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Tipos sanguíneos podem influenciar em casos graves de Covid-19

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Foto: Adair Gomez/Agência Minas

Uma equipe de cientistas decidiu observar como proteínas do coronavírus interagem com proteínas de células humanas antes de infectá-las. Assim, no último mês, um questionamento voltou à tona: vírus que provoca a Covid-19 pode ser mais perigoso para algum tipo sanguíneo?

Uma pesquisa publicada, em março, na revista científica “Blood Advances” respondeu que sim. Para os cientistas que a encabeçaram, o coronavírus mostra uma “forte preferência” em se ligar a proteínas que só o tipo sanguíneo A tem, particularmente aquelas presentes nas células respiratórias nos pulmões.

Segundos os autores, membros das faculdades de medicina de Harvard e Emory (EUA), o experimento demonstrou “conexão direta entre o tipo sanguíneo A e o SARS-CoV-2”. Porém, esses resultados podem ser preliminares e não há consenso sobre a associação entre tipos sanguíneos e Covid-19.

O interesse em entender melhor como o coronavírus reage, dependendo do tipo sanguíneo, se baseia no fato de que algumas doenças demonstraram ser influenciadas por isso. Estudos já apontaram, por exemplo, relação de vulnerabilidade ou proteção de certos tipos sanguíneos com doenças como hepatite B e AIDS.

Há, ainda, outros estudos que comprovam que o Sars-Cov — “parente” do Sars-CoV-2 (causador da Covid-19) — encontrava mais resistência em desenvolver a doença em pessoas com sangue tipo O. Essa teoria foi reforçada pelo próprio estudo na “Blood Advances” do mês passad.

Resultados diferentes

Desde o começo da pandemia, em 2020, dezenas de estudos sobre o assunto foram publicados pelo mundo. Embora alguns deles tenham abordado também o fator Rh — positivo ou negativo, ou o + ou —, a maioria priorizou apenas o chamado sistema ABO.

Um trabalho de médicos atuando em Boston (EUA), publicado em julho de 2020 na revista científica “Annals of Hematology”, confirmou que pessoas com tipos sanguíneos B e AB tinham maior probabilidade de receber um teste positivo para coronavírus, enquanto os com tipo O tinham menor probabilidade.

Em outubro de 2020, um novo estudo, dessa vez dinamarques, mostrou que o tipo O teve um efeito de proteção contra a infecção por Covid-19. A pesquisa comparou a distribuição percentual por tipo sanguíneo de um grupo de 7.422 pessoas com a doença confirmada, com dados de referência de pessoas não testadas. Entre os infectados, 38% eram do grupo sanguíneo O. Na população em geral, 42% tinham o mesmo tipo de sangue.

No Brasil

Pesquisadores e médicos brasileiros também estão buscando relacionar o tipo sanguíneo com o Covid-19. O médico Gil de Santis, hemoterapeuta do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, diz ter dados de que há mais pessoas com tipo sanguíneo A entre os pacientes mais graves.

Infelizmente, no Brasil, ainda não há dados atualizados ou consolidados da divisão sanguínea no país. Convenciona-se que a maior parcela da população brasileira é do tipo O, seguido do A (ambos entre 40-50% da população), B e AB (ambos com menos de 10%).

A equipe de Ribeirão Preto, para embasar sua teoria, comparou o percentual por tipo sanguíneo em um grupo de 72 pacientes com Covid-19 grave e outro com 160 pessoas em um grupo controle, da população local. O tipo A está mais presente no grupo de pacientes, 51% versus 30% na população. Já o tipo O se mostrou menos presente entre os doentes graves (31,9% versus 48% no grupo controle).

Ser do tipo A significou um risco 2,5 vezes maior de gravidade, na comparação com O. Os resultados completos ainda serão publicados em uma revista científica estrangeira. E para quem desconfia, após tantos dados favoráveis ao tipo sanguíneo O, Gil de Santis afirma que há indícios de que se trata de um beneficiado na seleção natural. “O tipo O parece ser um mutante que deu certo, digamos assim.”
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