A presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Itabira fez circular uma nota de repúdio às manifestações do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), bem como às decisões do município para frear o avanço da pandemia de Covid-19. A carta classifica as medidas de restrição vigentes como “ditatoriais e inconsequentes”. A postura da CDL, no entanto, divide opiniões entre seus aproximadamente 600 afiliados.
Desde 8 de março, Itabira fez adesão voluntária à onda roxa do plano Minas Consciente, que prevê tanto o fechamento do comércio não essencial quanto o toque de recolher entre 20h e 5h. Outras 17 cidades da região também concordaram em seguir os protocolos. A partir de 17 de março, o governador Romeu Zema (Novo) determinou a extensão da onda roxa aos 853 municípios mineiros, com previsão de valer, inicialmente, até 31 de março. Todavia, os efeitos foram prorrogados até 4 de abril, domingo de Páscoa.
Nesta semana que se encerra, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) anunciou medidas ainda mais restritivas: funcionamento dos supermercados até às 19h30, com menor fluxo de pessoas, e a proibição da venda do que não é considerado essencial: os eletrodomésticos e eletroportáteis; produtos têxteis; brinquedos; papelaria e itens de decoração – com exceções. A divulgação do novo decreto é aguardada para este sábado (27).
“Exagero crescente”
Para a presidência da CDL, há um “exagero crescente, atormentador e gradativo de medidas inconstitucionais e intempestivas que vêm sendo impostas ao povo itabirano”. No entendimento do grupo, as exigências “atentam contra a liberdade de ir e vir” e são dotadas de “autoridade abusiva”.
“As portas dos mais humildes, os pequenos comerciantes, são sempre as primeiras a serem fechadas, o senhor lhes impõe o sacrifício até que a fome reine em suas famílias. Essas dependem de pequenas vendas para a sobrevivência e não se sustentam com aglomerações”, diz trecho da carta.
Quanto às novas regras para os supermercados, a CDL compara Itabira ao regime de Cuba, socialista. “(…) ouse fechar portas da mineradora e impeça que seus milhares de operários fiquem em casa, como fez em dez dias o mandatário anterior”, provocou a entidade, embora, em junho do ano passado, tenha partido do Tribunal Regional do Trabalho da 3º Região (TRT-3) a decisão para que a Vale paralisasse três minas de seu complexo local, após a confirmação de casos de Covid-19 entre os trabalhadores.
“Insanidade”
A CDL conclui a carta com um pedido de “humanidade” e ataca os comentários feitos pelo prefeito e sua equipe para que a população não compre em comércios que descumprem as regras da onda roxa.
“Pedimos, Senhor Prefeito, bom-senso [sic], humanidade e coerência para que tenha a oportunidade de governar com a necessária prudência até o fim de seu mandato. Ele [Marco Antônio Lage], que chegou ao cúmulo de pedir ao povo que não compre em lojas determinadas, autorizadas pela Justiça. Infelizmente, demonstra completa insanidade mental. Repúdio à maldade, inconsequência, covardia e falta de conhecimento”.
A íntegra da carta de repúdio está na página da CDL em suas redes sociais. No Facebook, dezenas de comentários foram feitos na publicação. Alguns comerciantes disseram ser contrários à postura do grupo e que o comunicado não representa a opinião da totalidade dos afiliados.
A Prefeitura de Itabira não se manifestou, até o momento, sobre a publicação da CDL.
Cenário dramático
Itabira atravessa o pior momento desde o início da pandemia do coronavírus, com o primeiro caso positivo registrado em 25 de março de 2020. Há 22 dias (em 5 de março), o governo municipal comunicou a ocupação de 100% das unidades de tratamento intensivo (UTI) para Covid-19 na cidade. De lá para cá, a taxa se manteve inalterada e óbitos passaram a ocorrer no Pronto-Socorro Municipal, por pacientes que aguardavam internação. O número de mortes, que cresceu exponencialmente, chegou a 161 casos nessa sexta-feira (27).
Além da realidade local, Itabira é polo de saúde para 12 municípios de sua microrregião.