Era muito difícil — quase impossível — manter uma revista na década de 1990, principalmente numa cidade do porte de Itabira. Em Belo Horizonte, algumas até circulavam esporadicamente. E há um claro motivo para esse vácuo midiático: o elevado custo. Mas, além disso, poucas gráficas tinham condições técnicas para imprimir um grande número de exemplares. E mais. Não havia ainda os atuais recursos tecnológicos. A internet engatinhava e os primeiros (e gigantescos) aparelhos de celular apenas começavam a invadir o cotidiano das pessoas.
Mesmo com esse cenário desfavorável, José Almeida Sana cismou de criar uma revista mensal. A ousadia do jornalista provocou ironias e ceticismo. Quase ninguém acreditava na possibilidade de êxito desse sonho “absurdo”. Mesmo com a terceira edição nas bancas, a incredulidade das pessoas persistia. A professora Myriam Brandão — idealizadora da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) — teria comentado na ocasião: “estou gostando muito da revista, mas é uma pena que ela não vai continuar”. E o coro de itabiranos pessimista completava a cantiga: “nada, em Itabira, vai para frente”.
Mas o antigo desafeto da terra de Drummond foi insistente. Essa ideia fixa de revista começou no jornal Hora H, um periódico do visionário Luiz de Andrade Müller. Sana, na época, era um dos principais articulistas do semanário. E aproveitou essa prerrogativa para fazer surpreendente proposta a Muller: “Vamos fazer uma revista mensal?“. A princípio, o diretor do Diário de Itabira até topou embarcar na aventura.
A conversa, porém, não prosperou. Sana não recuou e se reuniu com João Bosco Caldeira Rocha, o proprietário da Gráfica Dom Bosco. O jornalista queria saber se a empresa tinha condições de imprimir a revista. Esse contato foi muito positivo. Caldeira Rocha não só garantiu a impressão como aceitou se associar ao empreendimento. O empresário sacramentou o negócio com uma frase bastante pragmática: “Você escreve e eu imprimo”. Foi um começo bastante promissor. Em janeiro de 1993, a Itabira Centro-Leste em Revista apareceu pela primeira vez.
Circulou com uma tiragem inicial de 500 exemplares. Alguns anos mais tarde, esse número atingiu a marca de 1.000 revistas por mês. A meta do fundador do órgão de imprensa era bastante ambiciosa: Sana projetava a cobertura de toda a região Centro-Leste de Minas Gerais. Mas existia uma necessidade fundamental para esse objetivo se transformar em realidade.
O título da revista deveria se adaptar a essa nova circunstância, por motivos óbvios. José Sana, então, procurou Fernando Martins, popular Fernandinho da Hollywood. O profissional de imagens criou logomarca e título. Então, para atingir novos horizontes, a publicação recebeu o nome Itabira Centro-Leste em Revista. A obra, porém, continuou meio artesanal. A capa e as páginas eram em preto e branco. Em pouco tempo, apareceu uma nova sócia para o negócio: a publicitária Sirlene Barcelos Amorim, que permaneceu pouco tempo na sociedade. A revista só crescia. Mas um velho detalhe continuava: a sede da redação continuava improvisadamente nas dependências da Gráfica Dom Bosco.
Além de ser comercializada em bancas, contava com uma pequena carteira de assinantes. Mais um avanço. Em agosto de 1993, José Sana adquiriu a parte de João Bosco e virou, ele e a esposa Marlete de Moura Morais Sana, proprietários da revista. A Dom Bosco, porém, continuou com os trabalhos de impressão. Pouco tempo depois, uma gráfica de Belo Horizonte passou a fazer o serviço.
No planejamento gráfico, a revista sempre acompanhou o desenvolvimento tecnológico do jornalismo. Nesse sentido, a capa evoluiu e ganhou cores. José Sana era responsável pelas grandes reportagens — ou a principal chamada de capa de cada edição. Mas ele mantinha um time de colaboradores em quase todas as cidades da região.
Ainda assim, o irreverente O Cometa Itabirano brincava e tachava a Itabira Centro-Leste em Revista de “a revista de um repórter só”. Vale registrar que a diagramação também era feita na capital mineira. Itabira ainda não contava com profissionais com essa especialização.
Zé Sana também sempre manteve um revisor de textos na redação. Ele nunca abriu mão desse profissional. O ideal do antigo menino alpinista de São Sebastião do Rio Preto, porém, não acaba aqui. E a revista cresceu tanto que o Centro-Leste mineiro ficou pequeno. E foi aí que, de fato, o melhor aconteceu. Sempre com o imaginário no futuro de Itabira, obsessão que nunca se apagou, José Sana foi mais uma vez ousado e deu definitivo passo à frente. De fato, o processo passou por uma grande e capital transformação. Fiat Lux.
Confira as atrações do primeiro exemplar da “Itabira Centro-Leste em Revista” — janeiro de 1993:
A primeira edição da “Itabira em Revista” tinha 40 páginas. Confira os principais destaques da estreia:
- A chamada de capa era para um texto de Ricardo Dequech, ex-superintendente da CVRD. O tema foi “a industrialização de Itabira” que, para Sana, representa a linha editorial da revista.
- “Nas portas do sucesso” foi o título de uma matéria sobre a dupla sertaneja Josemir e Josiney, que fazia muito sucesso e tinha planos para conquistar o Brasil.
- As notas sociais da colunista Emília Romilda ocupava uma página.
- A página central trazia a relação dos novos prefeitos da região e o orçamento de cada município: “Quem entra e quem sai”.
- Sana publicou também com uma coluna de página inteira: “Li vai afunilar”, previa o cronista.
- Outra matéria: “Os mais da Câmara” fazia uma apresentação da nova composição do Legislativo itabirano.
- “As Feras de Li” foi uma apresentação do secretariado do novo governo de Itabira.
- O humor de “o Bom Cabrito não Berra”, que virou uma referência tradicional da revista.
- O novo prefeito Li Guerra deu uma entrevista exclusiva e avisou com destaque: “Brigarei com a Vale se for preciso”.
* Ao longo do mês de abril está sendo publicada uma série de matérias sobre a história do portal DeFato, que completa 30 anos em 2023;
** Leia a terceira parte da história do portal DeFato na próxima sexta-feira (21);
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**** Enquanto isso assista a entrevista do jornalista e fundador da DeFato, José Sana, ao atual editor de Política do portal, Fernando Silva: