Na semana passada falamos da importância da busca do equilíbrio entre a curva da pandemia X curva da economia e durante toda a semana esse foi o principal assunto tanto no cenário internacional quanto aqui no Brasil. Nesta segunda, a Alemanha, maior economia da zona do Euro reabre o comércio e a indústria, e, no dia 4 de maio, reabre as escolas.
Nos EUA, maior economia do mundo, o plano é recomeçar o relaxamento do isolamento social no dia 01 de maio. Essa perspectiva de retomada da economia animou o mercado financeiro internacional e tivemos uma semana de ganhos nas bolsas e de um dólar mais fraco em razão de um maior apetite pelo risco em nível global.
Aqui no Brasil , assim como nos Estados Unidos, a recuperação dos principais índices das bolsas, entre as mínimas da crise e o fechamento de sexta, chega na casa de 30%. Uma recuperação forte e rápida apesar das incertezas que ainda persistem antes da descoberta de um anti viral ou de uma vacina, as duas soluções capazes de domar a fúria de disseminação do vírus e permitir a volta segura da mobilidade de todos os habitantes do planeta.
Por aqui, a crise de saúde tomou contornos políticos e em um país polarizado desde as eleições, discutir possibilidades para o relaxamento social passou a ser escolher entre viver ou morrer… Nada é mais importante do que a vida mas para sobrevivermos é imperativo produzirmos. Em qualquer lugar do mundo civilizado é permitido aos chefes de estado e chefes de governo discutir e procurar meios para a retomada das atividades econômicas. Disponibilizo à vocês um estudo feito pela Cielo sobre os impactos do COVID-19 no varejo brasileiro. Clique aqui, leiam e observem o tamanho do estrago.
E quem é o único agente econômico que em tempos de crise tem que atuar para minorar os estragos? Os governos, em nível federal, estadual e municipal. Mas estamos falando de um país que estava falido e com as contas públicas em total desordem até 2016. E de lá prá cá, a duras penas, vínhamos reorganizando a desordem fiscal e administrando o crescimento da nossa dívida, com o intuito de voltarmos ao superávit fiscal.
A Reforma da Previdência foi um marco para essa virada pois permitiria a economia de cerca de 1 trilhão de reais nos próximos dez anos. Para preservar os mais vulneráveis, os informais , empresas e empregos a conta da COVID-19 já está em R$600 bilhões e pode chegar a R$ 1 trilhão (toda a economia da reforma da previdência).
E aí, eu pergunto a você, se você fosse prefeito, governador ou presidente, executivos da sociedade, que necessitam de arrecadar impostos e contribuições para executar as mais diversas políticas públicas, em especial, educação, saúde e segurança, e, essa arrecadação despencasse em função do isolamento social.
Você optaria em gastar desordenadamente, aumentando a dívida e deixando para pensar no problema lá frente (resposta política imediata) ou você enxergando os erros de um passado recente se lembraria de que a conta é da sociedade e que quanto maior for o zelo e melhor o planejamento para o uso de cada centavo do dinheiro público menor será o sacrifício futuro?
Apesar de não concordar com a forma rebelde do presidente Jair Bolsonaro em mostrar a sua preocupação com a volta da atividade econômica (quebrando os protocolos do isolamento) entendo a sua justa preocupação com o que pode vir depois da crise de saúde que virou econômica e da qual vários políticos querem tirar proveito, poderemos conviver com o caos social dado o caos fiscal das contas públicas.
Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul estão quebrados até hoje e sendo salvos pela União. Nas vésperas de um ano eleitoral, o congresso quer que a União passe um cheque em branco para governadores e prefeitos em nome da crise? Sem nenhum tipo de contrapartida? O presidente Jair Bolsonaro não é Dilma e nem sua equipe econômica liberal comunga com as teorias desenvolvimentistas de Guido Mantega e companhia.
Daí a razão da saída de um competente ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, político do DEM, que só falava no isolamento social. Ele é do mesmo partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do presidente do senado, David Alcolumbre e do médico, governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Rodrigo Maia que também é economista, fala até na possibilidade de emissão de moeda o que poderia trazer de volta o fantasma da hiperinflação depois de 25 anos de Real.
E, finalmente, com a troca no ministério da Saúde o Brasil se junta a países como Alemanha, Estados Unidos, Itália, Espanha, França que entendem a importância do isolamento social mas também a necessidade de sair dele, afinal de contas, como disse o novo ministro da Saúde Nelson Teichi, saúde e economia são complementares.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis