Na última segunda-feira (3), venceu o prazo estabelecido por três das principais clínicas de fisioterapia de Itabira para que a Unimed renegociasse com elas os valores pagos por meio do convênio médico. Como não houve entendimento entre as partes, os estabelecimentos Fisio Mais, Fisiocorpus e Movimente se descredenciaram e não atenderão novos pacientes por meio do plano de saúde.
De acordo com os proprietários da clínicas de fisioterapia, a Unimed Itabira informou, em maio, que não concederia reajuste nos valores pagos pelo convênio. A instituição alegou, em ofício, problemas financeiros para tal proposta: “Formulamos essa proposta em virtude da necessidade de uma reestruturação financeira da Unimed Itabira visando nossa sustentabilidade e a continuidade de nossa relação contratual”.
Posteriormente, diante da recusa das clínicas, a Unimed Itabira enviou, em abril, uma proposta de reajuste de 2% — valor que ficou abaixo do IPCA, índice usado nas metas de inflação, dos últimos 12 meses, estipulado em 3,69%. O que também não foi aceito pelos estabelecimentos de fisioterapia. Depois disso, a operadora de plano de saúde não voltou a negociar com as empresas.
“Nós recebemos de R$ 8 a R$ 15 por atendimento dos conveniados da Unimed”, explica Juscelino Carvalho Drumond, fisioterapeuta e proprietário da clínica Fisio Mais.
Curiosamente, na mesma semana em que as clínicas de fisioterapia se descredenciaram da Unimed Itabira, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabeleceu o limite de 6,91% para o reajuste dos planos de saúde individuais e familiares em 2024.
Além dos aspecto financeiro, que inviabiliza o trabalho das clínicas de fisioterapia, a dificuldade em negociar com a Unimed Itabira também pode resultar em problemas de saúde pública — com outros estabelecimentos ficando superlotados, sem conseguir atender os pacientes com qualidade e com possibilidade de sobrecarregar as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
“A deficiência do convênio Unimed vai prejudicar o usuário. Isso é fato. Vai sobrecarregar o sistema. Porque hoje, essas três clínicas, tem um atendimento médio de 400 a 500 pacientes. E esses pacientes vão pra onde?”, questiona Juscelino Drumond.
Também neste ano, o Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) teve dificuldades em negociar a renovação do seu convênio com a Unimed Itabira — que se mostrava, mais uma vez, resistente às negociações de novos valores. Diante da possibilidade do descredenciamento de uma das principais instituições hospitalares do Médio Piracicaba, a operadora de plano de saúde acabou cedendo e firmando um novo acordo com o HNSD.
Pacientes podem ter o tratamento prejudicado
Muitos atendimentos fisioterápicos demandam acompanhamento continuado, a exemplo dos casos de pós-operatório e de situações como acidentes vasculares cerebrais (AVC). Dessa forma, um paciente que já faz o seu tratamento há algum tempo com um determinado profissional pode ter a sua evolução prejudicada com a mudança de metodologia ou por ficar sem ter as devidas sessões.
É justamente esse temor que vem acometendo os pacientes que precisarão mudar de clínica devido às dificuldades de negociação com a Unimed Itabira. “Quando eu vim para cá [Fisio Mais], eu vim meio assim sem esperança porque eu não estava tendo resultado nas outras [clínicas] que eu estava fazendo. Então eu estava só trocando. Eu já iniciei aqui com um aparelho de choque com uma função que eu nunca tinha ouvido falar e foi a primeira vez que eu senti a parte de baixo do meu braço, que eu ainda não tenho a sensibilidade. Aí eu já comecei a despertar. Esses três meses eu faço a terapia aqui, já consegui perceber uma melhoria que eu não tinha percebido”, relata o açougueiro Rafael Santos Braga, de 28 anos, que perdeu o movimento do braço depois de um acidente de moto.
“Eu ter que sair daqui por causa de que a Unimed não está me dando esse amparo, eu fico muito decepcionado. Porque para eu sair de uma clínica excelente para ir para uma mais inferior, aonde eu possa não ter resultado, é muito complicado”, completa Rafael.
Situação parecida vive a aposentada Lilia Valéria de Freitas Ferreira, de 63 anos, que tem a filha, Alice Cristina Ferreira de Freitas, que é cega, e o marido, Ralf Tonkel, em tratamento na Fisio Mais. “Eu estou assustada! A gente paga a Unimed religiosamente todo mês e ficamos com medo, o que está acontecendo? O serviço ofertado é de excelente qualidade, a gente conhece os profissionais e sinceramente eu não sei porque está acontecendo isso. Está se pagando pouco? O que a gente pode fazer? O que a Unimed deve fazer para não perder esse tipo de atendimento? Porque a gente sabe que o serviço particular é complementar ao sistema público”, reflete.
“O sistema público não dá conta de atender todo mundo. A gente gostaria de saber o que está acontecendo com a Unimed Itabira.Prestação de contas mesmo, transparência… Porque se o serviço não está sendo bem remunerado, o que pode ser feito para a clínica não perder esse convênio e para que todos tenham um pagamento dentro do que é justo e não ficar defasado. Essas pessoas precisam de viver também. Então gostaria de ter transparência mesmo da Unimed”, acrescenta Lilia.
O que diz a Unimed Itabira?
No dia 28 de maio, a Unimed Itabira utilizou o seu perfil oficial no Instagram para se pronunciar sobre o impasse com as clínicas e profissionais de fisioterapia da cidade. Na nota, a entidade afirma que “o processo de credenciamento e descredenciamento de prestadores é uma prática comum em planos de saúde e faz parte da dinâmica da gestão. São necessários ajustes constantes para garantir a qualidade e a sustentabilidade dos serviços oferecidos. Nesse sentido, buscamos manter um atendimento contínuo e de excelência aos nossos beneficiários”.
“Reafirmamos nosso compromisso com a saúde e o bem-estar dos clientes e iremos reorganizar nossa rede de atendimento em fisioterapia. Temos outros prestadores de fisioterapia credenciados para oferecer os cuidados necessários com qualidade aos nossos clientes”, completa.
Confira abaixo a íntegra da nota publicada pela Unimed Itabira:
“A Unimed Itabira comunica aos clientes que recebemos um pedido de descredenciamento simultâneo de três prestadores de serviços de fisioterapia. O fato ocorreu devido à falta de acordo na negociação do contrato de prestação de serviços com os mesmos.
Entendemos que essa situação gera preocupações e estamos trabalhando para resolver a questão da melhor maneira possível.
Importante esclarecer que o processo de credenciamento e descredenciamento de prestadores é uma prática comum em planos de saúde e faz parte da dinâmica da gestão. São necessários ajustes constantes para garantir a qualidade e a sustentabilidade dos serviços oferecidos. Nesse sentido, buscamos manter um atendimento contínuo e de excelência aos nossos beneficiários.
Reafirmamos nosso compromisso com a saúde e o bem-estar dos clientes e iremos reorganizar nossa rede de atendimento em fisioterapia. Temos outros prestadores de fisioterapia credenciados para oferecer os cuidados necessários com qualidade aos nossos clientes.
Agradecemos a confiança depositada em nossa cooperativa e nos colocamos à disposição para esclarecer dúvidas e oferecer todo o suporte necessário durante essa transição”.