À frente da Secretaria Municipal de Saúde desde abril deste ano, quando substituiu Eliana Horta, Luciana Sampaio assumiu o comando da pasta em um momento turbulento. À época, Itabira, assim como o restante do país, enfrentava uma devastadora segunda onda da Covid-19, que levou o número de vítimas da pandemia no município aos três dígitos.
Cinco meses depois, o momento é outro, mas as preocupações não cessaram. Uma das principais se refere ao número de itabiranos que não tomaram a segunda dose das vacinas contra a Covid-19. Na última quinta-feira (26), durante sua tradicional live semanal, o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), afirmou que mais de 10 mil moradores da cidade aptos a se imunizarem completamente não o fizeram.
E este foi um dos temas da entrevista, exclusiva, concedida por Luciana Sampaio ao portal DeFato. De acordo com a secretária de saúde, os alertas têm surtido efeito e, das 10 mil segundas doses que estavam atrasadas, 4 mil foram aplicadas nos últimos dias. Com isso, Itabira atingiu um percentual de 27% de pessoas completamente vacinadas, número que estava em 24% na semana passada, segundo a chefe da pasta.
Durante a conversa, a secretária municipal de saúde ainda revelou que o município inicia, na semana que vem, a imunização dos jovens de 19 anos (e provavelmente os de 18). No mesmo período, Itabira também deverá avançar no calendário regular da segunda dose. Confira, abaixo, a entrevista completa com Luciana Sampaio.
DeFato: O não retorno dos itabiranos para a segunda dose é a principal preocupação do município atualmente?
Luciana Sampaio: Também. O retorno para segunda dose é importantíssimo, estamos fazendo busca ativa, os ACE’s (agente de combate às endemias) estão indo nas casas, olhando o cartão de vacinação, agendando a vacina quando o cidadão não agendou no centro de saúde. E a medida mais importante é a conscientização da população, que no momento pelo qual passamos precisamos ter os cuidados primordiais: distanciamento social, evitar aglomeração, uso de máscara, higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel. É com essa dupla – vacinação e precauções – que o município está trabalhando muito.
DeFato: A população deu uma relaxada neste momento?
Luciana Sampaio: É inerente ao ser humano. A pandemia hoje já não assusta muito, porque com o avanço da vacinação tivemos uma diminuição no número de óbitos, não temos hospitais lotados, então é inerente ao ser humano entrar na zona de conforto. Sempre é um papel muito importante do poder público chamar essa população de novo e dizer: “olha, continuamos em pandemia”.
DeFato: Você consegue detalhar esse cenário da segunda dose em números?
Luciana Sampaio: Estávamos com aproximadamente 10 mil doses em estoque para a segunda dose. Dessas 10 mil doses, 4 mil pessoas já deveriam ter tomado… e na semana que vem já começamos a chamar mais pessoas do calendário certinho para a segunda dose. E com essa parceria entre a imprensa, Prefeitura, entre todos os entes, e principalmente com a comunicação, as 4 mil doses que estavam paradas, devido à prazo de calendário e falta de procura do cidadão, foram aplicadas, as pessoas procuraram. Então o trabalho feito por todos os entes foi muito efetivo.
DeFato: Esta imunização incompleta, sem as duas doses, pode levar à desinformação sobre a eficácia das vacinas?
Luciana Sampaio: O esquema completo da imunização se dá após 14 dias da segunda dose, com uma dose você não está imunizado. Então isso gera viés para as fake news surgirem. O nível de segurança de qualquer vacina já existente nunca é 100%. Então sempre vai ter, e isso é matemático e estatístico, um ponto fora da curva. Mas a imunização completa se dá com duas doses, após 14 dias. E nós temos somente uma vacina de dose única, a Janssen. Mas a grande maioria aplicada – CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer – são de duas doses, cada uma com seu tempo de distanciamento entre a primeira e segunda.
DeFato: O que você acha que está causando este problema?
Luciana Sampaio: São vários vieses. O esquecimento é enorme, mesmo você falando que vai ter segunda dose, reforçando no cartão do cidadão, o esquecimento é enorme. As pessoas pensam “tomei uma dose, e deu”. As fake news ajudam bastante a distanciar as pessoas da segunda dose, os efeitos colaterais, porque qualquer vacina tem reação. A vacina dupla adulto, que é tétano e difteria, de dez em dez anos o adulto toma reforço, causa uma dor muscular incrivelmente forte, não é apenas um incômodo. Mas se você se contamina com tétano, é uma doença sem cura… O nosso trabalho é buscar essas pessoas e usar todas as ferramentas que temos.
DeFato: Devido ao aumento de aplicação da segunda dose após o alerta da semana passada, é possível dizer que houve uma falha de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde?
Luciana Sampaio: Nenhuma falha. É aquilo, você tem que intensificar e continuar batendo na cabeça aquela mensagem, quase uma mensagem subliminar que é proibida, mas tem que ser isso. Na minha visão, é o cidadão, perante todos aqueles fatores que falei, achar que tá tudo normal de novo, e não está, temos que continuar fazendo nosso papel. E fora a comunicação, precisamos continuar a incentivar nos nossos meios de conversa, mostrar que estamos em pandemia. O mais grave é isso: o relaxamento em achar que a pandemia já acabou.
DeFato: Como você analisa o cenário atual da pandemia em Itabira? Com cautela, atenção? Houve um grande aumento de casos…
Luciana Sampaio: Nós não dormimos tranquilos, porque estamos em pandemia e o cenário pode mudar de um dia para o outro, estamos trabalhando com o desconhecido. Isso não é antigo, muitos estudos não são conclusivos… e continuamos aqui com o alerta máximo. Podemos estar na onda verde, onda vermelha, o alerta é máximo. Eu falo que meu gabinete é gabinete de crise. Estamos em uma crise de pandemia mundial. Fora a saúde pública ter que continuar fazendo o papel dela, eu tenho um cenário pandêmico para gerenciar. Então nós não baixamos a guarda nunca.
DeFato: Aos que estão com a segunda dose atrasada, como proceder?
Luciana Sampaio: Quem está com a segunda dose atrasada pode ir em qualquer um dos nossos drive-thrus que será vacinado. Ou agendar no PSF do qual ele é referenciado. Mas está com a segunda dose atrasada? Passa no drive-thru da Prefeitura ou da Funcesi. Não precisa estar de carro, pode entrar a pé, porque tem fila para quem está a pé, pode ir de moto… eles (equipes de saúde) estão muito céleres. Estamos com uma média de 600 vacinas por drive-thru, são 1200 doses/dia em Itabira só nos drive-thrus, porque nós temos 32 PSF’S vacinando, mas no PSF é mediante agendamento, para evitar aglomeração, evitar fila. Hoje estamos vacinando 21 anos, mas se é para segunda dose, pode passar lá que você será vacinado.
DeFato: A imunização dos jovens pode dar um boom na vacinação em Itabira?
Luciana Sampaio: Vai dar. O jovem tem a cabeça mais aberta, ele vai e faz. E essa geração é muito célere, muito rápida, ela não quer perder tempo. Chegou o dia dele, ele vai lá, faz vídeo, posta, e é isso mesmo, tem que deixar para a eternidade. Porque estamos vivendo um momento pandêmico até então não descrito na literatura científica. Eu sou da formação da área de saúde, conheci pandemia pelos livros de epidemiologia, eu e toda a geração abaixo da minha. Essa turminha nova aí, os jovens, vai fazer história.