Mais uma vez, as questões políticas podem fazer o Brasil perder o bonde, o trem bala, o jato turbinado da história que não perdoa a incompetência política que rouba a tração da economia. A retomada da economia brasileira é exemplo para o mundo, mas por aqui partidos e políticos preferem focar na manutenção ou na retomada de poder nas eleições de 2022.
Não interessa a projeção de crescimento do PIB em mais de 5%, não interessa o recorde da balança comercial, não interessa a criação de mais de 1,5 milhão de empregos formais nos seis primeiros meses do ano, não interessa o recorde da arrecadação da receita federal no semestre e muito menos o fato de estarmos operando , em todos os setores, acima dos níveis de fevereiro de 2020.
Enquanto, na semana passada, os principais indicadores de desempenho das bolsas americanas e europeias bateram recordes históricos de valorização e o dólar se desvalorizou em média 0,30% em elação às principais moedas do mundo, o IBOVESPA voltou ao patamar de 120.000 pontos com uma queda de cerca de 7% em relação ao recorde registrado em junho, e, o dólar fechou a semana subindo 0,17% em relação ao Real.
Por que estamos operando na contramão do mundo? Pelos nossos próprios pecados, os de sempre, os políticos legislam em prol de seus partidos e de seus interesses particulares e não pelo bem da sociedade brasileira. Votaram a volta das coligações e interromperam a discussão e a votação da minirreforma do Imposto de Renda, que do jeito que foi apresentada conseguiu desagradar muita gente.
A divulgação do índice de inflação ao consumidor nos EUA, 0,5%, em julho, finalmente mostrou desaceleração na inflação americana e acalmou os investidores globais que voltaram a acreditar na manutenção dos juros e dos estímulos monetários por mais tempo e essa foi a principal razão da volta pelo apetite pelo risco e da queda do dólar frente às principais moedas, mas aqui no Brasil, a nossa inflação de julho , acelerou para 0,96% e jogou a inflação anualizada para muito próximo de dois dígitos, 8,99%.
O problema e o receio demonstrados na ata do Comitê de Política Monetária está na inflação puxada pelo preço da energia (conta de luz) e pela pressão que pode vir com a retomada do setor de serviços. Em julho, mais da metade dos 0,96 % da alta foi provocada por energia e passagens aéreas. Resumo da ópera, o preço internacional da maioria das commodities começa a apresentar estabilidade e até mesmo recuo, mas aqui a crise hídrica força o reajuste do nível 2 da bandeira vermelha para pagar o alto custo de geração com o acionamento das térmicas, e a retomada do setor de serviços provoca aumento de demanda o que pode acabar resultar em aumento de preços para o consumidor final.
A crise hídrica não será resolvida no curto prazo, os alimentos podem subir em decorrência da geada que atingiu o sul e sudeste brasileiros e a retomada do setor de serviços ainda está em curso, o que pode resultar em mais um índice indigesto para a inflação de agosto e, consequentemente, uma ação mais firme ainda do Banco Central na condução da política monetária, ou seja, alta de juros.
Com esse histórico positivo de recuperação da economia brasileira, com as projeções de um crescimento forte do PIB para 2021 e 2022, torna-se urgente que as energias sejam concentradas no andamento da pauta econômica e que as reformas sejam votadas assim como uma solução para o pagamento de R$ 89 bilhões em precatórios.
Na sexta, teremos a divulgação dos números do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontando a geração de empregos formais em julho, e, deveremos ter o sétimo mês consecutivo de vagas criadas e ainda a arrecadação da Receita Federal em julho, que poderá registrar mais um recorde. As eleições de 2022 não deveriam ser impeditivos para focarmos em melhorar o que já está melhorando.
Nós não merecemos o descaso que a maior parte da classe política tem com seus eleitores e com a construção de um futuro melhor para o Brasil.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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