Na última quinta-feira (12), o governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) comunicou a saída do então secretário de Saúde Carlos Eduardo Amaral Pereira da Silva, após o escândalo dos “fura-filas” na vacinação contra a Covid-19. No mesmo dia, Zema anunciou Fábio Baccheretti como substituto na pasta — e que tomou posse no cargo nesta segunda-feira (15), em solenidade na Cidade Administrativa. O novo secretário terá o desafio de organizar um sistema de saúde pressionado pelo aumento de casos e óbitos por Covid-19, com diversas cidades entrando em colapso.
Para enfrentar esse desafio, Fábio Baccheretti reúne a experiência de longa trajetória no Sistema Único de Saúde (SUS), atuando por quase uma década no Hospital Júlia Kubitschek, e de ter ocupado nos últimos anos o o cargo de presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável por gerir as unidades hospitalares do Governo de Minas Gerais. Ele, também, atua como plantonista no Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, função que manteve mesmo após assumir o comando da Fhemig.
“É um momento único para a saúde pública em toda sua história e um grande desafio que me foi dado. A minha história, desde quando me formei, em 2010, é completamente vinculada ao SUS. Na Fhemig tentamos, junto com a Secretaria de Saúde, fazer um grande trabalho nesta pandemia. Foram mais de 200 leitos abertos de Unidade de Terapia Intensiva. Chegar hoje à secretaria, como médico, é o ápice da minha intenção de fazer o bem para a sociedade. Espero mesmo que as minhas decisões sejam acertadas. Conto com uma equipe muito técnica, muito forte”, afirmou Baccheretti.
Durante a posse, Romeu Zema desejou sucesso ao novo secretário e se colocou à disposição em apoiá-lo no que for necessário. “Tenho certeza de que você está bem preparado, tem toda formação, já teve experiência que o torna totalmente apto para o cargo. Conte comigo para tudo aquilo que eu puder ajudar. Estou ao seu lado para fazer o que for possível”, afirmou.
Empenho
O secretário empossado afirmou que a sua gestão empenhará todos os recursos em apoio aos cidadãos mineiros. “É o momento mais difícil que vamos viver. Espero realmente estar digno dessa secretaria e, junto com o governador, dar uma resposta bem eficiente ao estado e ajudar a confortar o sofrimento das famílias. Esta é uma semana difícil, chegaremos a 1 milhão de casos em Minas, mas a gente vai conseguir dar essa resposta logo”, ressaltou Baccheretti.
Trajetória
Baccheretti iniciou sua trajetória no Hospital Júlia Kubitschek, segundo maior hospital da Rede Fhemig, tendo atuado como clínico plantonista da Unidade de Emergência. Posteriormente, assumiu os cargos de coordenador de Plantão, coordenador da Unidade de Emergência e assessor da Gerência Assistencial. Também foi diretor-geral do mesmo hospital e, mais recentemente, em 2019, assumiu a presidência da Fhemig.
Enquanto esteve na direção do Hospital Júlia Kubitschek, a unidade se tornou a primeira da rede Fhemig a ter um Núcleo Interno de Regulação (NIR), melhorando os indicadores hospitalares de tal forma que atraíram a atenção de outros hospitais de Belo Horizonte.
Escândalo dos “fura-filas”
O então secretário de Saúde, Carlos Eduardo, foi afastado do seu cargo, na quinta-feira, depois de polêmicas envolvendo a vacinação de 806 servidores administrativos que estão fora das prioridades definidas pelo Plano Nacional de Imunização. Carlos Eduardo, inclusive, foi imunizado. “Quis ser vacinado para não parecer que sou contra a vacina”, alegou.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde argumentou, por sua vez, que “muitos de seus servidores visitam hospitais, fazem viagens relacionadas a políticas públicas na área de saúde, razão pela qual são grupos prioritários”.
Mais cedo, naquele dia, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades na campanha de vacinação contra a Covid-19. O presidente da Casa, deputado Agostinho Patrus (PV), deferiu requerimento assinado por 39 parlamentares.
A CPI terá prazo de 120 dias para investigar o desvio de recursos na imunização de grupos não prioritários. Também fazem parte do escopo da investigação “o baixo investimento em ampliação de leitos para enfrentamento da pandemia em Minas e a não aplicação do mínimo constitucional em serviços públicos de saúde”. “Vamos investigar a fundo esses que se entendem como privilegiados em passar à frente na vacinação. Neste momento de pandemia, é um dos crimes mais graves”, afirmou Agostinho Patrus, durante instalação da CPI.
Na segunda-feira (8), o Ministério Público de Minas Gerais informou que abriu inquérito para apurar os casos de vacinação dentro da SES.