Na quarta-feira passada (4), Lula foi capa da revista americana Time com a seguinte chamada para o conteúdo da entrevista: “ O segundo ato de Lula. O mais popular líder brasileiro busca o seu retorno para a presidência”.
Em um mundo pós pandemia, em cenário de guerra, que convive com a maior alta de alimentos da história, segundo dados da FAO, com o preço do barril de petróleo no maior nível dos últimos sete anos, e consequentemente com a maior inflação ao consumidor registrada na zona euro, desde a adoção da moeda (7,9%), com a maior inflação americana dos últimos 40 anos (8,5%), com a maior inflação média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico dos últimos 34 anos (8,8%) e com a inflação no Brasil chegando a 12%, o candidato à presidência, que segundo os institutos de pesquisa se encontra à frente na corrida presidencial, diz com todas as letras que não discute política econômica antes de ganhar as eleições e que ao invés de ser perguntado sobre o que vai fazer deveria ser considerado pelo que já fez…
Segundo Lula, primeiro você tem que ganhar as eleições, e, depois, de acordo com as composições feitas para governar, você decide o que vai fazer com a economia do País.
A inflação global que tira o poder de compra das famílias, o sono dos Bancos Centrais e reduz o crescimento da economia, podendo levar o mundo a uma situação de estagflação, é um problema de mercado, mas é a política econômica a ser implementada, é a gestão do Estado que definirá a intensidade da dor do País e do cidadão comum nessa travessia.
Chega a ser patético ouvir do candidato favorito nas pesquisas que o seu programa de governo é ganhar as eleições e depois ele se acerta com sua turma para tocar o país.
Parece que o candidato petista quer convencer os eleitores que em 2023 ele repetirá o que fez entre 2003 e 2010. Nesses 20 anos o mundo de Lula parou no inchaço de seu ego, e pelo visto, ele se esqueceu que sob a batuta de sua sucessora Dilma Rousseff e seus aliados, o Brasil viveu a pior crise econômica da história registrando uma recessão de 3,8% em 2015, e 3,6% em 2016. Petrobrás, Correios, BNDES, Caixa, Banco do Brasil são exemplos de estatais que sangraram vítimas de esquemas de corrupção e ou no financiamento das campeãs nacionais e dos países amigos do governo petista.
Após a era Sarney, que também ficou conhecida como a década perdida, o período Dilma foi o de maior caos na história econômica do País, e Dilma era o “poste” de Lula que tomou uma trombada do petrolão, que nada mais era do que o mensalão turbinado de Lula.
A descoberta do pré sal colocou praticamente todos os ovos do modelo econômico na cesta do binômio óleo e gás com a Petrobrás sendo transformada na galinha dos ovos de ouro dos negócios e da corrupção. A crise de 2008 que a princípio era marolinha para o Brasil colocou na mesa o modelo desenvolvimentista e populista tocado por Guido Mantega que contemplava uma política anticíclica que ao desonerar, sem critérios, e em nome da manutenção de empregos que não foram mantidos, empresas e setores, acabou quebrando o País.
Na matéria da Time, o consultor político Thomas Traumann tenta sintetizar o sentimento e o pensamento do ex presidente: “Lula na realidade não apresentou um plano para o futuro. Por enquanto, ele está apenas apresentando a ideia de que ele foi um presidente melhor que Bolsonaro”.
Como economista e cidadã entendo que no mínimo, o ex presidente faltou com respeito à sociedade brasileira diante da irrelevância (na sua opinião) da construção, apresentação e defesa de uma política econômica para seu governo, se for eleito. A falta de uma política econômica deixa dúvidas quanto à vontade e a capacidade do ex presidente em praticar e defender a estabilidade do Real através de seus 3 pilares : política de metas inflacionárias, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. O Real que vai completar 28 anos é uma conquista da sociedade brasileira assim como o Banco Central independente.
Resumo da ópera: essa entrevista mostra Lula sendo o Lula que fundou e conduziu o PT em um projeto de poder e não o Lula que teve a chance (e não aproveitou) de reformar e transformar o Brasil com a implementação de políticas de Estado.
A continuidade da aprovação das reformas, a busca do equilíbrio fiscal e do crescimento sustentável são pautas obrigatórias nos programas de partidos e nos debates de candidatos.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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