Após uma explosão antecipada de casos de dengue neste ano, alguns Estados brasileiros começam a notar uma desaceleração na curva de infecções, segundo balanço apresentado nesta terça-feira (12), pelo Ministério da Saúde. O cenário, porém, é bastante desigual entre as unidades federativas. Enquanto Minas Gerais e Distrito Federal, por exemplo, apresentam indícios de queda nos registros, outras unidades federativas começam agora a ter uma aceleração no volume de infectados e declaram emergência, o que traz um certo grau de incerteza de como a epidemia deve ser comportar neste ano.
“Podemos dizer que estamos começando uma desaceleração, entendendo que estamos em tempos diferentes da epidemia. Alguns Estados ainda estão crescendo, alguns já tem um decréscimo confirmado”, disse Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, em entrevista coletiva a jornalistas.
Ao todo, o País registrou 1.585.385 casos prováveis de dengue até a semana epidemiológica 10, encerrada na sexta, 8. Em todo 2023, foram 1.658.814 notificações. Até o momento, 450 pessoas morreram, 2/5 do total de óbitos do ano passado (1.094), quando foi batido o recorde histórico. Outros 849 óbitos seguem investigação.
Segundo a pasta, há uma preocupação com o avanço dos casos graves e com sinais de alarme, que já são 13.112, mais da metade do acumulado do ano passado (55,47%). Outro ponto de interrogação é como o vírus vai se comportar no Nordeste com a chegada da temporada de chuvas, e também a circulação do sorotipo 3 da doença, que voltou ao País após 15 anos.
Segundo Ethel, por exemplo, enquanto Minas Gerais e o Distrito Federal, que puxaram a curva no início do ano, apresentam uma queda nas notificações, no Sul do País, em especial em Santa Catarina e no Paraná, municípios começam a decretar emergência. Há decretos do tipo em 288 cidades.
Ethel alertou que sempre há atraso nas notificações, por isso, é preciso olhar com cautela para o acumulado da semana epidemiológica 10, já que os números tendem a ser corrigidos para cima. Ela destaca, no entanto, que, para analisar o cenário, a pasta usa também modelos estatísticos. “Temos duas semanas seguidas de queda. Há muito dados da última semana para entrar, mas mesmo esses dados entrando, não serão superiores aos da semana 9 [que já foi menor do que a 8]”, opina a secretária.
Vale ressaltar, porém, que o boletim da semana anterior também mostrava uma queda de casos nas semanas 8 e 9 em relação à semana 7, tendência que não se confirmou quando novos dados foram lançados no sistema. Isso porque há atraso na notificação de casos pelos municípios, o que faz epidemiologistas considerarem as estatísticas das últimas semanas menos fidedignas e ainda passíveis de grandes mudanças.
Dúvidas
O ministério já vislumbrava e falava sobre uma possível desaceleração há algumas semanas. A principal dúvida era que algumas unidades federativas assistiam a um crescimento de casos, e a pasta não sabia qual seria o peso delas na curva nacional.
“Vou dar um exemplo de Estados populosos, vemos Minas Gerais desacelerando, e temos a entrada de São Paulo. Um decrescendo e o outro crescendo. Ao que parece, o decréscimo de Minas é maior do que um aceleração de São Paulo”, falou Ethel.
Nordeste e o sorotipo 3
Há outros fatores que elevam a incerteza do que pode ocorrer ao longo deste ano. Após muitos anos, o País tem a circulação dos quatro sorotipos da dengue ao mesmo tempo. Por ora, a explosão de casos parece ser puxada pelos tipos 1 e 2. Segundo especialistas, a vigilância genômica do Brasil é baixa.
A reintrodução do tipo 3 no ano passado pelo Norte do País, após 15 anos, é uma preocupação latente. Afinal, a imunidade adquirida contra a dengue é sorotipo-específica. O DENV-3 não parece estar influenciando de forma importante o cenário epidemiológico por enquanto, mas tem uma capacidade de agravar o cenário, segundo especialistas e autoridades. Quando isso vai ocorrer? Neste ano? Em 2025? São perguntas ainda sem respostas.
Para respondê-la, as autoridades olham com atenção para o Nordeste principalmente. Por ali, fora a Bahia, a epidemia nacional não parece se espelhar. “Estamos com essa circulação dos tipos 1 e 2. No Nordeste, as epidemias anteriores foram por dengue 1 e 2. Ou seja, várias pessoas já tiveram a doença e têm imunidade para esses sorotipos”, comenta Ethel.
“No Nordeste, as chuvas começam agora em março, e a tendência é que aumente o número de casos”, acrescentou Márcio Garcia, diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde. As próximas semanas devem, portanto, esclarecer como a epidemia vai se comportar neste ano.