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“O governo Marco Antônio Lage não faz acordos e nem negociatas com vereadores”, dispara Márcio Passos

Prefeitura de Itabira: Márcio Passos pede exoneração da Secretaria de Governo

Foto: Reprodução Facebook/Arquivo pessoal

Não faltou ninguém: vereadores, governos anteriores e parte da imprensa.  O secretário municipal de Governo e jornalista – Márcio Magno Passos – armou-se de uma metralhadora giratória e deu tiros certeiros em todas as direções. Na última sexta-feira (11/06), ele concedeu entrevista a DeFato, em seu gabinete, no terceiro andar da Prefeitura. O assessor de Comunicação Rodrigo Andrade foi silenciosa testemunha do “tiroteio”.

Passos criticou duramente os vereadores que votaram contra o Projeto de Lei (PL ) 48/2021. Por meio desse dispositivo,  a Prefeitura pretendia  contrair um empréstimo de  R$ 70 milhões junto à Caixa Econômica Federal. Na oportunidade, o secretário fez um misterioso comentário: “Tem vereador aí que não tem limite. É um saco sem fundo”. O alvo preferencial, porém, foi Neidson Freitas, o líder da oposição: “Ele (Neidson) não é bobo e só usou esse argumento (de que a Prefeitura tem R$ 200 milhões em caixa) para fins políticos”.

Na opinião do jornalista, os governos anteriores sucatearam Itabira: “O centro da cidade está uma maravilha, mas os bairros estão abandonados”. Essa crítica provavelmente foi endereçada a Ronaldo Magalhães, João Izael e Damon de Sena. E sobrou até para a imprensa. O recado foi direcionado a alguns profissionais da mídia: “Tem imprensa aí, que não é imprensa. Eu nunca precisei ficar com pires nas mãos, em órgãos públicos, para sustentar as minhas empresas de comunicação”, alfinetou.

Márcio  garante que está  mais light. Ele contraiu Covid-19 na reta final das eleições do ano passado e permaneceu 15 dias hospitalizado (sete dias só na UTI). Durante esse período, refletiu e  decidiu redirecionar a sua vida: “Eu mudei muito dos meus conceitos, eu voltei melhor (do hospital), não por opção, mas por obrigação”. Confira, a seguir,  a polêmica entrevista do coordenador político do governo Marco Antônio Lage.

 

DeFato: O senhor já ocupou o cargo de secretário de Governo há quase trinta anos, na administração Olímpio Pires Guerra, o Li. Qual a principal motivação para o retorno ao terceiro andar da prefeitura, no mesmo cargo, depois de tanto tempo?

Márcio Magno Passos: Olha, o que me atraiu foi Marco Antônio. Eu conheci Marco Antônio há vinte anos, num encontro rápido. Mas, agora, eu me surpreendi com a capacidade e a bagagem do Marco, mas, acima de tudo, com a forma como ele consegue tratar todo mundo igual. Do presidente da República até uma pessoa mais simples, ele trata a todos do mesmo jeito, nunca altera o tom de sua voz. Marco tem uma proposta de governo que é histórica para Itabira. A cidade precisa buscar a sua diversificação, para depois do minério. O prefeito tem um projeto muito bom, que Itabira ainda não conhece, mas conhecerá ainda nesse ano. Esse projeto está em fase de finalização, estamos procurando o apoio da Vale para essa iniciativa. E outra coisa que me ajudou muito na decisão de voltar a ocupar esse cargo (secretário de Governo) foi a Covid. Na última semana das eleições, eu contraí a doença e passei muito aperto. Fiquei quinze dias internado, e permaneci sete dias na UTI. Foi uma situação muito grave porque eu sou hipertenso e diabético. Quando saí dessa situação, eu pensei: Deus está me dando uma nova oportunidade, nessa vida. Eu voltei e mudei muito dos meus conceitos. Eu voltei melhor, não por opção, mas por obrigação.

 

DeFato: O senhor foi o principal secretário do Governo Li, uma espécie de primeiro-ministro municipal. No governo Marco Antônio Lage, tem a mesma autonomia daquela época?

Márcio Passos: Sim, eu tenho a mesma autonomia que tinha com o Li. Eu, quando comecei a campanha política do Li, também não o conhecia. E, agora, eu acho que Marco Antônio tem muita coisa em comum com o Li, como a seriedade. As jogadas e negociatas não funcionavam com Li e não funcionam com Marco Antônio. Olha, eu não tinha tanto poder assim, na época do Li, porque havia dois irmãos dele que dividiam comigo esse protagonismo. Aqui, nesse governo, há uma diferença. Eu tenho autonomia, tenho apoio do prefeito em tudo, mas trabalho com um secretariado praticamente cem por cento técnico.

 

DeFato: O governo Li era considerado muito técnico. Então, o governo Marco Antônio tem essa caraterística com mais intensidade?

Márcio Passos: Sim, o governo Marco Antônio é mais técnico e muito bom, mas muito bom mesmo. Eu comecei a ver o currículo desses secretários e até parei, pois eram muitas páginas. Então, são assessores com excelente formação técnica, mas politicamente estão aprendendo agora. É bom entender que a gestão pública é um equilíbrio da técnica com a política.

 

DeFato: No governo Li, havia uma tensão constante no relacionamento da Prefeitura com a Câmara de Vereadores. A oposição era bastante atuante e contava até com um programa de rádio o “Tribuna Popular”. Qual a sua perspectiva de relacionamento com a atual Câmara de Vereadores?

Márcio Passos: A minha perspectiva é a de preservação do respeito, responsabilidade e representatividade dos dois lados. O Executivo não funciona sem o Legislativo, e o Legislativo não funciona sem o Executivo, apesar da autonomia de ambos. E o município só funciona quando os poderes se respeitam e trabalham com foco nos interesses da população.

 

DeFato: Então, pelo que se percebe, o nível de tensão entre os dois poderes teve um aumento substancial na semana passada, quando a Câmara não autorizou a proposta de um empréstimo da Prefeitura junto à Caixa Econômica Federal.  Qual a avaliação do senhor sobre esse posicionamento da maioria dos vereadores?

Márcio Passos: Essa situação já aconteceu no Governo Li e no Governo João Izael também (a não autorização de empréstimo para a construção de um boulevard). Então, isso é natural num processo político. E, nesse caso, é preciso que uma situação fique bem clara: o secretário é demissível a qualquer hora.  O vereador, que recebeu voto popular, não é.  Agora nós sabemos que o sistema político, não só de Itabira, mas de todo o Brasil, tem muitos vícios. E esses vícios são condenáveis e inaceitáveis para quem exige a retidão no trabalho público. E isso cria conflitos. Essa proposta do empréstimo não passou na Câmara, onde ninguém levantou nenhum problema com o Projeto de Lei (PL). O PL não passou devido a um problema político. É um direito dos vereadores (não aprovar o empréstimo), mas a questão é política. Um vereador chegou a falar que a Prefeitura tem 200 milhões em caixa. E realmente tem, mas está tudo programado para pagamento de compromissos. Tudo com destinação certa, tudo comprometido. O vereador que fez essa observação sabe disso. Ele não é bobo e só usou esse argumento politicamente. Eu tenho o maior respeito pelo Neidson, gosto de conversar com ele, acho uma pessoa inteligente, mas ele é opositor ao governo. A gente só lamenta que, nessa oposição ao governo, a pessoa acabe fazendo oposição à população. Algumas das obras, que seriam realizadas com esse empréstimo, são até cobranças e indicações dos vereadores.

 

DeFato: O que chama a atenção nesse episódio é que, pouco antes, houve um debate sobre o orçamento impositivo. Num primeiro momento, por unanimidade, os vereadores concordaram com essa proposta. No instante seguinte, quase por unanimidade também, desistiram da ideia. Então, diante dessa situação, imaginava-se que o relacionamento da Prefeitura com a Câmara estivesse num mar de tranquilidade.  Na sua avaliação, por que um relacionamento institucional, que aparentemente estava sob controle, se descontrolou totalmente num momento tão especial?

Márcio Passos: Isso aconteceu porque o governo Marco Antônio não faz acordos ou negociatas com vereadores, conforme acontecia nos governos anteriores. Não vou citar nomes, não tenho esse interesse.

 

DeFato: Aconteceu alguma proposta de negociata para a aprovação desse projeto para o empréstimo?

Márcio Passos: Olha, tem vereador que não tem limite. É um saco sem fundo. E muitas vezes nem é para atender interesses dele. Marco Antônio deixou claro que veio para a política pra mudar um pouco de tudo isso. Eu sei que não vai mudar cem por cento, mas é preciso moralizar um pouco esse relacionamento com a Câmara. É preciso priorizar a cidade. Não há necessidade de regalias, negociatas ou favores pessoais.

 

DeFato: Mas esse comportamento já acontecia na época de Li, ou é um fenômeno do momento atual?

Márcio Passos: É a mesma história. Isso não passa de uma pressão para o prefeito ceder.  Ou o prefeito cede e vai ficar todo mundo sorrindo pra ele, ou ele convence os vereadores de que é preciso maturidade, é preciso mudar o comportamento, porque o povo está cobrando. A Prefeitura tem milhões de reais para investir no povo. São milhões de reais que a Prefeitura paga para manter a Câmara, para que ela trabalhe para o povo.

 

DeFato: E existe alguma estratégia do governo para se tentar uma nova possibilidade de autorização  para esse empréstimo, na Câmara?

Márcio Passos: Claro que sim, e nós acreditamos que os vereadores vão refletir quando perceberem que o mais prejudicado é o povo. Olha, uma estrada (Ipoema- Senhora do Carmo), que foi prometida por todos os ex-prefeitos, desde a época de Li, os vereadores votaram contra essa obra. O vereador que liderou esse movimento foi o mais votado em Senhora do Carmo e Ipoema.  E ele votou contra os interesses do povo dos dois distritos. A outra parte desse recurso (empréstimo) seria um investimento na cidade, que se encontra sucateada. O centro da cidade está uma maravilha, mas os bairros estão abandonados. Os governos anteriores se esqueceram dos bairros. A demanda é enorme. São 1.300 demandas.

 

DeFato: O senhor faz duras críticas aos governos anteriores. Nesse balaio, também está incluído João Izael, que foi o principal apoiador de Marco Antônio Lage, na campanha do ano passado?

Márcio Passos: Eu não estou fazendo nenhuma crítica a nomes. Não estou falando de João Izael ou Ronaldo Magalhães. Não estou falando de ninguém especificamente. Eu disse que os governos anteriores deveriam ter deixado uma cidade menos sucateada, melhor cuidada. E isso não foi feito. Passe pelos bairros e pergunte às pessoas. Mas Marco vai fazer essas obras nos bairros, com empréstimo ou sem empréstimo. Só que, sem esse empréstimo, essa demanda será meio longa, vai demorar.  Então, eu acho que o mais prejudicado é o povo, não o governo.

 

DeFato: Um dos momentos mais tensos do governo Li foi o caso “Rua Columbita”, uma denúncia de corrupção na administração Luiz Menezes, que praticamente provocou um rompimento pessoal entre esses ex-prefeitos. Os dois se tornaram inimigos. Hoje em dia, escorando na tranquilidade da história, distante daquela zona de tensão, qual a sua avaliação sobre esse episódio?

Márcio Passos: Veja bem: a obra não foi feita (a Rua Columbita). Isso ficou devidamente comprovado, não tem como contestar essa situação. Agora, se você está perguntando sobre as denúncias que foram oferecidas sobre essa obra e outras, eu lhe respondo que fui contra. As irregularidades encontradas nas obras do governo Luiz Menezes, que foram encaminhadas ao Ministério Público e à Câmara, eu fui contra. Fui insistentemente contra.

 

DeFato. Então, nessa história, o senhor acabou pagando o pato, pois na época, comentava-se que essa “engenharia” era de sua autoria…

Márcio Passos: Os herdeiros de Luiz Menezes acham que essa coisa é de minha autoria, mas eu fui totalmente contra o encaminhamento da denúncia à Câmara e ao Ministério Público. Eu e Dom Mário Gurgel conversamos muito sobre essa situação, e nós dois fomos contra. Eu até já disse para Marco Antônio: você foi eleito para governar a cidade a partir de sua posse, o que aconteceu antes não é responsabilidade sua. Não é função da gestão atual apurar irregularidades de governos anteriores. Isso é responsabilidade da Câmara de Vereadores e Ministério Público. Eu fui totalmente contra, mas fui vencido pelos irmãos de Li e alguns assessores. Então, tive que acatar a decisão da maioria.

 

DeFato: O Governo Li, por meio da Secretaria de Governo, promoveu uma radical profissionalização no relacionamento com a imprensa. Mas, acima de tudo, foi uma administração muito midiática. Como o senhor analisa o atual perfil do relacionamento imprensa x Prefeitura, levando-se em consideração que o prefeito e o secretário de Governo são experientes jornalistas?

Márcio Passos: Realmente, naquela época, tivemos que fazer uma mudança muito drástica, adequamos a uma necessária de transformação do mercado. Inclusive, até criamos um semanário oficial da Prefeitura (o jornal “A Semana”). Hoje, a situação aqui é diferente. Primeiro que a Assessoria de Comunicação não está na Secretaria de Governo. Ela agora é ligada à pasta de Gabriel Quintão (Assessoria de Gestão, Programas e Metas). E, aí, eu vejo uma dificuldade muito grande com esse relacionamento com a imprensa porque os vícios voltaram.

 

DeFato: O senhor se refere aos vícios no relacionamento com a imprensa, anteriores ao governo Li?

Márcio Passos: Sim, os vícios anteriores a Li. Olhe, a imprensa tem que ser respeitada, a imprensa não pode ser comprada. Marco Antônio é o jornalista de maior expressão da história de Itabira. Ele ocupou o cargo de Diretor de Comunicação de uma empresa internacional (Fiat Automóveis). Então, ele tem que dar o exemplo. Então, não se censura, mas também não se  compra a  imprensa. Publicaremos  os anúncios que a Assessoria de Comunicação julgar necessários. Mas, claro, que haverá alguma dificuldade, porque tem gente aí que não quer trabalhar. Tem imprensa por aí, que não é imprensa, e você sabe disso. Eu sou totalmente contra esse tipo de coisa porque trabalho na imprensa desde 17 anos de idade. Eu nunca fiquei com pires nas mãos para sustentar minhas empresas com dinheiro de órgãos públicos.

 

DeFato: E qual será o critério para a divulgação das peças publicitárias do governo?

Márcio Passos: A minha sugestão é uma pesquisa de alto nível, qualitativa e quantitativa, para apurar onde a Prefeitura vai divulgar. O povo é quem vai decidir isso. O povo mostrará o que ele lê ou ouve. Agora, por outro lado, não somos obrigados a fazer anúncios com quem quer fazer oposição ao Governo. Aquele que faz jornalismo tem toda liberdade para fazer críticas e o diabo a quatro. Agora, se quer fazer oposição, que assuma o ônus dessa opção.

 

DeFato: Numa entrevista a DeFato, o presidente da Câmara, vereador Weverton Andrade (Vetão), afirmou que, de uma forma geral, ao longo do tempo, um “marasmo” instalado no terceiro andar da Prefeitura impedia que informações negativas sobre o governo chegassem aos ouvidos dos prefeitos. O senhor vai manter esse marasmo, ou pretende demolir esse tal marasmo ?

Márcio Passos: Alguns assessores realmente fazem um muro em torno do prefeito, para não deixar que as notícias ruins cheguem a ele. Na verdade, esse muro é uma proteção para esses assessores, que garantem seus empregos quando o prefeito não fica sabendo das notícias ruins. Na verdade, esse marasmo é um muro erigido com os tijolos do puxa-saquismo. Eu sou muito franco com Marco Antônio e sempre falo para ele: Não espere de mim boas notícias. Espere de mim apenas notícias ruins. As boas notícias ficam por conta dos puxa-sacos.

 

DeFato:  O senhor tem uma longa experiência como jornalista e publicitário. No próximo ano, teremos um dos mais tensos processos eleitorais para presidente da República, em todos os tempos. Qual é sua expectativa para esse pleito do ano que vem?

Márcio Passos: Eu acho que teremos que rezar muito para que apareça uma terceira via. Porque, se isso não acontecer, o Brasil vai passar pelos piores momentos. E aí, ao invés de evoluir, vamos regredir muito. A polarização entre bolsonaristas e lulistas não presta nenhum serviço ao país. O que vem por aí pode ser muito pior que uma quebradeira. Uma anarquia generalizada pode ser o caminho para  um golpe.

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