Em janeiro, em média, os preços ao consumidor nos EUA subiram 0,6% e em um ano, 7,5%. É a maior alta do índice de preços, o CPI (Consumer Price Index) desde 1982 e isso pode mexer com a sua vida… O mais perverso efeito colateral provocado pela pandemia foi a explosão de preços de commodities, em especial, alimentos e petróleo, provocando uma inflação global.
No início da pandemia, a inexistência de vacinas e medicamentos eficazes no combate ao vírus levou o mundo à prática do isolamento social e trouxe como consequência o desarranjo das cadeias produtivas. Em um primeiro momento, soja e milho dispararam, e, em seguida, foi a vez do petróleo.
No auge da pandemia, a OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus Aliados) promoveu um corte na produção e na oferta de 9 milhões de barris de petróleo/dia, e agora, com o crescimento do ritmo de vacinação e aumento intenso da mobilidade e do consumo da commodity, decidiu aumentar a oferta em apenas 400 mil barris/dia por mês, desde agosto de 2021. Se fizermos uma conta de padeiro, fica fácil entender a disparada do preço do barril de petróleo.
De agosto de 2021 até fevereiro deste ano, a OPEP+ aumentou a sua oferta diária em 2,8 milhões de barris/dia. Resumo da ópera: faltam 6,2 milhões de barris/dia para que tenhamos a mesma oferta que havia antes da pandemia. Além do descompasso entre aumento de demanda e escassez de oferta de petróleo, temos ainda um conflito iminente entre Rússia e Ucrânia que pode afetar a oferta do petróleo russo no mercado, e a Rússia é responsável por 10% da produção mundial.
A China e a Índia também pressionam o preço do petróleo pelo aumento do uso do diesel como fonte alternativa de energia diante de problemas com estoques de carvão mineral, e, a Europa também tem aumentado o uso de diesel como alternativa ao gás natural. Juntando todas as peças deste quebra-cabeça podemos concluir que o preço do barril de petróleo pode chegar a US$100,00/barril e até ultrapassar esta barreira histórica.
E por que eu estou falando tudo isso? De volta ao começo, porque a inflação está assustando até os americanos e, para combatê-la, o Federal Reserve, o Banco Central americano, vai iniciar um processo consistente de alta de juros a partir de março e isso vai fazer toda a diferença no comportamento da economia global.
Passaremos por um período de maior aversão ao risco e consequentemente de menor crescimento econômico que já vem sendo impactado pelos efeitos da inflação que corrói o poder aquisitivo das famílias e o apetite por crescimento das empresas.
O remédio tradicional para o combate à inflação, o aumento dos juros, do preço do dinheiro, já vem sendo administrado nos países emergentes, como o Brasil, e começará a ser usado nos países desenvolvidos provocando um rearranjo no mercado financeiro. Fique atento.
Se você for investidor, o cenário aponta para uma maior atratividade das aplicações em ativos financeiros (títulos que pagam juros), uma menor valorização para o investimento em renda variável (ações de empresas) e um dólar bem mais comportado com a entrada de investimento estrangeiro no País, atraído pelos juros pagos pelos títulos da dívida brasileira emitidos pelo Tesouro Nacional.
Se você está pensando em tomar crédito, se possível, adie sua tomada de decisão porque o dinheiro deve ficar mais caro no Brasil e no mundo.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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