O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência da nicotina presente nos produtos à base de tabaco. Nos mercados nacional e internacional, há uma variedade de itens derivados de tabaco que podem ser usados de diversas formas: fumado, inalado, aspirado, mascado ou absorvido pela mucosa oral. Todos contêm nicotina, causam dependência e aumentam o risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (DNCT), diversos tipos de câncer e outras enfermidades.
Em virtude de ser um problema de saúde pública, em 1987, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 31 de maio como o Dia Mundial Sem Tabaco, para alertar a população sobre o risco das inúmeras doenças ocasionadas pela substância, além do alto índice de mortalidade em todo o mundo.
Em 2024, para marcar a data, a OMS elegeu o tema “Proteção das crianças contra a interferência da indústria do tabaco”, com o intuito de assegurar o direito à saúde de crianças, adolescentes e jovens.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) lançou a campanha “Tabagismo: cancele essa ideia”, para alertar esse público quanto aos malefícios do uso de derivados do tabaco, em especial, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), popularmente chamados de cigarros eletrônicos ou vape.
A campanha busca conscientizar a população infantil e jovem sobre os riscos do tabaco e incentivar ações educativas, nas escolas e comunidades, que capacitem também pais e responsáveis a tomarem decisões informadas em relação ao tabagismo.
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) de 2019, entre os estudantes de 13 a 17 anos, 22,5% dos meninos e 22,6% das meninas já haviam experimentado cigarro alguma vez na vida.
A mesma pesquisa apontou que, em Belo Horizonte, 15% dos alunos fumaram pela primeira vez com 13 anos ou menos e 8,2% fumaram algum dia nos 30 dias anteriores à pesquisa, percentual que foi de 4,4% em 2012 e 4,5% em 2015.
“Adolescentes são mais vulneráveis à nicotina, substância presente nos produtos de tabaco, pelo fato de o cérebro não estar completamente desenvolvido. Por isso, é importante alertá-los quanto aos malefícios do uso desses produtos, especialmente os cigarros eletrônicos, que estão amplamente disseminados nessa faixa etária”, ressalta a coordenadora de Programas de Promoção da Saúde e Controle do Tabagismo da SES-MG, Nayara Resende.
Influência
“Na época era bonito fumar, todo mundo fumava, então acabei fumando por influência de amigos e da turma. Eu sentia que fazia mal, mas tinha dificuldade de parar. Quando consegui ficar dois dias sem fumar, não fumei mais”, narra o o empresário Roberto dos Santos Corrêas.
Ele começou a fumar aos 11 anos de idade e parou com 25. Hoje, aos 65 anos, ele está certo de que isso foi uma das melhores coisas que fez por sua saúde. “Não sinto falta nenhum dia”, acrescenta.
A administradora Bruna Piassi, de 42 anos, também começou a fumar por influência dos colegas, com 14 anos, e só largou o cigarro aos 36. “Eu via meus amigos na porta da escola fumando e aquilo era super descolado, era super legal ver todo mundo fumando ali, como se fosse um amadurecimento”, conta.
Bruna buscou se livrar da dependência do tabaco quando começou a apresentar problemas de saúde. “Várias vezes eu tentei parar de fumar, sem sucesso. Mas já não me sentia bem. Toda vez que eu fumava, sentia queimação no estômago, um aumento do suco gástrico, então acabei parando por conta disso”.
“O que eu não sabia é que três anos depois, aos 39, eu teria um tumor no útero e o fato de já ter parado de fumar me ajudou muito naquela ocasião, pois eu realmente precisava ficar longe do cigarro”, lembra a administradora.
Além dos malefícios à saúde, a iniciação precoce ao fumo é uma porta para o uso de outras substâncias, como álcool e drogas ilícitas. Adolescentes fumantes, quando comparados aos não fumantes, consomem três vezes mais álcool, usam oito vezes mais maconha e 22 vezes mais cocaína.
Cigarros eletrônicos
Os cigarros eletrônicos são equipamentos à bateria utilizados para fumar ou vaporar e são apresentados em diferentes modelos e sistemas. A maioria contém nicotina, seja por meio líquido ou do próprio tabaco, apresentando substâncias severamente tóxicas.
Apesar da comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde 2009, eles são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou, ainda, podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal.
O uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de consumo regular do cigarro. Por conterem nicotina, os cigarros eletrônicos podem levar à dependência dessa substância e à procura por outros produtos de tabaco.
“As medidas de controle ao cigarro eletrônico englobam a proibição da comercialização, importação e propaganda desses produtos no Brasil, assim como a promoção ações educativas que visam informar a população em geral, mais especificamente crianças e jovens, sobre os malefícios à saúde”, reforça a coordenadora Nayara Resende.
Em 2019, os Estados Unidos começaram a noticiar o surgimento de casos de uma doença pulmonar grave relacionada ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar. O crescimento do número de casos foi reconhecido como epidemia e a doença nomeada com a sigla Evali (Electronic or Vaping Acute Lung Injury).
O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatou, até dezembro de 2019, 2.291 casos de pessoas hospitalizadas com Evali, com confirmação de 48 mortes. No Brasil, até o início de dezembro de 2019, foram relatados três casos suspeitos da doença, sendo que todas as pessoas identificadas fizeram uso de cigarros eletrônicos.
Durante a manipulação de cartuchos e líquidos dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) também pode haver intoxicação e, devido às baterias, há risco de explosões que podem causar ferimentos e queimaduras leves ou graves em seus usuários.