No segundo turno da campanha presidencial, em 2018, tomei o cuidado de ler o programa do PT, em especial as propostas econômicas (aqui, neste link, vocês, de forma resumida, poderão ver as diferenças entre as propostas de Haddad e Bolsonaro), e decidi que, como formadora de opinião e com o conhecimento adquirido ao longo dos anos no exercício da minha atividade, não poderia subir e ou permanecer em cima do muro. De forma aberta e clara usei por várias vezes o meu espaço na Rádio Itatiaia para defender as propostas liberais de Bolsonaro desenhadas por Paulo Guedes.
A vitória de Haddad e o uso do Estado para resolver todos os problemas do país nos levariam em questão de dias para um destino venezuelano. Na época, em algumas palestras, cheguei a usar a expressão: “É JAIR OU JÁ ERA”. Cheguei a comentar isso com o próprio presidente quando ele me telefonou em razão de um comentário feito na Itatiaia quando do lançamento do Plano Mais Brasil. Na época, eu disse que gostaria de estar nascendo naquele momento para vivenciar as mudanças no Brasil, que eram políticas de estado e não de governo.
Durante nossa conversa, me pediu se poderia publicar o comentário nas suas redes, consenti e fiquei impressionada com o zelo e o respeito demonstrados. Me lembro que na conversa eu disse ainda: “Presidente, segura na mão do Guedes, na mão do Moro e toca o barco”. Depois do telefonema ele me recebeu para uma entrevista no palácio do planalto e pude ter ainda mais certeza do seu jeito Bolsonaro de ser: simples, direto, otimista, patriota e empolgado em trabalhar pelo Brasil. Conversando com os funcionários que servem o palácio há vários presidentes, senti que todos com os quais conversei gostavam deste presidente menos protocolar e mais próximo.
E porque que eu estou falando tudo isso ?
Porque a maioria do povo brasileiro democraticamente elegeu Jair Messias Bolsonaro e depois de eleito Jair tratou de entregar as suas promessas de campanha, apesar da oposição pesada. Reduziu o número de ministérios e montou sua equipe de forma técnica, sem negociações com políticos ou com partidos. De cara, marcou um golaço. A equipe que já tinha Paulo Guedes a frente da Economia, ganhou o reforço de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça. E esses dois ministros se transformaram nos dois principais pilares técnicos e emblemáticos do governo de Jair Bolsonaro por representarem a mudança de modelo: o fim do estado corrupto; da velha política; do estado arrecadador e voraz na cobrança de impostos e contribuições sobre a renda das famílias e lucros das empresas para financiar a ineficiência de serviços públicos de péssima qualidade e empresas públicas criadas e geridas até então para atender e empregar interesses políticos. Um governo que vinha para mudar estruturas seculares que em nome do povo sugaram o futuro de várias gerações. Era a saída do capitalismo de estado para o capitalismo de mercado. Estávamos diante, pela primeira vez na história, da real possibilidade de diminuição do tamanho do estado na economia com o combate implacável à corrupção, além da aprovação das reformas necessárias para entrarmos finalmente no século XXI (tributária e administrativa).
Essa foi a percepção da maior parte da sociedade brasileira e em especial daqueles que votaram em Bolsonaro. Mudar um modelo, reinventar um país loteado em capitanias hereditárias de clãs políticos, mexer em estruturas arcaicas e enraizadas em privilégios e mamatas não é um trabalho fácil e encontra e encontrará sempre fortes resistências. Mas o governo foi em frente, a reforma da previdência e sua aprovação abriram caminho para o rearranjo econômico. O ajuste fiscal passou a ser cada vez mais real, no mercado internacional a volta da credibilidade precificou o Brasil no menor nível de risco da história e passamos a conviver internamente com a menor taxa de juros da história.
Sempre disse que economia e política andam de mãos dadas. Quando a economia vai bem, a política também vai bem, e vice versa. A volta da estabilidade econômica abriu caminho para a retomada em um ritmo mais forte da economia, mas, no início de 2019, tinha uma Vale no meio do caminho e ainda uma crise na Argentina, nosso maior parceiro no Mercosul. A tragédia de Brumadinho praticamente interrompeu a indústria extrativa mineral no país e a crise argentina acertou em cheio a indústria automobilística. A consequência foi a perda de em torno de 1 ponto percentual do crescimento de 2019.
Abrimos o ano de 2020 vivenciando uma queda consistente no nível de desemprego, o aumento na arrecadação da Receita Federal, desempenho positivo do setor de serviços, com a indústria voltando em níveis de 2014 (antes do início da recessão de 2015 e 2016), o agronegócio bombando e com um crescimento anualizado acima de 2%. Eram sinais animadores para o desempenho do Brasil em 2020, mas a epidemia chinesa, que até meados de março poderia roubar alguns décimos no nosso PIB positivo, virou pandemia e o único remédio capaz de conter a velocidade avassaladora de propagação do vírus fechou a economia, em especial o setor de serviços, que no Brasil responde por 70% do PIB. E agora os mais otimistas projetam uma queda de 3,5% na nossa atividade econômica.
Apesar de todo o cuidado e zelo da equipe econômica de Paulo Guedes na adoção de medidas para mitigar os efeitos da crise, o Brasil está nu e mostra de forma clara as consequências dos erros do passado: a pobreza da maioria da sua população que sairá ainda mais pobre quando a pandemia passar.
Diante dessa terceira guerra mundial, não tem como a economia ir bem. E se a economia não vai bem, a política também vai mal.
Vendo, ouvindo e relendo as falas de Moro e Bolsonaro, como cidadã fico muito triste pela forma como trataram o voto de confiança que receberam da maioria dos brasileiros e brasileiras. Em nome do poder de presidente, Bolsonaro se esqueceu que a caneta que ele usa deveria representar as aspirações de uma nação e não os seus desejos ou dos seus filhos. Não deveria ter exonerado e assinado um decreto sem o conhecimento de seu ministro, que, do alto de seu ego não deveria ter comunicado a sua saída em rede nacional sem falar com aquele que o escolheu em nome do povo brasileiro.
Em plena terceira guerra mundial não vi em nenhum dos dois a humildade e o patriotismo capazes de provocar um diálogo e um entendimento em favor da nação brasileira, mas sim orgulho e vaidade, predicados que aproximam os dois dos velhos políticos.
Pelo desenrolar dos acontecimentos, a sensação é a de que já vimos esse filme antes.
Torço para que Paulo Guedes permaneça em nome dos valores que faltaram aos dois.
#vamostrabalhar! Foco no que interessa: saúde e economia.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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