Na última terça-feira (7), vereadores de Itabira voltaram a exigir a exoneração da atual secretária de Saúde, Clarissa Lages, durante a reunião ordinária da Câmara. Desta vez, no entanto, as críticas não vieram de forma isolada. Praticamente todo o bloco de oposição da Casa pediu a cabeça da líder da pasta, uma das mais importantes do município. Tudo sob o silêncio da base governista da Câmara.
O primeiro a puxar a fila foi o presidente do Legislativo, Heraldo Noronha Rodrigues (PTB). O petebista citou um caso presenciado por ele, nesta semana, no qual acusa o Samu de negligenciar atendimento a uma mulher, com câncer, que sofria de fortes dores abdominais. Após a divulgação do caso pelo jornal Diário de Itabira, diz Heraldo, profissionais do Samu, do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) e da própria Secretaria de Saúde entraram em contato com ele prometendo providências. Postura bem diferente da que seria adotada por Clarissa Lages, enfatiza o presidente da Câmara.
“Então a gente vê a atenção deles com a saúde, e a diferença deles com a secretária de saúde atual, Clarissa Lages, que está de férias. Se fosse ela, não tinha sequer mencionado, falado nada. A gente vê a atenção destes que estão aí e estão tentando trabalhar por uma saúde melhor em Itabira”, ressalta.
Um dos principais críticos à secretária, Luciano Gonçalves dos Reis “Sobrinho” fez coro às queixas de Heraldo. “Por isso semana passada pedi a exoneração da secretária de Saúde. São tantas coisas que já vem acontecendo aqui em nosso município. Faltam médicos no PSF municipal e remédios nas farmácias públicas municipais, há vários exames na fila, motoristas que prestam serviço à saúde diariamente nessa BR-381 estavam há 90 dias sem receber até semana passada. Então como vamos ficar batendo palma para uma secretária de saúde?”, questionou Luciano, que ainda disse:
“Agora vem o senhor me falar que esteve no Samu, e tinha equipe lá. Não podem nem falar que estavam ocupados em outro atendimento, porque não estavam. Eles não quiseram fazer o atendimento, a não ser que eu tenha entendido errado”.
“Não quiseram fazer o atendimento e falaram para a paciente procurar um uber ou então qualquer meio para chegar ao hospital”, completou Heraldo.
Na sequência, o presidente da Câmara solicitou a Marco Antônio uma secretária de Saúde tão comprometida quanto Fabiana Lima, atual substituta de Clarissa durante suas férias.
“E a gente está vendo a secretária que está hoje, Fabiana, a preocupação dela em colocar a casa em dia. Tinha que ter pessoas como a Fabiana, pessoas preocupadas com a saúde. A Fabiana está lá de segunda a sexta-feira, se ligar a qualquer hora ela atende. Se a gente ligar na Clarissa, ela retorna depois de um mês e olhe lá. Queremos uma secretária que esteja preocupada com a saúde itabirana, como a Fabiana”.
Em apoio ao discurso de Heraldo, Luciano Sobrinho sugeriu a efetivação da servidora. “A Fabiana é uma pessoa educadíssima, competente, mora em Itabira. Que tal uma boa sugestão para substituir a atual secretária de saúde, que não mora aqui? Como vai resolver os problemas da cidade? Como a secretária de saúde vai no pronto-socorro num sábado à noite, domingo de madrugada, para ver o que está acontecendo? Não mora em Itabira! Como o prefeito tem coragem de colocar uma forasteira para comandar uma pasta tão complexa como a da Saúde?”.
Mais pancadas
Ao comentar o tema, Sidney Marques Vitalino Guimarães “do Salão” (PTB) mencionou um caso, apurado por seu gabinete, de possível negligência na morte prematura de um bebê no Hospital Municipal Carlos Chagas (HMCC). Na semana passada, o vereador já havia criticado o atendimento oferecido hoje a pacientes oncológicos em Itabira.
Sidney do Salão relembrou, ainda, medidas prometidas pela gestão Marco Antônio Lage para o setor, e que até então mostraram pouca efetividade.
“Temos uma secretaria onde nada funciona. Inclusive, a regionalização do Samu chegou a essa Casa em caráter de urgência, tivemos que votar às pressas, e até hoje não saiu do papel. Assim como o ICISMEP (Instituição de Cooperação Intermunicipal do Médio Paraopeba), que, como disse o Luciano, ao invés do número de exames aumentar, diminuiu! E as cirurgias a cada dia mais atrasadas, tem gente esperando há anos”.
“E a secretária ninguém dá notícia dela, ninguém sabe por onde ela tá andando. Só quando o bicho pega que ela manda uma nota para a imprensa, grava um vídeo rapidinho de três minutos, e tudo continua numa boa. Mas estamos falando aqui da saúde da população itabirana. Então já passou da hora: secretária de Saúde, fora! Não queremos a senhora aqui mais! Volte para a sua cidade, arrume suas malas, vai dar suas aulas nas faculdades de Belo Horizonte, siga sua vida. Mas deixa nossa população com uma pessoa de responsabilidade, que realmente dê o suporte à saúde itabirana”, completou Sidney, endereçando a exigência ao médico e vice-prefeito Marco Antônio Gomes, que hoje ocupa a cadeira de Marco Antônio Lage enquanto este cumpre agenda na Espanha.
Problema estrutural
Por fim, Rosilene Félix (MDB), a primeira a pedir a exoneração de Clarissa, na semana passada, frisou todas as falhas ocorridas no caso relatado por Sidney. Sem vilanizar, no entanto, os profissionais da atenção primária.
“É muito triste pra uma mãe perder seu bebê, e me solidarizo aqui publicamente com esta jovem, vivendo com tristeza um momento que deveria ser de felicidade. E o parto não começa no parto, começa na atenção primária, desde o momento que esta jovem entrou no PSF. Eles acompanharam todo seu período de gestação e sabiam que era uma gravidez de risco. Mesmo assim, ela foi negligenciada, sofrendo várias violências obstétricas. Não podemos ficar passando pano para os atendimentos, sabemos que os profissionais estão presentes nos postos de saúde e no hospital, mas que as condições de trabalho precisam ser melhoradas. E precisamos ter uma secretária de saúde para dar o comando”.
Assim como na semana passada, Rose afirmou que a culpa por esse e outros erros é de Clarissa Lages. A vereadora salientou, ainda, que há relatos de insatisfação entre os próprios servidores da Saúde.
“O pessoal que está lá na ponta às vezes sofre as consequências porque a corda arrebenta na mão deles. Mas volto a afirmar aqui que o comando precisa ser claro e coerente. Os pacientes que chegam ao hospital e aos postos de saúde precisam de um atendimento humanizado, mas os profissionais também precisam do devido suporte para realizar o serviço de cada dia com a dedicação exigida. Neste período de oitivas com os servidores, ouvimos relatos aqui, desde as agentes de saúde aos técnicos de enfermagem, que as condições de trabalho não estão boas e o relacionamento não está bom. Então é preciso tomar providências urgentes com relação à Saúde de Itabira. Por que quantas pessoas mais vamos esperar morrer? Quantos bebês, quantas vidas serão perdidas?”.
A reportagem da DeFato questionou a Prefeitura de Itabira se há chances de Clarissa Lages ser exonerada; como o trabalho da pasta é avaliado pela gestão municipal; como a gestão lida com os períodos ausentes da secretária e se a Prefeitura reconhece todos os problemas citados pelos vereadores. Em um retorno sucinto e enfático, a gestão municipal garantiu que a secretária não será exonerada.