Desde abril de 1500 quando Pedro Álvares Cabral aportou por aqui e que nossas riquezas foram exaltadas e cantadas em prosa e verso , temos a certeza de que somos um País de muito futuro. Durante estes 520 anos o mundo aprendeu a admirar o nosso potencial de crescimento mas nós não conseguimos de forma assertiva e sustentável transformar tamanho potencial em geração de riqueza e qualidade de vida para a maior parte da população. O excesso da presença do Estado na economia trazendo como consequências a burocratização dos processos produtivos e a corrupção juntamente com uma legislação trabalhista paternalista foram , na minha opinião, os piores entraves ao tão esperado crescimento brasileiro. E eu estou falando tudo isso porque entramos no século XXI e já vivemos um quinto desse século como vivíamos em meados do século passado e só depois de 35 anos e de muitas promessas de campanha estamos convivendo na prática com a vontade política de reformar e de colocar o Brasil em condições de competir , apesar do atraso, com as grandes economias do mundo.
A capacidade em gerenciar a crise já nos mostra a mudança de gestão da coisa pública , o reflexo em números pode ser visto no desempenho do PIB no segundo trimestre do ano e nos primeiros seis meses. Em abril, no auge da crise, os mais pessimistas acreditavam que o PIB brasileiro pudesse sofrer uma retração de 15% a 20% no segundo trimestre e na véspera da divulgação o intervalo das apostas ia de 9% a 15%, eu , desde a divulgação dos números das vendas ao varejo e da produção industrial de maio e junho revisei minhas projeções para o modo “otimista” e passei a trabalhar com o intervalo de queda entre 9% e 10%. Como podemos ver no quadro abaixo, a queda foi de 9,7%. Mas os números absolutos dizem pouco e por isso é preciso relativizar, comparar para podermos entender o impacto real na economia. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 9,7% no segundo trimestre de 2020 (comparado ao primeiro trimestre de 2020), na série com ajuste sazonal. Em relação a igual período de 2019, o PIB caiu 11,4%. Ambas as taxas foram as quedas mais intensas da série, iniciada em 1996. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho, houve queda de 2,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
Em valores correntes, o PIB do no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 175,4 bilhões em Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
A taxa de investimento no segundo trimestre de 2020 foi de 15,0% do PIB, ficando abaixo da observada no mesmo período de 2019 (15,3%).
No 1º semestre de 2020, o PIB caiu 5,9% em relação a igual período de 2019. Nesta comparação, houve desempenho positivo para a Agropecuária (1,6%) e quedas na Indústria (-6,5%) e nos Serviços (-5,9%).
Ao analisarmos o PIB temos que ver o comportamento pelo lado da oferta , de quem produz, e pelo lado da demanda, de quem consome. Pelo lado da oferta , mais uma vez o destaque positivo ficou com o setor agropecuário que apresentou crescimento em todas as comparações, e pelo lado da demanda , a queda do consumo das empresas, a chamada formação bruta de capital fixo, e das famílias foram os destaques mais negativos.
Desde a divulgação do PIB muito se falou no pior desempenho da história, da volta do País à recessão mas pouco se disse sobre o comportamento da economia brasileira em relação às maiores economias do mundo. Diante do COVID-19 todas as potências mundiais perderam fôlego e ritmo. Com exceção da China e Índia que cresceram no segundo trimestre , a maioria dos países entrou em recessão e com números piores do que o nosso, como pode ser visto no quadro abaixo:
Em levantamento feito pela empresa de consultoria Austin Rating o Brasil ficou em 22º lugar em um ranking de 53 países medidos pelo desempenho dos seus Produtos Internos Brutos (PIBs) na margem do segundo trimestre.
Com o resultado, o Brasil divide a 22ª posição com Alemanha e Tailândia, que tiveram contrações de 9,7% em seus PIBs no trimestre. Logo acima, na 21ª colocação, estão os Estados Unidos (-9,1%) e abaixo está a Bulgária (-9,8%). Os três primeiros lugares do levantamento são ocupados por China (11,5%), Índia (0,7%) e Hong Kong (-0,1%).O penúltimo lugar é dividido entre Reino Unido e Tunísia, ambos com contração de 20,4% nos seus PIBs. O Brasil tem o melhor desempenho dentre os países latino americanos e apresenta uma retração semelhante aos EUA que injetou mais de R$1 trilhão de dólares para resgatar a sua economia.
Na semana passada tivemos a divulgação da produção industrial de julho que cresceu 8% em relação a junho , o terceiro mês consecutivo em alta com destaque para o crescimento na produção de bens de capital (18,9%).É bom lembrar que os bens da capital são aqueles usados para a produção de novos bens e serviços o que mostra que as empresas voltaram a investir em expansão dos seus negócios .Na quarta feira teremos a divulgação dos números do varejo em julho e na quinta, dos números do setor de serviços. Juntando o lé com o cré , acredito que teremos um número forte nas vendas ao varejo , algo entre 5 a 8% de crescimento e o início de uma recuperação mais forte no setor de serviços que deve mostrar mais força a partir de agosto com a intensificação da flexibilização pelo Brasil. Nesse ambiente de retomada econômica temos em paralelo o andamento das reformas administrativa e tributária no Congresso . Resumo da ópera , o retrato do PIB do primeiro semestre , apesar de feio, é muito mais bonito do que possa parecer e estamos falando do Brasil do retrovisor. Se olharmos no para-brisa podemos ver a construção de um ambiente econômico muito mais favorável do que aquele que tínhamos no pré pandemia, e, é por isso que acredito que no final do ano poderemos ter uma retração do PIB muito mais próxima de 4% do que de 6% e que 2021 poderá ser um ano de muito crescimento, em torno de 3,5%.
Dias melhores virão…
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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