Na próxima segunda-feira (16), os médicos Edson Pereira Lima e Marco Antônio Gomes disputarão a eleição para diretor clínico do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD). Edson Pereira, atual ocupante do cargo, tentará o terceiro mandato consecutivo. O nefrologista e vice-prefeito Marco Antônio Gomes já exerceu a função (diretor clínico), em uma oportunidade.
O pleito, exclusivamente classista, é uma exigência do Conselho Regional de Medicina (CRM). O colégio eleitoral é formado por 211 médicos, a maioria funcionários do corpo clínico do HNSD. Alguns ex-profissionais da instituição e médicos beneméritos da cidade também têm direito a voto.
O vencedor do pleito cumprirá um mandato de dois anos e meio. O diretor executivo do HNSD, Alexandre Silva Coelho, falou com exclusividade à DeFato sobre o processo eleitoral da próxima semana. Na oportunidade, ele fez também uma radiografia completa sobre o funcionamento da Diretoria Clínica e Diretoria Técnica. Confira a entrevista abaixo.
DeFato: Na próxima segunda-feira, durante todo o dia, haverá eleição para diretor clínico do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD). Há necessidade desse processo eleitoral? Não seria mais fácil se esse cargo fosse uma indicação livre da direção da instituição?
Alexandre José da Silva Coelho: A Diretoria Clínica é um órgão colegiado, que tem o seu regimento pautado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina). O diretor clínico representa todas as categorias médicas dentro do hospital. Nós temos o diretor técnico, que é um médico que representa a instituição administrativamente, e o diretor-clínico que representa e dá voz a todos os outros membros do corpo clínico. Então, o diálogo entre a administração, provedoria e o corpo clínico se faz por meio do diretor clínico ou por meio do diretor técnico. O diretor clínico, uma função que tem premissa legal do CRM, tem como atribuição zelar pelo bom funcionamento do corpo clínico e assegurar que as normas do CRM sejam respeitadas. Então, o diretor clínico não pode ser nomeado pelo provedor ou administrador da instituição. Essa eleição é uma exigência de classe (CRM). Já o diretor técnico é uma indicação da provedoria ou administração.
DeFato: E qualquer profissional da área médica pode se candidatar ao cargo de diretor clínico do HNSD?
Alexandre: Hoje o nosso corpo clínico é formado por dentistas e médicos. E essa eleição é exclusivamente para médicos. Então, todos os médicos que compõem as diversas especialidades do Hospital podem montar uma chapa e concorrer, mas tem que ser médico.
DeFato: E qual é o perfil desse eleitorado?
Alexandre: Esse eleitorado é formado por 211 médicos, no corpo clínico. E, aqui, nós temos todas as gerações (de médicos): temos os recém-formados, temos uma geração intermediária e temos também uma geração mais experiente. Então, nesse universo, temos alguns nomes já conhecidos na nossa cidade. Esse eleitorado vai de um perfil mais jovem até a um (perfil) com um tempo intermediário de atuação na instituição.
DeFato: O Hospital tem, atualmente, 1200 funcionários. Por que não abrir a possiblidade de participação (nessa eleição) para todas as categorias? Não seria mais democrático e mais representativo?
Alexandre: O CRM não permite porque essa é uma eleição específica para atender aos interesses da classe médica, regimentada e pautada pelo próprio CRM. Não é algo que se estenderá para a categoria de enfermeiros, assistentes administrativos e outras áreas. Então, é pra defender exclusivamente ao corpo clínico.
DeFato: Então temos, nesse processo, a conformação de um colégio eleitoral bastante hermético. Algo semelhante aos conselhos que elegem os dirigentes de futebol. Esse sistema não possibilita a formação de um monopólio de grupos (ou uma pessoa) e impede o aparecimento de novas lideranças? Em suma, uma pessoa se impõe, domina o grupo e privilegia os seus interesses.
Alexandre: Sim. Hoje, quem tem maior conhecimento, maior liderança e maior trânsito entre os médicos consegue lograr êxito no pleito de diretor clínico.
DeFato: Mas aí não há o risco de formação de uma casta privilegiada, por meio de uma liderança com forte poder de manipulação política, e que consequentemente se transforma num impedimento para o aparecimento de novas lideranças?
Alexandre: É por isso que temos um diretor técnico, que é escolhido pela provedoria e administração, exatamente para fazer com que os interesses sejam interesses comuns para o bem da instituição. Então, a irmandade (Nossa Senhora das Dores) não tem poder sobre o corpo clínico no processo eleitoral, mas no caso de alguma divergência, o diretor técnico pode fazer um diálogo para se chegar a um objetivo comum.
DeFato: O regimento da instituição, por outro lado, não limita a quantidade de mandatos do diretor clínico. Ele pode tentar infinitas reeleições. Esse não é mais um empecilho para o surgimento de profissionais com novas ideias?
Alexandre: Quem elabora esse regimento é o próprio corpo clínico. Ele (o corpo clínico) delibera essa questão por meio de uma assembleia. Esse corpo clínico tem o direito de voto e suas decisões são submetidas ao CRM para aprovação. Então, o CRM é o órgão que pode ou não dar o ‘ok’ nessa questão (sucessivas eleições). Esse regimento, que regulamenta esse processo eleitoral, passou por uma assembleia e recebeu um parecer definitivo do CRM. A decisão final sempre é do conselho de classe.