A semana passada foi marcada pelo aumento da desconfiança do mercado financeiro local e global em relação à estabilidade fiscal do País. Essa desconfiança teve início quando o governo decidiu ampliar a base e aumentar o valor do benefício do Bolsa Família , criando o seu próprio programa de renda mínima que a princípio se chamaria Renda Brasil e agora foi rebatizado de Renda Cidadã.
Antes de prosseguirmos na nossa análise temos que incluir na prosa a popularidade recorde alcançada pelo governo de Jair Bolsonaro, e que tem nas ações implementadas durante a pandemia, dentre elas o auxílio emergencial, as principais causas do aumento do índice de aprovação do Presidente. O medo do mercado reside na possibilidade da volta do populismo irresponsável através da contabilidade criativa praticada no desgoverno de Dilma Roussef e que levou o País a pior crise econômica da sua história com a retração do PIB de -3,8% em 2015 e de – 3,6% em 2016.
O que vivemos naquela época pode ser pior do que o que estamos vivendo agora com a crise do COVID-19, dada a intensidade e duração da recessão, e, a demora de recuperação da economia.O stress do mercado não está na criação do programa e nem no aumento da base e do valor do benefício mas sim na forma de financiamento. As fontes de recursos deveriam ser claras e definitivas e não penduricalhos em verbas já destinadas à educação ( no caso o FUNDEB) e muito menos ligadas ao adiamento do pagamento de precatórios cujo o valor é variável e que se constituem em uma obrigação da União junto aos seus credores.
O uso dos recursos dos precatórios foi até avaliado pelo economista Carlos Kawall, como calote, que iria além do efeito pedaladas que custou o mandato da então presidente Dilma Roussef. Depois do anúncio do programa Renda Cidadã e das fontes de financiamento do mesmo , feito na segunda feira com pompa e circunstância, em coletiva à imprensa , depois de uma mega reunião no Palácio da Alvorada, o mercado mergulhou nas incertezas sobre o cumprimento do teto de gastos e sobre a possibilidade do Presidente Bolsonaro flertar com o populismo irresponsável e consequentemente adotar artifícios contábeis de olho no capital eleitoral.
Teremos , de novo, uma semana tensa e que será marcada pelo desenrolar da batalha entre os políticos populistas e seus admiradores dentro da equipe de Bolsonaro e a equipe econômica coesa de Paulo Guedes que já deixou claro que não existe plano A, B ou C ,mas sim ,o plano único da responsabilidade fiscal sem a qual todo o esforço feito até aqui ,desde a posse de Michel Temer, desaparecerá no ar … A continuidade das reformas e o foco no fiscal são as condições necessárias para o controle da inflação, para a manutenção da taxa SELIC nos menores patamares da história, de uma taxa de câmbio em equilíbrio mas em um nível que devolve competitividade para a nossa indústria e margens para os nossos exportadores
Tudo o que eu estou dizendo aqui está está escrito com todas as letras na última ata do COPOM e no Relatório Trimestral de Inflação de setembro, que foi o tema da nossa última coluna. Falei aqui sobre o FORWARD GUIDANCE que poderá deixar de existir de um dia para o outro ,em uma canetada mal dada, basta que o governo e o Congresso abracem o populismo e a contabilidade criativa para que toda esta mudança estrutural sem precedentes na história do Brasil seja destruída.
Sem responsabilidade fiscal e sem credibilidade , a taxa de juros voltará a subir ( o juro é o prêmio de risco de um País) e junto com ela a inflação e o dólar tornando o ambiente econômico e o futuro do país imprevisíveis… Temos que reconhecer e agradecer a competência dessa equipe econômica que atravessou a crise tomando medidas rápidas e eficazes provendo recursos e programas para a proteção da saúde , dos vulneráveis, do emprego e das empresas de forma eficiente e que garantiu liquidez e segurança para o bom funcionamento do mercado financeiro.
Quem duvidar do que eu estou dizendo , por favor, procure saber como está a economia da Argentina, da Bolívia, da Venezuela, do Chile, da Colômbia, do Peru e mesmo de grandes economias da zona do EURO. Que vença o bom senso. Sem fiscal, não tem social!!!!!! Juízo Presidente, Força Paulo Guedes !!!!
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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