco Central, “o relatório de inflação apresenta as diretrizes das políticas adotadas pelo Copom, considerações acerca da evolução recente do cenário econômico e projeções para a inflação. As projeções são apresentadas em cenários com condicionantes para algumas variáveis econômicas. O Copom utiliza um conjunto amplo de modelos e cenários para orientar suas decisões de política monetária. Ao expor alguns desses cenários, o Copom procura dar maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para sua eficácia no controle da inflação, que é seu objetivo precípuo”.
No último relatório do ano, a autoridade monetária deixa claro que vai continuar a elevação da taxa básica de juros até o nível necessário para que a inflação retorne ao centro da meta, o que só deve acontecer em 2023, de acordo com as projeções contidas no documento.
De acordo com o RTI de dezembro, o crescimento do PIB será menor tanto para 2021 quanto para 2022 em relação ao que havia sido projetado no RTI de setembro. Para 2021 a projeção passou de 4,7% para 4,4%, e para 2022, de 2,1 para 1%. A diminuição do ritmo da atividade econômica deve ocorrer em razão da inflação (que afeta o poder aquisitivo das famílias) e do remédio administrado em doses cada vez maiores na tentativa de contê-la, o aumento da SELIC (taxa básica de juros) que encarece o crédito e torna ainda menor o nível de consumo.
A inflação projetada pelo Banco Central no RTI de dezembro foi revisada para cima tanto para este ano quanto para o ano que vem se compararmos com os números projetados em setembro. Para este ano a inflação deve ser de 10,2%, em setembro a projeção estava em 8,5%. Para o ano que vem a projeção passou de 3,7% para 4,7% e para 2023 foi mantida em 3,2%.
O RTI não faz e não traz projeções para a Taxa Selic, mas a ata da última reunião do COPOM aponta uma nova alta de 1.5 ponto percentual para a próxima reunião que acontece em fevereiro.
Diante da ata do COPOM e do RTI, o mercado faz suas projeções e já aponta uma taxa SELIC média de 11,75%a.a. no final de março, e acredita que esse será o nível final de elevação dos juros nesse ciclo de aperto monetário.
Resumo da ópera: o combate à inflação deverá ser o foco dos principais bancos centrais do mundo e isso implica em dinheiro mais caro e mais raro, e, consequentemente em um menor nível de atividade econômica no planeta. Aqui no Brasil o crescimento deve ocorrer em um nível abaixo do que esperávamos até julho, mas acredito que o nosso crescimento será comandado mais pelo nível de investimento privado do que pelo consumo das famílias, e, que poderemos sim crescer mais do que 1% em 2022.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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