O verão no Brasil, caracterizado pelo aumento das chuvas e das temperaturas, é o período mais crítico para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya. Essas infecções virais, chamadas de arboviroses, representam uma ameaça à saúde pública, com impactos graves, especialmente em grupos vulneráveis.
Segundo o médico infectologista da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Dr. Pedro Mendes, é essencial adotar medidas de prevenção para evitar o contato com o mosquito e eliminar possíveis criadouros. “As arboviroses têm apresentado um avanço significativo nos últimos anos devido a fatores como saneamento básico precário, crescimento urbano desordenado e o aumento das temperaturas médias”, explica.
O ciclo de vida do Aedes aegypti é diretamente influenciado pelo clima. O período chuvoso, comum no verão, favorece o acúmulo de água limpa em ambientes urbanos, como pneus, caixas d’água e vasos de plantas, criando condições ideais para a reprodução do mosquito. “Além disso, o aumento das temperaturas médias acelera a replicação do vetor, aumentando sua presença em nosso ambiente e, consequentemente, o risco de transmissão das doenças. Em 2024, foram mais de 6,6 milhões casos suspeitos notificados”, afirma o infectologista.
Segundo o médico, evitar o contato com o mosquito é a principal estratégia para prevenir essas doenças. “Os repelentes são aliados importantes nesse processo. Produtos à base de icaridina, DEET e IR3535, aprovados pela Anvisa, são seguros para uso a partir dos dois anos de idade e para gestantes e lactantes, conforme orientações do fabricante. Os repelentes são recomendados para serem aplicados, sobretudo nas áreas expostas e não cobertas pelas vestimentas. É importante destacar também que produtos de uso oral e vitaminas não têm papel estabelecido como repelentes e não são reconhecidos e nem recomendados pela nossa agência de vigilância sanitária, a Anvisa”, orienta o infectologista.
Além disso, repelentes ambientais, como espirais e aparelhos elétricos registrados na Anvisa, podem ser usados para afastar os mosquitos. No entanto, o Dr. Pedro esclarece um mito muito comum. “Produtos naturais à base de citronela, andiroba ou cravo, como velas aromáticas, não possuem comprovação de eficácia e não são recomendados”, relata.
Vacinação contra a dengue
Uma novidade importante no combate à dengue é a vacina Qdenga, licenciada pela Anvisa em 2023 e com recomendação de bula para uso a partir dos 4 até os 60 anos, e administrada em esquema de duas doses com intervalo de três meses.
“O Brasil, numa atitude pioneira, foi o primeiro país do mundo a disponibilizar esta vacina no sistema público de saúde para o público prioritário. Desde 2024, o Programa Nacional de Imunização disponibilizou essa vacina para crianças com idade entre 10 e 14 anos, com o esquema vacinal de duas doses com intervalo de três meses. Porém, devido à limitação na oferta do insumo, foram selecionadas algumas cidades prioritárias para essa vacinação. E, infelizmente, ainda não está amplamente disponível, mas já é uma atitude importante para evoluirmos para a mudança de cenário da arbovirose nos próximos anos”, explica o infectologista.
Quando procurar ajuda médica?
Embora transmitidas pelo mesmo mosquito, Dengue, Zika e Chikungunya apresentam características clínicas distintas. O reconhecimento precoce dos sintomas é fundamental:
- Dengue: Febre alta (38-40ºC), dores musculares, manchas vermelhas no corpo, dor atrás dos olhos, vômitos, sangramentos e queda de pressão arterial. Em casos graves, pode levar a complicações hemorrágicas e óbito.
- Zika: Febre baixa (geralmente abaixo de 38ºC), erupções cutâneas com coceira, conjuntivite não purulenta e inchaço leve nas articulações. Em gestantes, pode causar microcefalia no bebê.
- Chikungunya: Febre alta (acima de 38,5ºC), dores articulares intensas e inflamações nas juntas, que podem persistir por meses e, em casos raros, levar a complicações graves.
Grupos como crianças, gestantes, idosos e pessoas com doenças crônicas (cardíacas, renais e hematológicas) são mais propensos a apresentar formas graves dessas doenças e devem redobrar os cuidados.
De acordo com o profissional, mesmo com todas as medidas de prevenção, é importante saber quando buscar atendimento médico. “Os sinais de alerta incluem: sangramentos nas gengivas ou em outros locais, queda de pressão arterial, tontura, desmaios, dor abdominal intensa e persistente, e vômitos contínuos. Esses sintomas indicam formas graves de dengue ou complicações de outras arboviroses e requerem atendimento imediato”, alerta o profissional da FSFX.
Para o Dr. Pedro Mendes, a luta contra o Aedes aegypti exige um esforço conjunto da população e do poder público. “Prevenir é mais simples e eficaz do que tratar as doenças e suas complicações. Com ações individuais e comunitárias, como eliminar criadouros, usar repelentes e aderir à vacinação, é possível proteger vidas e reduzir a sobrecarga nos serviços de saúde. Faça sua parte, cuide do seu ambiente, proteja sua família e compartilhe essas informações com sua comunidade. Juntos, podemos vencer a batalha contra as arboviroses”, pontua o médico.