O abandono do Forward Guidance pelo Banco Central sinaliza um aumento significativo do nível de incertezas para a execução da política monetária ao longo de 2021. A previsibilidade do cenário econômico global e do nacional foi seriamente afetada pela intensidade da segunda onda do Covid-19, mas de certa forma amenizada, com o início da vacinação em nível mundial, mas o problema é a disponibilidade de vacinas e insumos para a produção das mesmas e ainda a logística para imunizar rapidamente a população mundial.
Assistimos na última semana a corrida da transmissibilidade x a vacinação e por enquanto o vírus ainda está na frente, e não só aqui no Brasil , mas em todo o mundo. Aqui , a intensidade da contaminação e a precariedade do sistema de saúde estão levando cidades e estados como Manaus, o Amazonas, o Pará e a Rondônia ao colapso no atendimento ao cidadão. A volta do isolamento social vem sendo adotada em várias partes do mundo, e, também no Brasil, em cidades como São Paulo e Belo Horizonte.
A gravidade da segunda onda pode levar o governo a ter que reativar o pagamento do auxílio desemprego o que provoca pressão nas contas públicas (aumento de despesas) e desconfiança nos investidores em relação à capacidade do Brasil em respeitar o teto de gastos e consequentemente a responsabilidade fiscal, condição si ne qua non para a estabilidade dos preços dos ativos, e das taxas de juros e câmbio.
A desconfiança traz instabilidade para o mercado financeiro com saída de investidores de ativos de risco (queda das ações em bolsa), saída e diminuição de entrada de capital estrangeiro ( pressão no dólar) e a exigência de um maior prêmio para correr o risco Brasil (alta nos juros futuros).
A pressão no dólar mantém acesa a chama inflacionária pela alta de commodities e a alta da inflação pressiona os juros futuros e pode fazer com que o Copom, em breve, suba os juros, a SELIC, para tentar conter a alta dos preços levando os investimentos de volta para a ciranda financeira e adiando a decisão de consumo de famílias, e de investimento das empresas, em um momento de guerra, e, em que os principais bancos centrais do mundo administram taxas negativas em favor do investimento na economia real , nas empresas e negócios, e estímulo ao consumo das famílias.
Nos Estados Unidos , cada americano que já recebia US$600,00 vai receber mais US$1400,00 perfazendo US$2.000,00 por mês com o plano trilionário de Joe Biden.
Resumo da ópera: o abandono do Forward Guidance pelo BC mostra uma autoridade monetária preocupada em preservar o poder aquisitivo do cidadão, em outras palavras combater e controlar a inflação, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (essa é a missão do Banco Central) em um cenário de possibilidade de aumento de gastos do governo, de indefinição da velocidade e da intensidade da volta da atividade econômica diante da falta de um cronograma de vacinação que contemple uma imunização em massa( faltam vacinas e insumos).
O que poderia ajudar , contribuir para o sucesso do Banco Central na manutenção da taxa básica de juros nestes níveis históricos e em um momento em que a economia clama por juros baixos para que haja a recuperação da atividade econômica, a geração de empregos e o aumento da renda ?
As decisões políticas em votar o que tem que ser votado para que o Brasil respire … As reformas tributária e administrativa capazes de aumentar as receitas e diminuir as despesas.
Falta ao Brasil políticos verdadeiros, representantes do povo , comprometidos em fazer políticas públicas e não politicagem pelos seus interesses particulares e pela perpetuação na permanência em seus cargos e de seus partidos no poder.
Diante do aumento das incertezas só nos resta aguardar o desfecho da eleição da nova mesa da Câmara e do Senado. Em caso de vitória dos candidatos apoiados pelo governo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, na Câmara e no Senado, respectivamente, poderemos ter uma agilidade maior na votação das reformas e na capacidade de governar do governo Bolsonaro, o que traria uma maior previsibilidade para o futuro das contas públicas e para a gestão do País, diminuindo muito a tensão, caso contrário , a aprovação das reformas, e, de medidas de interesse do governo podem ficar bem mais difíceis, o que poderia ser precificado pelo mercado com mais queda na bolsa, alta no dólar e nos juros.
A prudência do Banco Central em retirar o Forward Guidance deve ser seguida pelo investidor até que o cenário político fique mais claro. Se for investir em renda fixa procure um produto financeiro que pague IPCA ( inflação ) + juros ( que nesse caso serão reais ).
O Tesouro IPCA é o meu produto favorito, busque pechinchas na B3, ações bem baratas com potencial de recuperação ( muitos setores atingidos pela COVID-19 estão com ações bastante descontadas), e, qualquer investimento que esteja pagando CDI ou mesmo a poupança estão com taxas de retorno negativas. Caldo de galinha e bons negócios.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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